sábado, 13 de agosto de 2011

Para o dia de hoje

Ausência
Carlos Drummond de Andrade


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

sábado, 6 de agosto de 2011

O apreço do avesso

São Paulo não é tão assustadora assim. Da janela do hotel, é uma cidade gráfica em movimento. Mas se fecharmos os olhos, dá pra imaginar o que acontece porque a trilha sonora paulistana é constante e narrativa.
Foram quatro dias de um congresso que me possibilitou conhecer um tanto enorme de pessoas e de pesquisas. Apesar de pegar horários de pico para ir e voltar da ECA (Escola de Comunicação e Artes), não fiquei nem um momento encurralada na marginal - nem tensa. Bem ao contrário. Ficava admirando a beleza da cidade (São Paulo está linda linda) e entusiasmada com a intensidade e as possibilidades de tudo lá. Acho que fiz as pazes com a minha capital. Sim, porque posso até morar em Londrina, mas minha capital sempre será Sampa.

Na USP, encontrei um espaço para debate e para deslumbramento. O prédio da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), do Artigas, é absurdamente lindo – todo em concreto, cheio de vãos livres e jardins belíssimos. O anfiteatro, então... Foi lá que tivemos grande parte das discussões que me situaram melhor na área de comunicação dos países ibero-americanos.

Grande parte dos pesquisadores que foram, além de brasileiros, eram da Espanha, Portugal, México, Argentina, Colômbia, Chile, Bolívia, Equador... Quando você estava acostumando com o espanhol predominante, vinha um luso-sotaque que te quebrava as pernas. Mas foi interessante ver como a língua não é barreira. O palestrante argentino ouvia a pergunta/comentário em português e respondia em sua língua... Integr-ação de verdade.

Claro que tem muita gente que participa apenas para engordar o currículo. Pra mim, trouxe clarezas, motivações e inquietações que me empurrarão pra frente e me levarão de volta a doce São Paulo. É que quem vem de outro sonho feliz de verdade aprende depressa a chamá-la de uma graaande cidade...

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Na labuta

Estou em São Paulo para apresentar parte da minha pesquisa sobre o Pasquim no 1º. Confibercom (Congresso Mundial de Comunicação Ibero-Americano - http://www.confibercom.org/). Ao sentar, ouvi um “Márcia Buzalaf”? Era um ex-aluno da Unesp, o Pedro, de uma turma muito amiga que tive, e que cresceu muito! Logo depois, dei de cara com Dino - foi meu professor, meu chefe de departamento e é amigo-conselhador acadêmico até hoje. Mais querido, difícil.

Conversei com Célio Losnak, meu professor de História do Brasil na graduação, em Bauru, e orientando da mesma orientadora que eu no doutorado. Assistiu minha apresentação sobre a censura civil-militar – ele, que me inspirou a pesquisar este período no primeiro ano da faculdade, em 1994! Voltamos juntos de carona com Ricardo Alexino, que foi meu professor e colega de departamento na Unesp – além de um cara admirável que agora está na USP. Fora o Murilo, a Célia, a Ana Sílvia e toda a patota do campus de Bauru.

Além dos baurulinos, encontrei alguns da UEL e conheci mais um tanto de gente da Argentina, México, Espanha, Piauí, Minas, Curitiba... Acho que fui feita pra isso: estudar, trocar, aprender, crescer, conhecer. Tive a certeza de que, para mim, nada melhor do que ser professora acadêmica de uma universidade pública.

É mais do que eu imaginava, e menos do que eu almejava.

Será que é possível ser tão feliz com algo que chamamos de trabalho?

domingo, 17 de julho de 2011

Um ano sem meu pai





E ainda me sinto estranha...
Desenvolvi uma certa invejinha de quem tem pai vivo. Tornei-me uma ariana mais centralizada e responsável. Dei de cuidar do meu carro com mais carinho (era uma obsessão do meu pai). E passei a comprar coisas beges – cor predileta dele...

Diferentemente dos domingos em Londrina, no lugar de ir ao Mercadão Shangri-lá comprar os jornais, hoje cedo fui à missa para prestar uma homenagem ao meu pai. Assim que começou o ritual, as tais intenções foram lidas e eu caí no choro ao ouvir o que eu mesma havia escrito: 1 ano de falecimento de Said Buzalaf. E o caos começou, porque a linda paróquia da Higienópolis com a JK virou praticamente uma festa, cheia de músicas, power point´s religiosos e crianças que preferiam estar em um parquinho. E eu não conseguindo segurar os soluços... Os primeiros 15 minutos da missa foram assim, festivos para os outros, e emocionados para mim.

Quando finalmente o padre começou a falar – e eu esperando um belo salmo pela frente – o choro foi dando lugar à indignação. O discurso enveredou para as ações da Igreja Católica na Índia, que salvam meninas que seriam mortas pelos seus próprios pais porque, segundo o padre, a segunda filha mulher deve ser afogada e enterrada no jardim da casa. Isso para os hindus, claro – os indianos católicos são pessoas do bem, alertou o sacerdote.

Levantei e fui embora. Com cara de brava, olhar inchado e a certeza de que minha melhor homenagem ao meu pai é no dia a dia, honrando a honestidade que ele sempre me ensinou a ter.



ps. a foto acima deve ter sido a última do meu pai. Foi tirada em 2009 pelo Schubert, vizinho do predinho, e enviada pra mim há uns dois meses.


sábado, 16 de julho de 2011

PY!


Saí de Londrina numa quarta para, dois dias depois, ir visitar Vanessa & Cia no Paraguai. Ao chegar em Bauru, um aviso da Tam sobre mudança do meu voo de volta: no lugar de pegar, em Guarulhos mesmo, um avião para o interior paulista, teria de me deslocar até Congonhas. Beleza – probleminha menor. Na quinta, sim, veio a bomba: Pantanal cancelou os voos saindo de Bauru. A informante me disse que eles teriam uma van, mas que aí não daria certo com a outra voada até Assunção. Liguei para os amigos/motoristas, mas nenhum podia me levar mais cedo pro aeroporto. Reservei, por via das dúvidas, os voos da noite. Mas fui para o site do Expresso de Prata e, ligando para a Vanessa, chegamos ao melhor: ir de busão até Barra Funda, as 5h da matina, num frio da porra (não tem outra expressão para o congelamento pelo qual passei), e depois com Luciano, taxista gente boa, para Guarulhos e pronto. Check in, cafezinho, cigarrinho e embarque. Indolor e prazeroso.

Havia 10 anos que eu não saía do Brasil. Não sabia que, agora, tem um DutyFree InFlight. A aeromoça, depois de servido o almoço, passa com um catálogo de perfumes, cosméticos e até cigarros/charutos/cachimbos. Depois, vem com aquele carrinho, entregando produtos, passando o cartão de crédito...

Desci em Assunção no final da tarde, e Neri (taxista amigo de Vanessa) estava me aguardando com uma plaquinha: Márcia Neme. Uma simpatia o cara – já foi me explicando tudo da cidade e passando um pouco do sentimento que depois só se confirmaria: paraguaios são nacionalistas – e um tanto ressentidos com o Brasil.

Chegar na Van foi mágico. Somos amigas desde nossos 14 anos – sim, são 23 anos de amizade que teimou mesmo na distância, e que hoje, talvez, seja mais forte do que nunca. Diplomata, mora em Assunção há dois anos com Fernando, antropólogo que merece minha amiga, e seus dois filhotes: Caio e Nuno. Não nos víamos há dois anos e não convivíamos assim desde Londres, quando ela foi me visitar, em 2001...

Assim que encontrei Vanessa, foi como se estivéssemos sempre juntas. O contato com os dois guris mais lindos foi crescendo a cada momento. Eles são adoráveis, admiráveis, energéticos e carinhosos de doer no olhar. Me apaixonei de cara pelos dois. Com 3 aninhos, transpiram emoção.

Eu e Van saímos na sexta à noite, like old friends do. Uma volta no centro antigo, liiiindo, cheio de prédios históricos e muitas bandeiras e homenagens aos Bicentenário da Libertação do Paraguai. Eu amei. Cidade cheia de árvores, de parques, de água, de gente simpática, de cafés e vinhos... Bom, Van já havia programado de irmos a um restaurante/bar charmoso, cheio de mesas ao céu aberto – e o garçom ainda coloca um carvão quente para aquecer nossos pés. Beliscamos, conversamos horrores e voltamos felizes para curtir o sábado de manhã – depois, estaríamos só Van, eu e os dois meninos!

Acordamos e fomos para um café, o El Café de Acá, charmosíssimo e com uma tapioca paraguaia com queijo divina. Senti que o sábado de manhã, em Assunção, também é gostoso. Comprinhas de supermercado e voltamos para o delicioso apartamento da Vanessa.

Fui fazer babaganush com os meninos de ajudantes. Uma diversão só. E foi assim no domingo e na segunda, quando começou a terminar minha viagem.

Algumas certezas desta voada:

- amiga de verdade é amiga de verdade. E não é pra todo mundo, não. Precisa se esforçar, estar junto, lembrar das histórias e construir novas. E vale muito a pena – como diz Van, amigos são o mel da vida. E eu me sinto abençoada e com uma amizade ainda mais viva.

- brasileiros só pensam em compras no Paraguai. E me pareceu ser bem mais do que isso. Assunção é pequena para uma capital, tem problemas de trânsito e de direitos básicos, mas parece melhorar e ter uma força escondida. Diferentemente da experiência que tive quando fui para Buenos Aires, os paraguaios logo reconheciam que eu era brasileira e facilitavam o portunhol pra mim. Simpatissíssimos, mas nada subalternos. Quando o avião está sobrevoando o país, você vê o tanto de rio que tem lá. Desenvolvimento concentrado e reprimido?

- os filhos de uma grande amiga são meio seus sobrinhos. O vínculo é muito forte, e parece que os bacuris latino-americanos Caio e Nuno perceberam. Aproveitei o máximo que pude desta continuidade da minha amiga. Só faltou o Fernando, pra dividir todas as pequenas enormes emoções que passamos.

- para programar viagens que envolvam aeroportos brasileiros, prepare-se. Primeiro: deixe as conexões mais demoradas para a ida, quando você tem estoque maior de paciência. Na volta, tudo se complica com malas mais pesadas e a falta de sono dos voos das madrugadas. Pedir ajuda para quem sempre viaja é a melhor dica.

- comprei um jornal argentino, chamado N (com til), ou Enie, semanal, só de cultura. Incrível. E mais dois outros paraguaios e argentinos diários. O Enie eu vou seguir: http://www.revistaenie.clarin.com/. Detalhe: todos os jornais – entre paraguaios, argentinos e uruguaios - que vi eram no formato berliner. Nenhum standard.

- o pôr-do-sol de lá é dos melhores, equiparando-se ao de Bauru. Vermelho e colorido, com o azul da noite caindo na sequência...

- temos mais a conhecer aqui, do nosso ladinho, do que sonha nossa vã hipocrisia.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Simonei



Estou há pouco mais de dois anos morando em Londrina e aprendi que, assim que o frio chega, o festival de festivais começa por aqui. Teatro, Teatro do Oprimido, Música, Dança, Balé, Literatura, Cinema, Curtas... Tudo é motivo pra festival. Um dos principais é o Filo que, nos seus de 43 anos de teatro, traz também o Cabaré, com shows que já fizeram história na terra vermelha.

Pura falta de sorte minha foi que, nas últimas duas edições, por falta de grana ou sei lá o quê, não ocorria o Cabaré. Eu até achava que se grafava Cabaret, tamanha ignorância. Mas este ano eu debutei, em grande estilo, na parte musical do Filo.

Infelizmente, eu não estaria aqui em boa parte dos shows - veio Erasmo Carlos, Arnaldo Antunes, Nando Reis e Eduardo Dusek. Não pestanejei: comprei ingresso para os dois que poderia - o Baile do Simonal e o Martinho da Vila. Este último, claro, foi a maior alegria pra minha mãe, que veio de Bauru para ver o samba do seu grande amor. O show foi no sábado, e muita gente não gostou. De duas em duas, três em três músicas, Martinho saia do palco e deixava seus filhos cantando. Nada contra, mas frustrou. Norma foi taxativa: adorou vê-lo, mas o prefere em DVD!

Já os filhos do Simonal foram escolhidos pela simples afinidade com algumas músicas e pela história da época da ditadura. Nada (de) mais. E fui com o jornalista Rogério Fischer que, além de boa gente, é divertido ao extremo, conhece muitas pessoas e tem sempre boas histórias pra contar. Até por estes motivos, a noite estava garantida e não criei expectativa alguma sobre o show em si.

Mas eis que o galpão do IBC (antigo Instituto Brasileiro do Café), que abrigou o Cabaré, era espaçoso, belíssimo, decorado, perfeito, histórico. Pessoas diferentes conversando, rindo, dançando... Antes dos Simonais entrarem no palco, música de boa qualidade rolando, vários tipos de bebida, comidinhas, bancos pra gente sentar. Mas foi impossível chegar perto de um deles porque, quando o show começou, ninguém ficou parado.

Com uma energia incrível, Max de Castro e Simoninha levantaram uma turma já animada e cantaram as melhores do pai. Em um determinado momento, acho que na música Nem Vem Que Não Tem, percebi que não tinha um ser vivo quieto por ali... Eu dancei do início ao fim. E me emocionei com Sá Marina, tão linda na voz dos meninos. De presente, encontrei um aluno da UEL, o Roger, que do alto de seus 20 e poucos anos, conhecia todas as letras... Percebi que Simonal é atemporal.

Quem quiser saber mais, vale a pena assistir o documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei, integralmente disponível no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=VQWEjWE0LcY). Para além das polêmicas dele com o Pasquim, fica claro que Simonal foi um fenômeno de massa na época em que os meios de comunicação adentravam os meandros da indústria cultural.



E é que foi justamente este efeito que os Simonais tiveram sobre mim? Depois do show, comprei um CD e um DVD, movimentando a tal indústria. Felizmente, ando aprendendo (principalmente com meus alunos) a usar melhor a internet e, pelo menos o documentário, veio de forma democrática via rede.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O primeiro aniversário



Minha Milena completou 39 aninhos hoje. Teve sorte, a pestinha: foi o dia da festa junina da Apae e, se bem conheço minha irmã, ela deve ter achado que o arraiá todo era pra ela. Pelo que soube à distância, o dia foi delicioso, com direito a visitas queridas e presentinhos que ela adora. Qualquer embrulho a agrada.
Foi o primeiro aniversário dela longe do pai e, depois de quase um ano, ainda não sei como minha bonequinha lida com a morte. Há umas três semanas, ela chamou todo mundo na casa dizendo que o Said estava no quarto. Depois, foi para a porta de entrada e ficou olhando pelo vidro, dizendo: “Entra, pai”.
Ele era extremamente presente da vida da Mica. Quando fui do hospital para a casa da minha mãe buscar a roupa que vestiria meu pai em seu velório, ela veio sedenta para cima de mim porque percebia o clima estranho dos últimos dias. Minha tristeza era tamanha que não consegui lidar com a dor da minha irmã, tão confusa. E a confusão continuou; a tadica ficou meses sem dormir direito e chamando o pai pra jantar. Depois da morte, Mica ficou um pouco mais mimada, um pouco mais birrenta e um tanto mais mandona.
Para mim, Milena se tornou ainda mais importante. Para ela, a vida se tornou mais triste, tenho certeza.



Ps. a foto é dos poucos registros dos dois sozinhos. Foi tirada pelo Mário, meu ex-marido, há exatos 10 anos, quando eu ainda estava em Londres. Detalhe é o cigarrinho de palha do Said. Como herdei a "latinha" dele, vou fazer um, em homenagem à saúde da minha irmã.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Diversificando



Começo, amanhã, aulas para terminar o semestre da disciplina Extensão Rural para o pessoal de Agronomia da UEL. A afinidade com o tema já vem de tempos: fui responsável por fazer a página Rural do JC de Bauru por quase dois anos, fiz uma monografia sobre o MST no mestrado e dei aula de Comunicação Rural na Unesp de Bauru, para as turmas de Jornalismo, RP e Rádio e Tv.

Lidar com os futuros agrônomos (no masculino porque, pelo que sei, a maioria é homem) deveria gerar medos. Talvez seja o salto mais alto que já dei em termos de “interdisciplinaridade”. Já trabalhei com turmas de Relações Internacionais e em todas as áreas da Comunicação. A única que me trouxe problemas foi Publicidade e Propaganda, na Unip de Bauru, acho que em 2008. Mas o calo não era a turma ou o curso – era uma aluna afetada.

Agrônomos, pelo que sei, tem uma área de atuação bem ampla e diversificada – mas em algumas universidades predomina o clássico filho de fazendeiro. E eu jornaleira, vegetariana, pró-reforma agrária, contra rodeios... Paulo Freire vai como meu mentor espiritual e intelectual na jornada.

De uma coisa, eu sei: só de andar por outros ares daquele grande campus já valerá a pena. Na UEL, cada departamento/centro fica confinado em seu próprio microcosmos. Vou para as agrárias sem receio algum.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Retrô no conteúdo e no formato

- DOR E TELEVISÃO

É claro que ninguém esperava uma obra-prima da novela do SBT, Amor e Revolução. Mas a crítica especializada vem menosprezando a iniciativa e o debate que a ficção ambientada propõe. Recriminaram as cenas de tortura no início e, agora, parece que o foco tem sido nas relações amorosas – cansativas e frágeis, é verdade. Eu, na verdade, só consigo assistir porque Sílvio Santos disponibiliza os capítulos inteiros no site do canal. E porque tenho interesse orgânico pelo tema.

Como nunca fui fã de novelas, sinto dificuldade, mas acho incrível ver atores situando, minimamente, nossa História. Por pior que sejam as técnicas, em todo episódio ouvimos falar da revolução cubana, das peças de teatro, dos políticos exilados logo após o golpe, da libertação sexual, do marxismo, e ainda tem o depoimento de pessoas que tiveram relação com a violência daquela época. Dia desses, foi o filho de Marighella que falou.
Vamos pensar bem: que novela se propõe a tentar discutir nossas histórias? Sim, porque, pelo que sei, as da Globo trazem sempre casos esdrúxulos que nada tem a ver com a vida de nenhum de nós. Já reparam como sempre tem um personagem que descobre ser filho de outra pessoa? Eu conheço muita gente, mas raramente soube de quem vivesse este “drama”.
Perseguidos políticos e culturais, já vi vários.


- VIVA! VIVA!

Mas quando a Globo dá de ser esperta, sai de baixo. O canal pago Viva, lançado há um ano, é o deleite para quem tem mais de 30 porque reprisa uma grade de programação dos anos 80/90. Acredito que os mais jovens também devam aproveitar, mas re-viver alguns programas é uma experiência incrível. Eu só consigo acompanhar alguns, mas são os mais importantes para mim.
Comecei com a novela Vale Tudo, a melhor de todos os tempos: trouxe o tema da produção independente da mulher, criou adjetivos (Heleninha Roitman = bêbada; Maria de Fátima = ingrata), agendou a pergunta “quem matou Odete Roitman” e ainda mostrou que a economia doida e a corrupção latente do processo pós-ditadura, chamado de redemocratização. Foi ao ar em 88, e eu tinha 13/14 anos. E preparou um bom terreno para o “caçador de marajás” que viria a nos governar logo depois.

De umas semanas pra cá, colocaram no ar mais duas pérolas. Primeira: Armação Ilimitada, de Guel Arraes, que começou em 1985. Ao assistir, questiono como minha mãe me deixava, com 11 aninhos, ver aquele ménage à trois consentido! Cresci apaixonada por Juba e Lula. E só agora entendi porque Zelda Scott (Andrea Beltrão) vinha de Londres para o Rio de Janeiro – seu pai, interpretado por Paulo José, era um jornalista que se auto-exilou para não ser preso durante a ditadura. Mas o que me arranca gargalhadas é o chefe da personagem, o editor do Correio do Crepúsculo, interpretado pelo grande Francisco Milani, e que não tem nome. É simplesmente “O Chefe”, e se traveste de seu humor. Metáfora aplicada. Maravilhoso.

A segunda pérola é o Cassino do Chacrinha. Impagável. Também me questiono como cresci assistindo a um apresentador que jogava bacalhau na platéia, dava abacaxi aos calouros e usava uma buzina 100% fálica. E as chacretes com maiôs asa delta e o público invadindo o palco de Abelardo Barbosa ao final do programa? É re-junecedor re-ver as bandas e cantores que se apresentavam, o jeito de dançar... Vai de Titãs, com formação original cantando Bichos Escrotos, até Biafra. Irreverências e palavrões rolavam soltos no domingo à tarde. Programa de doido.

domingo, 15 de maio de 2011

Minha linda








Mileninha em Londrina, passando o dia das mães por aqui.

Ela, que é um pouco minha filha.

Pura doçura... Ganhei, por baixo, uns 40 beijos.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

“You say Osama, I say Obama...”




A música do norte-americano Louis Armstrong, Let´s Call the Whole Thing Off (http://www.youtube.com/watch?v=J2oEmPP5dTM), que brinca com as pronúncias de algumas palavras em inglês, começou a repetir na minha cabeça na noite de domingo, quando acidentalmente vi a notícia que dominaria o início desta semana.

Prefiro, aqui, não pronunciar minhas desabilidades de compositora para exercer o velho e bom jornalismo. Acho que a notícia do que aconteceu, com toda pitada de liberdade que um blog permite, deveria ser mais ou menos assim:


OBAMA EXECUTA BIN LADEN; ONU APÓIA

Militares norte-americanos assassinaram o comandante da Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma missão apoiada por outros países. O mentor confesso do crime e presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou como um ato de “justiça” a operação que matou, também, outras pessoas dentro da mansão onde o afegão refugiava-se, no Paquistão.


De acordo com fontes oficiais do governo, o assassinato Bin Laden foi premeditado há anos e acompanhado, em tempo real, pelo presidente, seu vice, a secretária de Estado Hillary Clinton, além de outros membros da equipe – auto-declarados cúmplices. As informação ainda dão conta de que o crime teve requintes de crueldade: a vítima teria sido atingida com dois tiros no rosto/cabeça, e seu corpo teria sido jogado no mar. A Organização das Nações Unidas (ONU) apoiou o assassinato do líder terrorista.




(a charge aí de cima é do ilustrador e cartunista Quinho, publicada pelos Diários Associados de Belo Horizonte)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pronta para o 38

Não deu nem tempo de sofrer por completar, já e ainda, 37 anos. Ando trabalhando muito, viajando também, e envolta com pensamentos sobre o futuro – não sobre meus anos anteriores. O 36 ficou pra trás como um marco para mim. Minha mudança para Londrina e a morte do meu pai. Ano difícil, triste, definitivo.

Quando vi, já era sexta-feira e eu pegava a estrada para Bauru. Ouvi no rádio: dia 8 de abril. CBN me deu o primeiro glimpse de felicidade: uma reportagem sobre a falta de professores na UEL. Apesar da falta de profundidade, fiquei feliz. O tratamento exclusivamente elogioso à universidade, feito pela imprensa londrinense, me incomoda desde sempre.

Como sabia que teria comemorações em Bauru, comecei ali mesmo, sacando um antigo CD que há anos não ouvia: Cássia Eller. Depois, passei pelo amor dos meus últimos anos, companheiro inseparável, e que me ins-pira nos momentos de estudo, de diversão, de tristeza, de solidão, de festa. Chico cantou como nunca a música “Sem Compromisso”, que eu tanto amo e que me faz dançar e sorrir fácil. Shú mal dormiu – estava aproveitando tanto quanto.

No almoço da minha mãe, aquela delícia: milehi, que os Buzalafs chamam de chacrie (que parece ser o nome correto – mas vou continuar a usar o nome da família da minha mãe). O prato principal é o “molho” de coalhada com vááááárias cebolas cortadas em tiras e fritas na manteiga ou azeite, muito alho, muita hortelã e um tantinho de pimenta do reino. Acompanha o arroz com espagueti picado ou macarrão cabelo de anjo – chamado arroz com macarrãozinho pela Norma. E mais nada. Os árabes acrescentam carne, mas minha mãe adotou a receita veggie pra me satisfazer plenamente. E deu certo. A carne fica totalmente desnecessária, mesmo para os carnívoros, porque é tudo muito bem temperado.

Almoço recheado de beijos da Milena e o preparo/descanso para o sábado, que trouxe um presente: meu tio Dua, irmão do meu pai, que não consegue mais visitar a casa da minha mãe tamanha saudade que sente, engoliu sua tristeza e foi me dar um beijo. Batemos papo e “pitamos” (termo dele) um cigarrinho juntos – foi uma benção ter ali, ao meu lado, em uma data especial, um pedaçinho do meu pai.

Conforme agendado com a tchurma, todos se encontrariam na casa da Paola às 17h, mas cada um foi aportando quando podia. Ao chegar lá, aquela surpresa típica dos de Angelis: recados no espelho, enfeites pela casa e bexigas everywhere – tudo verde e rosa, Mangueira, como gosto. Só Paolíssima mesmo para fazer isso.

Sei que, quando percebi, estávamos nós seis – Fá, Pá, Laura, Dani, Beto e eu – morrendo de rir em um dos melhores encontros com a turma que tivemos até hoje. A noite foi cheia de vinhos, gargalhadas e sintonia com todos. Minhas três amigas doidinhas fizeram uma performance pra mim – ideia da Pá. Era uma música do Balão Mágico com letra adaptada por Dani Guedes para mim. Não sabia se ria de alegria ou chorava de emoção. Fiz os dois.

Se chegar aos 37 é aumentar ainda mais a felicidade e a certeza sobre a vida, que venham meus 38 anos. Porque a idade não pesa tanto quando se tem sentimentos verdadeiros e intensos.

terça-feira, 12 de abril de 2011

encolhimento

Dizem que encolhemos à medida em que envelhecemos. De fato, existe um diminuimento geral, mas o que mais encolhe mesmo é a família. Vamos perdendo um a um na certeza/tristeza de que o processo não cessa. E é aquela coisa: com ou sem aviso prévio, a morte é um susto inevitável.

De um ano pra cá, minha mãe travou uma batalha contra esse encolhimento. Depois de tratar e se curar de dois tipos de câncer, ela conviveu com a dor dos outros. Em maio do ano passado, foi meu primo Marco, que caiu morto enquanto fazia uma caminhada - deixando minha tia Nilce desconsolada. Logo depois, meu pai foi embora - e Norma entrou na tristeza da tristeza. Levantou, porque ela é mesmo muito forte, mas rapidamente precisou voltar à (terrível) sala de velório da Terra Branca. A cunhada-quase-irmã foi embora em janeiro. E nesta madrugada, mais uma dor: tia Alice, a irmã mais velha dos Nemes, não aguentou mais. Foram meses na cama... Eu fui vê-la nas duas últimas vezes em que estive em Bauru.

Puro encolhimento. Puro sofrimento.
Ou, talvez, algum tipo de crescimento para nós, ignorantes espirituais que não sabemos lidar com a morte.
Hoje acordei pequena demais.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A dita, 47 anos depois

Foi difícil ficar ausente da discussão dos últimos dias sobre a ditadura civil-miliar que veio com o golpe de 1º. de abril de 64. Se foi dia 31 de março ou até antes, prefiro registrar a ironia da data, já que o fato foi auto-conclamado de “revolução”. Mentira – e das bravas.

Para mim, o tema aparece recorrentemente – queira eu ou não. Na verdade, sempre quero, apesar da taquicardia que me invade quando a questão aparece na minha frente. Mistura a inveja de uma geração tão intensa e unida com o inconformismo de tamanha(s) violência(s). Para quem também se interessa, uma lista recente do tema:

- Carta Capital desta semana sobre o tema. Ainda não comprei então me abstenho de comentários detalhados – é sugestão de Fabrício. Mas confio neles. Mino Carta, o editor da revista, viveu na pele a censura quando estava na iniciante Veja. Chegou a desligar os telefones da redação em uma sexta-feira para poder fazer circular a famosa reportagem de capa sobre tortura. A revista foi apreendida no dia seguinte, claro.

- Ficção-ambientada? Há uns bons meses, li que um filme estava sendo feito sobre o assunto. Seria sobre o final dos anos 70, em meio ao Dancin' Days, e na ressaca de alguns torturados. Se não me engano, o nome é A novela das oito. Como o assunto fica sempre restrito ao gênero documentário, acho que vale a pena ver como um diretor insere uma estória na história.
A segunda ficção-ambientada foi, para mim, chocante. Cheguei da aula noturna da UEL na terça-feira com minha mãe me ligando para eu ver a novela do SBT. What? Norma não é fã do canal do Sílvio Santos e, somente graças ao controle remoto, caiu no assunto. Assim que liguei a tv, percebi que era sobre a ditadura. Fui para a internet pesquisar e, de fato, é uma novela sobre o período que antecede o golpe até a guerrilha do Araguaia (previsão inicial do autor Tiago Santiago). Talvez, vá até a morte de Vlado. Chama-se Amor e Revolução”. É a história totalmente fictícia de um casal apaixonado meio Romeu e Julieta – ele, filho (inconformado) de militares; ela, de família comunista – mas marcada pelos fatos daquela época. Todas as notícias e declarações “oficiais” feitas na novela são verdadeiras – extraídas dos arquivos existentes e abertos. Outro detalhe: ao final de todos os capítulos, pessoas que se envolveram com a ditadura dão seus depoimentos. Vamos ver no que dá.

- Os documentários que recentemente assisti e que mais me marcaram.
1º. Hércules 56 (de Silvio Dá-Rin; 2006), fornecido pelo querido Beto, e que discute o sequestro do embaixador americano com riqueza historiográfica. A questão da memória está ali, se mostrando em toda sua força e fragilidade. Já vi mais de três vezes.
2º. Cidadão Boilesen (de Chaim Litewski), recente, de 2009. Toca em um ponto inexplorado e sensível da ditadura: o envolvimento das empresas na “caça aos comunas”. É até fácil botar a culpa nos militares, apenas. Mas a rede de relações que foram traçadas ali são bem mais complexas. E o documentário consegue mostrar isso com uma trilha alucinante e uma boa recuperação de imagens documentais e de cenas do cinema brasileiro.
3º. Dzi Croquettes (de Tatiana Issa e Raphael Alvarez) é só indicar. Acho que todos podem gostar dos 13 bailarinos que montaram um show/teatro/circo absolutamente irreverente. Pan-mega-global-sexuais, os artistas fugiram do Brasil no que eu chamo de auto-exílio. Foi lançado ano passado.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Obama re-visitado

Se teve um fato recente que foi extremamente inter-mediado pelos meios de comunicação nos últimos anos (quicá, décadas) foi o final de semana do Obama no Brasil. Só quem chegou um pouco closer foram os jornalistas.
E um deles conta o que rolou de dentro: Rodrigo Vianna, que mostra como a subjetividade é importante para o jornalismo. Seu Blog do Escrivinhador deveria estar na bibliografia de todas as escolas porque discute - e bem - e muito - os meios de comunicação.

http://www.rodrigovianna.com.br/palavra-minha/o-cristo-e-dos-gringos-psh-psh-chefe-dos-cruzados-vai-ao-redentor.html#more-7229

Ainda sobre Itacaré – a Shú


O que fazer com uma cachorra que, quando afastada de seu protetor, para de comer, se arranha toda, esfrega o rosto no seu tapete até tirar sangue? Pois é, a minha é assim. Detalhe: antes de viajar em janeiro, deixei todo um schedule de pessoas que visitariam, cuidariam e dormiriam na minha casa com a cã. Mesmo assim, ela surtou.

Para a viagem de Itacaré, saí de Bauru no sábado e voltei na noite do domingo seguinte. Uma semaninha apenas, mas já na segunda-feira Shú parou de comer. Soninha, minha half-sister, chegou ao meu apartamento no final da tarde com pão francês que a canina ama e toda a disposição para assistir tv, brincar e dormir ali. Shú cheirou a iguaria e voltou para sua cama, triste e dramática – como a Sô definiu.

Durante a semana, os relatos sobre minha cachorra só pioravam. Roberto, o porteiro-amigo, dizia que ela se esfregava no meu carro e estava se machucando... A vizinha contou que Shú latiu uma noite in-tei-ri-nha (detalhe: shar-peis simplesmente não latem). E o que fazer quando se tem o mar, vários quilômetros e uma semana apenas pela frente? Impotência total. Aceitei.

Mas, na sexta-feira, veio a bomba: Roberto a encontrou, logo cedo, toda sangrando, toda arranhada, e com pelotas vermelhas por toda a fuça. Minha mãe, mais que rápido, chamou a veterinária-vizinha do prédio. Eu na praia da Concha, tomando vinho com Paola e o mineiro-carioca Márcio... e Shú lá, toda desconcertada no antiinflamatório.

Quando voltei pra Bauru e entrei em casa, vi uma cachorra que parecia ser moradora de rua. E o pote do comida lá, cheio. Mas foi só eu perguntar pra ela se ela não queria comer para Shú voltar ao seu apetite natural. Sarou em um minuto; comeu o pote todo! E eu, vendo aquela alegria toda de quem talvez nem sobreviva se passar algumas semanas sem mim, perdi minha fome.

Não sei o que fazer com esse amor maravilhoso que os cachorros desenvolvem por quem cuida deles – mas que é, em alguns casos, dependente demais. Ela não sabia que eu ia voltar, não podia falar comigo nem receber torpedos... E Shú, como já disse aqui, é minha caricatura. Ansiosa ao extremo, ama poucas pessoas – mas quando ama, é de verdade. No caso dela, é em demasia. Sofre, claro, e a única solução é tomar florais, já que ela, diferentemente de mim, não tem o hábito relaxante de encontrar os amigos, ler um bom livro, assistir a bons filmes, almoçar com a sobrinha e família, curtir um vinho, viajar pra Itacaré...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Eu, baiana


Depois de Itacaré, dei de achar o ritmo e os valores da vida no Sul/Sudeste bem bestas. Tem a ver com a natureza, a história e a leveza de se viver de chinelo. E, claro, com a Cris Guedes, amiga querida que nos rodopiou por Ilhéus, junto com a filha Maria, serelepe linda com pouco mais de um ano, e nos levou para a pousada a 60 km de lá. A dentista é formada pela USC, e desde sempre fez trabalhos sociais. E foi seguindo este caminho que ela virou minha baiana predileta.

Cris tem uma vida difícil por estar longe da família, mas, ao mesmo tempo, tranquila. Todos lá parecem bem mais calmos do que qualquer um dos que me circulam (me inclusive). E é uma tranquilidade intensa – porque ninguém de lá me pareceu morno, não. As crianças são exemplo maior: todas são soltas, simples, simpáticas, interessadas, graciosas...

Fora a beleza estonteante das praias, coqueiros e mangues (cenário que traz uma espiritualidade incrível), Itacaré foi também cheia de gente interessante. Tinha o cara que andava com a sua bike-rádio tocando o maior som e anunciando as festas, bares e shows daqueles pequenos redutos. Tinha o italiano dono da barraca dos Latinos, na praia da Concha, muito gentil, que nos serviu com diferentes vinhos em uma tarde deliciosa. O Kurisco – guia mais gente boa, que deu uma pernada na cidade com a gente, mostrando os lugares históricos e um belo pôr-do-sol. O casal Ingrid e Marcelo, que viraram amigos instantaneamente no passeio pela península de Maruá. E, claro, os três mosqueteiros do bar Maluca Beleza, na orla de Itacaré: o brasileiríssimo Fabrício, o irlandês Steven e o londrino Louis, que tocavam Manu Chao e Seu Jorge.

E tiveram os momentos de calmaria na praia, de conversa com vinho, lá e na piscina da pousada tão gostosa, tão cheia de gente bacana, entre Paola e eu. Ah, como conseguimos nos divertir, aproveitar, contar histórias do passado, construir histórias novas. Privilégio de poucas amigas. Comemoramos muito bem nossos 22 anos de amizade.

Eu e Pá percebemos com profundidade a visão dessas pessoas que já moraram em cidades grandes, mas que optaram por uma vida mais tranqüila. Porque de alguma forma, perto do mar, o ritmo é mais calmo, mais belo, mais natural, mais histórico... Não sei se eu conseguiria viver por lá, mas com certeza é uma bela ideia que ficará guardadinha em mim.

O duro foi, no domingo cedo, chegar ao aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, e não achar o jornal do dia.
_ Não vem jornal hoje?
_ Ah, moça, vem sim, mas tem dia que só chega umas 11h da manhã. Vai levar o de ontem?

Relaxei, comprei a edição de sábado, e só então fiquei sabendo que o bicho estava pegando no Egito.

Itacaré me deixou mais calma e mais segura. São várias e diversas formas de ser feliz.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Minhas duas Bahias


Se Trancoso é o Quadrado, Itacaré é a Pituba.
Se Trancoso é cheia de charme, Itacaré é cheia de (todo tipo de) gente.
Se Trancoso é diurna, Itacaré é, também, noturníssima.
Se em Trancoso você precisa andar quilômetros para chegar às praias, em Itacaré, elas ficam logo ali.
Se Trancoso tem uma culinária realmente especial, Itacaré tem quase de tudo.
Se Trancoso é na Costa do Descobrimento, Itacaré é na Costa do Cacau, que Cacau!
Se Trancoso trata os cachorros como pessoas, em Itacaré eles são só cachorros – e acham que coco é bolinha pra brincar.
Se em Trancoso tínhamos um grande quarto, em Itacaré quase não dormimos.
Se Trancoso é a calma, Itacaré é surfe.
Se em Trancoso eu comi peixes, em Itacaré mergulhei para vê-los de perto - e bem vivos.
Se Trancoso é multilíngue, em Itacaré, todos arranham o seu português baiano.
Se em Trancoso nos divertimos e nos encantamos, em Itacaré também nos esbaldamos.
Se Trancoso é branca, Itacaré é belamente preta.
Se Trancoso é levemente elitista, Itacaré é predominantemente povo.

Se Trancoso é universal, Itacaré é incrivelmente baiana.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Férias - no plural


Em Londrina, Bauru e Itacaré. Espero esticar, também, para a capital, SP, visitar amigos, livrarias e cinemas, e para o Paraguai, ver Van, Fer e os gêmeos.

Nas terras paranaenses, recebi minhas duas grandes amigas Paola e Laura para um belo final de semana de aniversário e passeios.

No interior de São Paulo, os amigos e a família. E a arrumação do apartamento que estava quase abandonado.

No território baiano, chego domingo cedinho – com direito à amiga Cris Guedes nos buscar no aeroporto de Ilhéus. Teremos sorte, ainda, de passar o aniversário de Itacaré lá, no meio das festividades.

Uma semaninha na praia geralmente vale por duas ou mais. O tempo, no mar, é diferente e a intensidade não afrouxa. Cada dia, cada noite, cada comida é uma – e quase sempre especial. Se tivermos, eu e Pá, as mesmas sortes (no plural também) do ano passado em Trancoso, estamos feitas.

Volto com imagens.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Por que não falar em paixão?



“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem contra o outro.
É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos,
ou dedos na ponta das palavras.
Minha linguagem treme de desejo.”
Roland Barthes

Sonhei que estava apaixonada e acordei como se estivesse. Deixada em uma cama, ah, e com a vontade de ficar pra sempre. Não senti frio nem calor; não vi sol nem lua. Nem o rosto de quem amei eu consigo recordar.

E não é assim o “state of bliss” que invade quem se apaixona? Tempo e espaço adquirem um outro ritmo. Vive-se uma sintonia paralela do mundo real que estimula o animal em todos nós. Na base do instinto, pensa-se pouco e sente-se tudo.
Exatamente como nos sonhos.

Acordei lembrando de poucas imagens da minha noite, mas com uma emoção de quem havia vivido uma paixão das mais gostosas: a sensação das mãos se roçando, dos pêlos masculinos na minha pele, da aproximação para o beijo na boca - aqueles segundos emocionantes e que parecem tão deliciosamente longos...

As pessoas ficam totalmente intensas quando apaixonadas. Eu fico encantada. O apego com o cotidiano se esvai porque o prazer de estar vivo é sentido plenamente. O organismo todo fica todo feliz; o corpo até muda – cria movimentos e desejos próprios. Há muito pouco o que se controlar.

Tem paixão que vem e que fica por um tempo; outras, já começam com prazo de validade e algumas podem durar bem pouco apesar da alta intensidade. Existe, até, a possibilidade de se re-apaixonar por alguém que havia caído na rotina. Não importa muito o tempo ou a forma com que concretize (sim, porque paixão platônica é uma contradição de termos), se apaixonar é resultado de um encontro raro, de um momento de iluminação ou de uma brincadeira de um “chato dum Querubim”.

Recorro a quem foi extremamente criticado por abordar o tema: Roland Barthes, em “Fragmentos do Discurso Amoroso”, de 1977. Reproduzo um de seus verbetes, também chamados de “figuras”, deste sentimento/estado/paixão:


“CONTATO: a figura se refere a todo discurso interior suscitado por um contato furtivo com o corpo (mais precisamente a pele) do ser desejado.

1. Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia abstrair do sentido desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato, e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista (...)
Gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido".

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O céu de Bauru



Para quem acha que minha cidade-natal é só boa em sanduíche, ou aeromodelismo, ou em posicionamento geográfico, ou em bordéis clássicos e prefeitos presos, o melhor mesmo é olhar pra cima. No caso do meu apartamento lá, tenho o paraíso em contraste com as vistas dos prédios de Londrina. Explico detalhadamente: o apartamento londrinense é muito mais bonito, e toda a base da minha vida material eu trouxe pra cá; o bauruense é meu de fato, tem muita história, mas falta tudo por lá – exceto o céu. E está aí o contraste. O belo apartamento da rua Alagoas praticamente não tem vista: é no centro, com prédios que me circulam feito São Paulo capital... Tenho sorte de, às vezes, dependendo do posicionamento dos planetas, ver a lua de uma janela. Ou um belo por/nascer-do-sol. Na outra casa, da rua Antônio Xavier de Mendonça, não é assim. Lá, eu vejo o céu o tempo todo. Durmo olhando para a lua e acordo com o sol, devagarzinho. São vários os “bauruenses”, nativos ou não, que comprovam minha tese de que o céu de lá é diferente. “O melhor, Má”, já me disse a Vanessa. “Realmente, o por-do-sol de lá é especial”, atestou Beto. Questiono o seguinte: se eu tivesse uma vista bonita como tenho em Bauru, aqui, na minha sacada gostosa londrinense, seria a mesma coisa? Não, acho que não. Posso vir a morar de frente para o melhor horizonte paranaense que me faltará algo essencial, divino, natural e único. E é o céu, este sim sem limites, de Bauru. Céu pintado; és bonito em qualquer estação.

Foto publicada no site da 94FM, de Bauru, claro.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ana e Beto

Eu nem tinha visto, porque não perco mais tempo com essa publicação (não dá mais pra chamar de revista), mas minha irmã – revoltada - veio me mostrar. Matéria da última Veja do ano faz parte da nova cruzada contra Chico – e da velha caçada contra qualquer um que não seja PSDB.

A “reportagem” é um artigo, na verdade. E dos piores. Com foto grande da nova ministra da cultura, ocupa duas páginas e ainda traz um box com um mini-texto sobre o campo onde Chico Buarque joga futebol, e que poderia abrigar 71 casas do programa Minha Casa, Minha Vida! Veja cunha o termo PCB: Partido do Chico Buarque.

A matéria não é assinada, claaaaaaro.
Reproduzo o título e a linha fina (texto que vem embaixo) para compartilharem minha indignação.

ZERO À ESQUERDA
Cantora apagada e burocrata do terceiro escalão, Ana de Hollanda ganha o Ministério da Cultura graças a duas credenciais impecáveis: “sempre militou” – como justifica, e é irmã de Chico Buarque

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E mais uma agrura com os meios de comunicação. Beto Richa (PSDB) assumiu o governo anteontem e decretou moratória dos pagamento do Paraná por 90 dias e a exoneração de 3,5 mil cargos comissionados. Lendo as notícias, percebi algo chocante, triste e vergonhoso: a Folha de Londrina chama o político de Beto - simplesmente Beto.