quinta-feira, 26 de maio de 2011

Retrô no conteúdo e no formato

- DOR E TELEVISÃO

É claro que ninguém esperava uma obra-prima da novela do SBT, Amor e Revolução. Mas a crítica especializada vem menosprezando a iniciativa e o debate que a ficção ambientada propõe. Recriminaram as cenas de tortura no início e, agora, parece que o foco tem sido nas relações amorosas – cansativas e frágeis, é verdade. Eu, na verdade, só consigo assistir porque Sílvio Santos disponibiliza os capítulos inteiros no site do canal. E porque tenho interesse orgânico pelo tema.

Como nunca fui fã de novelas, sinto dificuldade, mas acho incrível ver atores situando, minimamente, nossa História. Por pior que sejam as técnicas, em todo episódio ouvimos falar da revolução cubana, das peças de teatro, dos políticos exilados logo após o golpe, da libertação sexual, do marxismo, e ainda tem o depoimento de pessoas que tiveram relação com a violência daquela época. Dia desses, foi o filho de Marighella que falou.
Vamos pensar bem: que novela se propõe a tentar discutir nossas histórias? Sim, porque, pelo que sei, as da Globo trazem sempre casos esdrúxulos que nada tem a ver com a vida de nenhum de nós. Já reparam como sempre tem um personagem que descobre ser filho de outra pessoa? Eu conheço muita gente, mas raramente soube de quem vivesse este “drama”.
Perseguidos políticos e culturais, já vi vários.


- VIVA! VIVA!

Mas quando a Globo dá de ser esperta, sai de baixo. O canal pago Viva, lançado há um ano, é o deleite para quem tem mais de 30 porque reprisa uma grade de programação dos anos 80/90. Acredito que os mais jovens também devam aproveitar, mas re-viver alguns programas é uma experiência incrível. Eu só consigo acompanhar alguns, mas são os mais importantes para mim.
Comecei com a novela Vale Tudo, a melhor de todos os tempos: trouxe o tema da produção independente da mulher, criou adjetivos (Heleninha Roitman = bêbada; Maria de Fátima = ingrata), agendou a pergunta “quem matou Odete Roitman” e ainda mostrou que a economia doida e a corrupção latente do processo pós-ditadura, chamado de redemocratização. Foi ao ar em 88, e eu tinha 13/14 anos. E preparou um bom terreno para o “caçador de marajás” que viria a nos governar logo depois.

De umas semanas pra cá, colocaram no ar mais duas pérolas. Primeira: Armação Ilimitada, de Guel Arraes, que começou em 1985. Ao assistir, questiono como minha mãe me deixava, com 11 aninhos, ver aquele ménage à trois consentido! Cresci apaixonada por Juba e Lula. E só agora entendi porque Zelda Scott (Andrea Beltrão) vinha de Londres para o Rio de Janeiro – seu pai, interpretado por Paulo José, era um jornalista que se auto-exilou para não ser preso durante a ditadura. Mas o que me arranca gargalhadas é o chefe da personagem, o editor do Correio do Crepúsculo, interpretado pelo grande Francisco Milani, e que não tem nome. É simplesmente “O Chefe”, e se traveste de seu humor. Metáfora aplicada. Maravilhoso.

A segunda pérola é o Cassino do Chacrinha. Impagável. Também me questiono como cresci assistindo a um apresentador que jogava bacalhau na platéia, dava abacaxi aos calouros e usava uma buzina 100% fálica. E as chacretes com maiôs asa delta e o público invadindo o palco de Abelardo Barbosa ao final do programa? É re-junecedor re-ver as bandas e cantores que se apresentavam, o jeito de dançar... Vai de Titãs, com formação original cantando Bichos Escrotos, até Biafra. Irreverências e palavrões rolavam soltos no domingo à tarde. Programa de doido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa Má, amei esse post. Me transportou para um mundo de que nem me lembrava! Lula & Juba...maria de fátima...adoraria rever tudo isso! pena que nao tem como estando fora. beijos!