sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Para (ainda) hoje


Som: todos os sambinhas do Chico Buarque, já devidamente separados no meu notebook, e que me acompanharam neste ano. Incenso 7 ervas daqueles rústicos – guardei pro ritual do último final de tarde do ano. Bebida: Freixenet, cava, negro. Banho: de sais com alecrim e outras ervas, para descarregar e energizar – presente da Paola. Banho longo e, com certeza, gelado. Cremes e hidratantes. Vou vestir cada peça de roupa lentamente, entre a música e a taça, na minha casa bauruense que ainda adoro. Quero fazer tudo com calma para entrar em 2011 no mesmo ritmo. Totalmente smoth!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Revertendo a tristeza agendada


Era para ser o pior final de dezembro da história. Pelo menos para mim, que passei o ano mais difícil dos meus 36. Trabalhei muito, sem parar, fiz duas mudanças de casa (Londrina-Londrina e Bauru-Londrina) sozinha, prestei dois concursos na UEL (e dá-lhe madrugadas estudando os pontos de cada um) e, por fim, vi meu pai ir embora deste mundo nas minhas mãos, e a des/re-construção pela qual uma pequena família como a nossa passou.

Em agosto, eu já estava querendo 2011. Clamava pelo fim do tormento, pela mudança numérica e astral que poderia me trazer a virada. Passar do ano do Tigre para do Coelho só poderia ser pacificador. Agenda nova e a certeza de que, algumas dores, ficariam datadas em 2010.

Mas ainda estamos em dezembro do ano turning point e, assustadoramente, eu estou bem mais feliz e tranquila do que imaginava. A saudade do meu pai se tornou minha companheira – converso com ele, peço ajuda (e recebo), choro, dou risada lembrando das características tão marcantes do meu velhinho... E isso, de alguma forma, acalentou uma solidão que vinha me entristecendo, e que tinha vínculo, também, com a morte dele. Consegui, não sei como, levá-lo para dentro de mim para, assim, tê-lo como talvez nunca tenho tido.

Tentarei deixar, em 2010, os momentos de descrença profissional, as incertezas familiares, as pessoas que não valem a pena, as notícias que não me interessam mais, a postergação de algumas atitudes, a ingenuidade besta que tenho com o ser humano e a irritação quase permanente com o que me indigna. E quem sabe levar um conhecimento maior sobre a(s) morte(s) que vi, vivi e viverei na minha vida.

Mas faço questão de levar os presentes que ganhei ao longo dos meses. O maior, sem dúvida alguma, é a pequena gama de pessoas que, se me faltassem, eu não teria me segurado. Já vivi mirando projetos de onde queria chegar. Agora, meu projeto de vida é ter boas pessoas sempre por perto – e fazer o que eu posso por elas. Quem esteve ao meu lado, de alguma forma, quando meu pai morreu, foram os que ganharam um lugar no meu coração pra sem-pre. Cada email, cada abraço, cada ligação e todos os olhares de carinho no momento em que mais se precisa dos outros – foi/é inesquecível. Estes seres especiais ganharam uma importância divina em mim. Vi, de verdade, que somos e estamos juntos nessa – nessa vida.

Também não largo dos bons hábitos adquiridos: depois de anos com leituras quase que sempre acadêmicas, voltar para os romances, biografias, poesias e tratados. Foi ótimo. Até reli, em um sábado à noite, o Carta ao Pai, do Kakfa. Também reli o Leite Derramado do Chico.
Outro bom hábito: cozinhar meeeesmo, in daily basis. Sem a casa da mãe por perto, fui descobrindo minhas habilidades e escolhas, porque aceitei que não sou uma pessoa de self-service.
Terceira mudança do ano: música sempre, todo dia, para levantar ou acalmar. Música para tudo.
E, por fim, recomendação de um amigo querido: se espreguiçar longamente ao acordar. Ainda mais eu, que durmo encolhida. Vai fazendo um bem... Além da esticada, tomar dois copos de água em jejum assim que se acorda, e esperar ao menos 15 minutos para o café.

Alguns hábitos são delícias que fazem parte dos dias, que geram estabilidade e que nos levam a algum “lugar”. Na minha vida, estão cada vez mais acompanhados por um bom vinho e ótimas pessoas. À lá Lenine, em 2011, “quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa”.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Em Londrina, para o Natal

É estranho.
Primeiro porque sempre passo na cidade em que nasci. Natal em Bauru, mesmo quando ruim, era bom. Tinha a casa da Paola, o Fabrício indo em casa, alguns parentes do coração e a certeza de encontrar muitos ex-bauruenses pelas ruas da cidade.

Também é estranho porque Londrina, sem a UEL, perde seu charme. A cidade se volta para o consumo e parece ser menos democrática do que durante o ano acadêmico. Falta diversidade. Sobram pessoas. Até o Varanda está fechado.

Em terceiro lugar, já me irrito normalmente com a orgia das carnes (mortas) desta época, e, em Londrina, parece ser pior. Hoje, topei com cabeças de porcos assadas, à pururca (tinha umas 30, no mínimo), para vender no Mercadão Shagri-lá. Só a cabeça! Um moço me informou que era para “enfeitar” a mesa. Quem quer enfeitar uma mesa, é só ter uma boa vela e bom gosto. Quem consegue jantar olhando para as orelhas, olhos, fuçinho do porco ou leitoa? Nojento, sádico e cruel. Peço aos meus amigos carnívoros: por favor, não compactuem com esta aberração. É desumano demais.

A trilha sonora do fim de ano - India.Arie em tributo a Stevie Wonder:
http://www.youtube.com/watch?v=wv1m1In17LE

sábado, 18 de dezembro de 2010

A FABRICAÇÃO DA SUA PRÓPRIA REALIDADE*

Ninguém sabe quantos anos ele tem, como chegou lá, nem mesmo seu nome de nascença. Mas ele mora no CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), na UEL, nos nossos corredores. Acredito que ele goste, prioritariamente, do pessoal de Comunicação – porque é lá que ele vive. Mas também soube que, frequentemente, nosso cachorro busca abrigo no Departamento de Artes Cênicas, onde é igualmente bem tratado. O pessoal do Teatro tem um tapete que, pelo visto, ele adora.

Apesar de ser conhecido de forma variada, seu nome mais comum é Juvenal. Oficialmente, aliás, é esse o nome usado pelos seguranças e trabalhadores em geral daquela área da universidade. O segundo chamamento mais usado, e cunhado pelos alunos que estavam lendo o Izidoro Blikstein*, é Kaspar Hauser. A semelhança no andar, nas paradas e no semi-autismo de quem parece não pertencer a este mundo é surpreendente, e até engraçada. Tem estudante que só o conhece como Kaspar.

Eu o chamo de Juvenal – em respeito aos seguranças, que são os verdadeiros cuidadores dele. Desde que cheguei na UEL, fui me aproximando dele e do seu Manoel, nosso segurança mais presente e que é oficialmente quem mais cuida dos cachorros do CECA. Foi ele quem me contou a história de Juvenal, abandonado na universidade (prática freqüente de quem, por algum motivo, tem problemas em manter o bicho) há ninguém sabe quantos anos. Soma mais de uma década, conforme os funcionários lembram.

E ele veio sofrendo, e sofrendo. Teve problema de pele, perdeu todos os pêlos, foi internado e quase morreu. Tudo isso em 2009. Em janeiro deste ano, Juvenal foi atacado em seu habitat por um pitbull solto na UEL. Seu Manoel me contou, com tons de herói, que arrancou uma placa de ferro da grama e meteu pancada no cachorro que atacava o nosso. Imaginem que coragem teve este homem, que deve beirar uns 65, 70 anos de idade... Por sorte, apareceu um aluno e ajudou nosso segurança a expulsar o pitbull. Levaram Juvenal para o HV (Hospital Veterinário) e, lá, ele ficou um bom tempo se recuperando. Voltou andando com ainda mais dificuldade.

Eu sempre chegava perto, conversava com ele, levava ossinhos da Shú (que ele não come, porque não tem muitos dentes) sem muito sucesso. Na verdade, Juvenal parecia só gostar dos seguranças da UEL. O cão quase rasteja só para ficar perto deles. Mas como sempre gosto de conversar com quem está lá há bastante tempo, ficava perto dele também.

Quando voltamos do recesso de julho, mais um susto: Juvenal havia sido atropelado dentro do campus. Novamente, ficou internado no HV por semanas e os boatos de que ele não voltaria foram aumentando. Mas ele não desiste: voltou bem pior, com as pernas todas tortas e o andar mais lento do mundo, mas voltou. Obviamente, ganhou um novo apelido dos estudantes: José Alencar! O serzinho não morre mesmo.

Assim que Juvenal voltou, seu Manoel entrou de licença-prêmio. Eu percebi que ele estava ficando triste e fui me aproximando. De um mês pra cá, fi-nal-men-te, ele passou a me reconhecer, parar ao meu lado, tentar me olhar com a dificuldade de levantar a cabeça, abanar o rabo quebrado para mim (que gira feito uma hélice) e até me esperou na porta do banheiro esta semana. Tenho ido mais cedo para fumar um cigarro junto com ele.

Peguei carinho pelo bichinho, pela sua história, sua força... Pensei até em trazê-lo para a minha casa, mas ele não sobreviveria fora do campus, com certeza. Pessoas mais próximas que sabem da minha relação com Juvenal tentam me preparar para sua possível morte. Mas ele surpreende a gente. Há umas poucas semanas atrás, havia uma cachorra, possivelmente no cio, que fez o velho resistente gemer, se contorcer e quase tentar alguma coisa. Isso porque ele fica uns bons minutos só para conseguir sentar e depois deitar – imaginem, só, tentar montar em uma fêmea.

Acredito, de verdade, que ele seja um ser iluminado, por assim dizer. Assim como temos homens e mulheres que tiveram uma vida especial para o mundo, tudo o que vive pode ter a mesma divindade. Histórias de cachorros que vivem pelos seus donos, nós conhecemos aos montes. Eu mesmo vivo essa realidade com a minha cã, desmedidamente apaixonada por mim. Mas Juvenal é diferente. Ele tem voracidade e amor pela vida. Porque é muito fácil ser a Shú – o difícil é viver como Kaspar Hauser.

domingo, 28 de novembro de 2010

27 de novembro


Aniversário do meu pai. Faria 83 anos e, com certeza, não gostaria de festejos. Said só pedia uma boa comida – geralmente quibe ou charuto de folha de uva. Com os dois, era obrigatório ter coalhada. Carneiro assado seria a terceira opção. Neste caso, o acompanhamento é ráchua (arroz com carne moída; grafia minha). Bolo também era obrigatório; qualquer doce da face da terra o agradava. Mas ficava quieto enquanto cantávamos parabéns.

O pior era tentar dar um presente ao meu pai. Uma verdadeira missão. Foram pouquíssimos os que deram certo. Ao contrário do restante dos homens, ele gostava mesmo era de ganhar pijama, lenço e meia. Pronto. E tudo bege – ou marrom, no máximo. Eram as únicas cores do seu armário e, mesmo assim, não garantiam a satisfação dele.
Em 1998, trouxe um tênis lindo para ele de Nova York. Achei um Nike bege todo discreto – na tentativa de tirá-lo daqueles sapatos de couro e ajudar no seu caminhar. Não preciso nem dizer que foi nosso porteiro Roberto que ficou com o sneackers.
Quando dei um isqueiro Zippo, ele se apegou mas, depois de uns poucos anos, cansou de recarregar o fluído e o aposentou. Também gostou de uma caixinha de fósforo bordada com a Nossa Senhora Aparecida, da londrinense Zonna do Aroma – presente da minha irmã. Agora, a maior surpresa foi há uns dois anos, quando eu decidi dar flores ao meu pai. Comprei cravos, e eles eram mesmo maravilhosos. Pensei que, se não o agradasse, ao menos a sala ficaria feliz. E não é que ele adorou? Ficava olhando admirado para o vaso.

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Na estrada, vindo para Bauru, pensei em comprar cravos e levar no túmulo dele. Chegando na minha mãe, felizmente, vi um astral diferente dela. Amora, a Golden que é a nova moradora da casa, deu alegria à Norma. A bichinha é brincalhona ao extremo, mas calma, folgadona, dorminhoca e quietinha. No embalo, forcei minha mãe a ir ver o maestro Luiz Carlos Martins com suas Baquianas, espantosamente em Bauru. Ela foi. Voltou animadíssima sem aquele olhar triste de to-dos os últimos meses. Com o Corinthians jogando, fiz uma caipirinha pra gente e ela ficou ainda mais “feliz” (rs...).

No aniversário dele, e por ele, celebramos as nossas vidas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A SUPER-AÇÃO


Então fica tudo certo quando se ajeita uma parte da vida. Escolhe-se um retorno na estrada, engata quarta, depois a quinta marcha e o caminho ganha uma forma segura para evitar desamparos. É quando um aspecto da nossa existência está garantido – e os outros viram meros artefatos de lazer ou grandes fantasmas evitáveis.

Tem gente que se apaixona, se casa, se amasia e encontra, ali, predominantemente ali, no canto mais nobre do coração, o lugar de conforto para a vida. Acontece como encontro de verdade, e também acontece como amparo ou mera acomodação.

O dever é, também, motivo de vivência: doa-se quase todas as horas úteis do seu dia na execução de uma tarefa. Entre frustrações e emoções, equilibramos. O trabalho traz uma realização de troca com o outro, com o desconhecido, que satisfaz por si só – além de ser necessário para a sobrevivência. Ocupa, portanto, espaço grande na maior parte das pessoas.

E tem gente que vive para a família, só a família, no desacordo com o mundo público. Filhos, cônjuges, visitas e aparentados: tudo para bem servir e para bem viver. Podem se preocupar tanto com o escopo das quatro paredes que pouco participam da sociedade.

E há os que vivem de ajudar – esquecem que existem como instinto, e constroem os passos na dedicação do outro. Assistenciais ou devotos, são fiéis aos que precisam de alguma coisa. E dessa alguma coisa todos se nutrem.

*****************

Super-ação seria a transposição dessas esferas todas na ordem subjetiva de cada um. É superar a acomodação de apenas uma “casinha”: a sentimental, profissional, familiar ou coletiva. Dá para ter mais de mais. Quem mergulha apenas em um dos caminhos ativa uma parte do corpo e garante uma certa segurança e conforto. Mas torna-se dependente dela: alegrias e tristezas ficam (a) condicionadas em uma única caixinha.

O importante, mesmo, é acordar “a” esfera adormecida. Qualquer que seja ela. Mesmo que a hibernação venha de tempos, aquele pedaço de coração ainda pulsa. E mais do que se pode imaginar, porque a força de ampliar os caminhos traz segurança para trilhar - é retroalimentativa. E traz sorte. Como as que tenho tido.



"Somos o que fazemos mas, sobretudo,
o que fazemos para mudar o que somos"
(Eduardo Galeano)

sábado, 13 de novembro de 2010

Lábia, Labuta, Labiata



Lenine. Labiata.

LÁ VEM A CIDADE
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...
Vi a cidade passando,
Rugindo, através de mim...
Cada vida
Era uma batida
Dum imenso tamborim.
Eu era o lugar, ela era a viagem
Cada um era real, cada outro era miragem.
Eu era transparente, era gigante
Eu era a cruza entre o sempre e o instante.
Letras misturadas com metal
E a cidade crescia como um animal,
Em estruturas postiças,
Sobre areias movediças,
Sobre ossadas e carniças,
Sobre o pântano que cobre o sambaqui...
Sobre o país ancestral
Sobre a folha do jornal
Sobre a cama de casal onde eu venci.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

A cidade
Passou me lavrando todo...
A cidade
Chegou me passou no rodo...
Passou como um caminhão
Passa através de um segundo
Quando desce a ladeira na banguela...
Veio com luzes e sons.
Com sonhos maus, sonhos bons.
Falava como um camões,
Gemia feito pantera.
Ela era...Bela... fera.
Desta cidade um dia só restará
O vento que levou meu verso embora...
Mas onde ele estiver, ela estará:
Um será o mundo de dentro,
Será o outro o mundo de fora.
Vi a cidade fervendo
Na emulsão da retina.
Crepitar de vida ardendo,
Mariposa e lamparina.
A cidade ensurdecia,
Rugia como um incêndio,
Era veneno e vacina...
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar...

Eu pairava no ar, e olhava a cidade
Passando veloz lá embaixo de mim.
Eram dez milhões de mentes,
Dez milhões de inconscientes,
Se misturam... viram entes...
Os quais conduzem as gentes
Como se fossem correntes
Dum rio que não tem fim.
Esse ruídoSão os séculos pingando...
E as cidades crescendo e se cruzando
Como círculos na água da lagoa.
E eu vi nuvens de poeira
E vi uma tribo inteira
Fugindo em toda carreiraPisando em roça e fogueira
Ganhando uma ribanceira...
E a cidade vinha vindo,
A cidade vinha andando,
A cidade intumescendo:
Crescendo... se aproximando.
Eu vim plantar meu castelo
Naquela serra de lá,
Onde daqui a cem anos
Vai ser uma beira-mar

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Seguir mudando"

Se esta é a missão de Dilma na presidência do Brasil, ela começou bem.

A primeira entrevista ao vivo da presidenta foi ao Jornal da Record, que mandou duas jornalistas mulheres para a tarefa tão nobre. Está no portal R7.

Depois, Dilma falou à Globo. Bonner é quem se deslocou até Brasília para a conversa, que teve tons de Domingão do Faustão com aqueles vídeos de pessoas dando depoimentos sobre a nova eleita. Acharam até uma parente desconhecida na Bulgária...!

Mas a liberdade de imprensa, discutida na campanha com tons tão invertidos, tomou forma na atitude de quem vai comandar o país.

Parece mesmo que Dilma não acusará nem protegerá nenhum veículo de comunicação.
Começou muito bem.

Eleição, Silvério São João e meu Finados


Acordar no domingo de eleições sempre foi importante na minha vida. Já deixei de viajar para votar. Já viajei, como no último sábado, embaixo de chuva torrencial, para votar. E olha que eu tinha muitos motivos para permanecer em Londrina, mas eu não consigo. Como ficar de fora de um momento tão importante?

Já passei eleições dentro da redação de um jornal – e, aí, a piração é outra. Foi a de 1998 (no Jornal da Cidade) e a de 2006 (no Bom Dia). Precisa-se pensar em como representar os candidatos, as opiniões, as falas... E escolher fotos pra capa, então, que dilema? Até as cartas de leitores são problemáticas, já que podem ser muito partidárias. A tentativa de equilíbrio é uma grande batalha que se trava com cada um – do fotógrafo, ao repórter, editores, leitores e políticos, claro.

De fora do jornal, é só acordar e ir andando até o Silvério São João votar. Amo voltar à minha ex-escola, pública, e que era uma das melhores de Bauru. Constituímos uma geração toda naquele pátio, nos arredores de lá – e esta geração está nesta foto que recebi, há um tempo, por email, da Renata Aleixo. E, depois de todos seguirem suas vidas e cursarem suas faculdades, nos encontramos no Silverião em todos os pleitos.

Eu passei todas as eleições indo votar de vermelho: vestido, batom, blusa, saia, unha... Escolhia uma peça, um vermelho, para tentar ajudar Lula. Mas era triste, porque meus votos não “vingavam”. Cresci não elegendo meus escolhidos, e isso fez com que eu me envolvesse cada vez mais na dinâmica das eleições.

Em 2002, quando fui votar para o Lula com uma (quase) certeza de que o elegeria, foi uma alegria que eu não esqueço até hoje. E foi de lá pra cá que eu comecei a fazer parte dos que ganham eleições. Só governador, que não tem jeito aqui no Estado de São Paulo. É sempre muito, mas muito frustrante.

Diferentemente da minha família, eu nunca votei no PSDB. E acho, de verdade, que nunca votarei. Meu pai era o mais diferente de todos porque era eclético: na vida, votou no Covas, no Brizola, no Roberto Freire, no Maluf, no FHC e, claro, no Lula. Lembro claramente dele criticando minha irmã e minha mãe em 1989. Eu tinha apenas 15 anos, e pedia para eles não votarem no Collor. Meu pai concordava comigo – e ficou louco da vida quando o infeliz confiscou a única poupança que Said conseguira guardar.

Meu pai era mais parecido politicamente comigo. Nesses últimos anos, ele disse que nunca imaginava que o Lula faria um governo tão bom. E votou até a última eleição – mesmo não sendo mais obrigatório para ele. Votou até seus 80 anos. E iria até o Silverião votar desta vez, se aqui estivesse. E votaria na Dilma, tenho certeza.

...

Hoje fomos ao cemitério, na nossa primeira visita de finados ao túmulo do meu pai. As cinco mulheres da vida dele estavam lá: esposa, as três filhas e a única neta. Laila não conhecia. Mileninha já foi comigo e com minha mãe – e sempre ia com meu pai. Acendemos velas, levamos flores brancas compradas e as do nosso jardim, que ficaram espalhadas pelo granito lindo do túmulo dele, com a placa: SAID BUZALAF. 27/11/1927. 17/07/2010. COM AMOR.

Eu rezei pra ele. E conversei rapidamente contando que a Dilma era a nova presidente do Brasil. “Tenho certeza, pai, que você iria querer que as coisas continuassem a andar do mesmo jeito que estão... Ela será uma grande presidenta, meu lindo, e eu sei que você deve estar feliz.”

No mesmo momento, passou uma brisa por mim que me arrepiou inteira. Coisa que só quem já perdeu alguém tão próximo consegue sentir. Sei que meu pai estava lá com a gente, segurando na mão da Milena, ajudando a neta a acender as velas, enxugando as lágrimas da esposa, abençoando a filha mais velha que cuidava das crianças, e, sem dúvida alguma, meu pai estava lá, comigo, querendo conversar sobre a Dilma.

Que saudade dele.

sábado, 30 de outubro de 2010

De político, jornalista e/ou mentiroso, todo mundo tem um pouco

Não há nada mais interessante para quem gosta de observar o jornalismo do que em épocas de comoção social – Copa do Mundo, catástrofes, guerras, plebiscitos e, claro, eleições. Para presidente, melhor ainda. Com segundo turno, então, haja coração. Eu não aguentaria nem mais uma semaninha.

Tento acompanhar quase tudo com dois focos: os meios de comunicação que formam o quadrilátero do PSDB (Globo, Veja, Folha e Estadão) e os meios de comunicação que propiciam uma outra visão (Carta Capital, IstoÉ, alguns telejornais da Record e do SBT, além dos blogs maravilhosos de jornalistas conceituados - como Azenha e Rodrigo Vianna). E ainda tem os horários eleitorais gratuitos... Fico exausta. Sorte que tem a internet, que me permite acessar qualquer coisa a qualquer hora. E mais sorte ainda é que está para terminar – e com vitória.

Em período de eleições, ainda mais entre turnos, viro rata de banca de jornal. Domingo, então, é mais do que sagrado. E as pessoas se dividem entre Veja, IstoÉ, Carta Capital, Folha e Estadão. A Época fica no meio termo: consegue repercussão dependendo da sua capa. Eu ainda não a entendo.

Debate, eu também não perco. Compro até vinho bacana para acompanhar e troco mensagens com as pessoas que pensam como eu. Pensamos e discutimos as estratégias e caminhos da campanha. É como se a candidata virasse, de verdade, parte de uma meta coletiva da qual, felizmente, faz parte Chico Buarque, Ariano Suassuna, Leonardo Boff, Gilberto Gil, Beth Carvalho, Frei Betto, Fernando Moraes, Aldir Blanc, Alcione, Djavan, Niemeyer, Erasmo Carlos, Lázaro Ramos, Jorge Benjor, Veríssimo e, claro, a alegria baiana de Ivete Sangalo.

Cheguei ao estágio de absolutamente não querer mais discutir nada com os tucanos que gritam – mesmo que por email. Eles me cansam. Estão sempre argumentando do alto do salto alto, sem perceber que deixam suas carecas à deriva. Já ouvi de um amigo serrista que eu, como jornalista, deveria ponderar que a Dilma vai censurar os meios de comunicação. E que ela foi uma guerrilheira- as duas argumentações que mais me irritam.

Não merecem nem considerações. A única coisa que eu realmente conheço é a relação entre censura e imprensa. Título da minha dissertação de mestrado: “As novas formas de censura: três diferentes coberturas da revista semanal Veja”. Título da tese de doutorado: “A Censura no Pasquim (1969-1975): vozes não-silenciadas de uma geração”. Não dá para engolir o discurso criado sem fundamentação alguma e recheado de preconceitos e conservadorismo sobre esses tópicos.

Se você pegar os arquivos do Geisel, digitalizados pelo CPDOC da FGV do RJ, verá que os termos usados na campanha para diminuir Dilma, como “guerrilheiro, subversivo”, são os mesmos usados pelos militares. É aquela coisa: de que lado você está? Com quem você se identifica? Qual é sua turma? Qual linguagem usa?

Devo admitir que esta campanha tem uma particularidade importante: os meios de comunicação do quadrilátero do PSDB não são mais tão hegemônicos nem tem um discurso hegemônico. Por vezes, percebemos sinal de pluralidade, questionamento, uma charge diferente, um artigo, uma capa da Veja bem pensada (como aquela branca, no dia do 1º.turno)... Fora a pauta que vem do público virtual – e é esta que mais me interessa.

Não há mais como inventar tanta história... O período de dominação discursiva dos meios de comunicação de massa, tradicionais e estritamente comerciais, acabou. Eles continuam aí, fortes e firmes, mas acabou a blindagem e a hegemonia do discurso.

Eles agora são pautados, também, pela internet – que não os deixa mentir sozinhos. Não adianta dramatizar uma bolinha de papel ou uma fita crepe atirada na cabeça: alguém vai ter filmado o que realmente aconteceu. Subverter a história de uma candidata que foi torturada é impossível....

Nunca, mas nunca mesmo, a mentira política teve tamanha perna curta.

sábado, 9 de outubro de 2010

Maldades virtuais e eleitorais


Peço para que me enviem os emails contra o candidato José Serra e o PSDB porque cansei de receber os factóides maldosos contra Dilma e o PT. Sinceramente? Tudo tem limite. São textos mal escritos, cheios de erros de todas as naturezas e preconceitos dos mais ferrenhos que já vi. Não chegam a ser inéditos porque as campanhas anteriores foram iguais – chuva de emails ofensivos de tucanos anônimos.
Recentemente, falaram mal até da netinha da petista, que acabou de nascer. Ela seria “feia como a avó”. E tem a matéria da Veja desta semana sobre o figurino candidata, sob o título Vestida para mandar. Fora a discussão sobre aborto que levou a CNBB negar a existência de uma carta recomendando que os “fiéis” não votem na petista. Foi “apenas” a recomendação de um bispo de Guarulhos. A entidade criticou a “orientação”, mas o estrago já estava feito porque os tucanos militantes se informam apenas por um ou dois meios de comunicação – e, desinformados, continuam enviando essas mensagens apelativas.
Falando em apelação, no Manhattan Connection de domingo, o ódio de Madureira (do Casseta e Planeta) xingando Lula de picareta e vagabundo foi tão forte, tão absurdo, que o GNT “cortou” esta parte no vídeo do site oficial. Mas dá para assistir no YouTube, claro. Os emails maldosos agora atingiram até o vice, Michel Temer. Ele seria um dos “líderes do satanismo no Brasil”. Fora aquelas supostas camisetas que usam o nome de Dilma para algumas camisetas com slogans, no mínimo, de muita grosseria, mau gosto mesmo. O pior deles foi “Corruptos filhos DILMA _ _ _ _!”.
Quanto desperdício...
Quanta maldade...
Quanta falta do que fazer...
Por que a gente não espalha logo – via internet, claro – que foi o PT o mandante dos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York? Ou que Dilma é amiga íntima de Ahmadinejad e filha bastarda de Fidel Castro? Melhor ainda: vamos espalhar que Dilma é amante de Lula! E que Marisa, a primeira dama, sabe! Bom, deixa eu parar porque alguns tucanos destrambelhados podem transformar estas ironias em “fatos” virtuais.

Pelo menos, criar factóides anônimos, maldosos e covardes contra o PSDB, definitivamente, não é qualidade dos petistas e simpatizantes.


* Caricatura de Pedro Ewbank, exposta no Salão de Humor de Piracicaba. Mr. Burns total.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O domingo D da imprensa brasileira



A Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo publicaram, na edição deste domingo, seus posicionamentos políticos em seus respectivos Editoriais. Eu soube (não sei como) que o Estadão declararia seu apoio a Serra. E o fez textualmente, mas com uma chamada até tímida na capa, considerando seu tamanho, mas forte, considerando seu título: “O mal a evitar”. Já a Folha, como sempre, fez escarcéu: publicou o editorial inteiro no canto esquerdo da capa, como faz apenas em situações extremas. O título foi bem evasivo, bem PSDB: “Todo poder tem limite”. Em termos gerais, os Frias não assumem seu apoio ao candidato tucano, mas o deixam implícito – principalmente na crítica que faz à surra de questionamento sobre o maior jornal do Brasil. Dessa forma, toma partido, mas de forma bem mais relativa.

Não tenho problema algum com o jornalismo opinativo. Dou aula disso, até. Na Inglaterra, todos os jornais se posicionam politicamente em seus editoriais no primeiro dia do início da campanha. Até os canais de tevê divulgam o posicionamento do The Guardian, Financial Times, The Independent... No Brasil, até essas eleições, tínhamos apenas a declaração clara da revista Carta Capital, que há vários pleitos mostra seu posicionamento.

Assumir uma preferência presidencial uma semana antes das eleições faz a gente se questionar sobre as manchetes bem mais sensacionalistas que lemos nas últimas semanas – vinculado alhos a bugalhos sem o menor critério de noticiabilidade. Uma semana antes das eleições, isso parece, sim, tomar partido, jornalões.

O melhor é a forma com que o Estadão declara seu apoio: afirma que a linha editorial do jornal não mudará. Mas, na capa do jornal deste domingo, ao lado da chamada para o editorial, tinha duas fotos: uma de Serra, parecendo um “emo” acenando com um coração; e a imagem ao lado de Dilma apontando seu dedo para o lado esquerdo. E adivinhe quem estava lá? Serra, romântico, sensível, sorrindo...
Falta a Veja se asumir. A Veja, que é a pior das piores em coberturas políticas. A Veja, que publicou essa capa ridícula em abril deste ano, e não foi decente como as outras revistas semanais - que ao menos deram capa e entrevista para todos os candidatos.

Um mérito dessa capa: toda vez que eu a olho, morro de rir... Meigo, muito meigo esse Zé.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O ataque dos pássaros destrambelhados


As eleições 2010 estão totalmente surreais. Debates on-line, twitter pautando, humor censurado, humor liberado, meio ambiente na ordem do dia, grande imprensa não convencendo, jingles engraçados, e, claro, o Plínio como o tom mais especial dos embates. Eu me divirto com as campanhas. Uma das frases mais engraçadas que ouvi, até agora, no programa de rádio, foi de uma candidata a deputada estadual aqui no Paraná, que garantiu “lutar pelo direito dos homens”! What?
Do rádio à internet, o ciberativismo às avessas está ainda mais ativo do que nas eleições municipais de 2008, quando, em Bauru, assistimos a uma enxurrada de emails desqualificando o atual prefeito – que começou a campanha em terceiro ou quarto lugar.

Naquela época, assim como agora, tucanos desesperados partiram para a ignorância. Atacaram Rodrigo e sua namorada com ofensas que beiraram a homofobia. Mas lá, assim como aqui, de nada adiantou. O candidato do PMDB e a vice do PT ganharam folgado de Caio Coube, do PSDB.

Os ataques tucanos para as eleições do dia 3 recomeçaram há uns bons dois meses. Os emails questionam - anonimamente, claro - desde as pesquisas até a peruca de Dilma Roussef. Quando o texto é assinado, geralmente vem com o nome de Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, Veja... O que, para mim, é a mesma coisa que nada.

Os piores textos que li tratavam de vincular o engajamento de Dilma contra a ditadura a assassinatos frios. Sim, os anônimos tentaram inverter a História: os militares teriam sido perseguidos pelos "guerrilheiros". Mas... não era exatamente o contrário? Não foi a ação descabida e violenta dos ditadores que teria levado pessoas à guerrilha, à clandestinidade e, até, ao exílio?


A freqüência de envio foi aumentando proporcionalmente à queda vertiginosa e constante do Serra em todas as aferições públicas. Fui ficando com dó. Ele só ia se enrolando e saiu com o argumento de que a candidata petista ficava na sombra de Lula. Poxa, até eu que sou mais bobinha! Ibobe, DataFolha etc e tal refletiram o erro da tática: Tucano, talvez você nem vá para o segundo turno!

E a Marina lá, querendo “discutir o Brasil”...
Marina veio na UEL em junho. Com o anfiteatro do CESA cheio, colocaram um telão maravilhoso lá fora, com algumas cadeiras, uma bela lua e muitas árvores. E eu me surpreendi – pela segurança, firmeza, educação, calma e sabedoria da candidata com a qual eu mantinha uma certa ressalva – se ela saiu do ministério com a pressão que sofreu, como seria na presidência? Mas Marina falou com todos, contornou uma pergunta quase agressiva de um aluno, e foi extremamente carinhosa no trato e coerente na fala.

E ela só fez crescer sua popularidade porque está mais preocupada em conversar com os eleitores do que criar um escândalo para atingir os outros candidatos. Mas os tucanos não dão trégua: se atrapalham e, agora, levantaram o tapete para revirar histórias e criar factóides. Sim, porque alinhar a campanha da Dilma com o erro do filho dos outros é, no mínimo, forçar a barra. No mínimo mesmo.

O outro lado dessa história vem sendo publicado sistematicamente pela admirável revista Carta Capital em contraposição à mídia grande. Recomendo também o blog O Escrivinhador (rodrigovianna.com.br). É que, nessas épocas, os jornalões se mostram... E a minha decepção é mesmo com a linha editorial das reportagens e das capas da Folha de S.Paulo, o jornalão de que mais gosto. Como sempre procuro uma voz no fim do túnel, alguns articulistas, chargistas e a ombudsman dão conta de mostrar que o cenário é de desespero dos tucanos, que gritam sem ser ouvidos – ou considerados.

A despencada de Serra é muito similar ao que aconteceu em Bauru: Caio saiu em primeirão e, assim que começou a cair, o PSDB entrou em desespero - gritou, ofendeu e perdeu. Parece que, em alguns lugares, o canto vazio e estridente dos tucanos não convence mais. Nem com toda a ajuda dos jornalões, Zé.

Voa, passarinho, voa.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

MEU FURO

EXTRA! EXTRA! Este mísero, simplório, desatualizado, não-imagético blog consegue, hoje, uma proeza jornalística: seu primeiro furo!

Não adianta: informação é algo precioso. Claro que, se eu pensar no universo do Twitter, a notícia pode até estar antiga. Nos blogs, pode ter repercutido. Mas-porém-entretanto, na imprensa de Londrina, infelizmente, não vi nem uma linha sequer.

Aviso que é um furo não apurado. Apenas um furo sendo manipulado, como tantos por aí.

Há uns poucos meses, estava agendado o Woodstock Londrina, festival inspirado naquele dos 60´s e que tem um quê de transgressão. A grande atração seria o som das Velhas Virgens – banda que deixa qualquer um doido só de ver o título de suas músicas.

Com o cancelamento do show, foi cancelado também o festival – informação dada em todos os meios de comunicação. Então, seria este final de semana o tal Woodstock pé vermeio, com a confirmação da tal banda, alunos comentando, notinha dada no nosso radiojornal.

Pois bem: pelo que soube por uma orientanda, a banda não veio. Em um mísero Google dado, percebi que a banda também se ferrou. O problema deve ter sido a organização porque os universitários foram, pagaram e ficaram esperando as Virgens. Foram, então, avisados de que poderiam buscar o reembolso do ingresso no outro dia, no Pátio São Miguel. Foram. Não tinha nada a ser restituído. E, pelo que li no site da banda, os organizadores precisam se explicar também com os músicos.

O que mais me choca é que não li nada na imprensa local. Nadica. A divulgação do show foi feita, claro, por todos os meios de comunicação - até a UEL FM. Londrina adora cultura. Mas a crítica que pode vir depois não faz parte da cobertura daqui. A cidade me faz pensar que eu sou sensacionalista porque não deixaria esta notícia escondida. Estamparia na capa, com letras garrafais.

Mas, como o mundo da internet tem, também, trazido informações, reproduzo a explicação da banda, ipsis literis, publicada no site deles:

Nome: Alexandre Cavalo
E-mail: cavalo@velhasvirgens.com.br
Mensagem:galera de londrina a organização do eventodeve muitas explicações, tanto pra vocês quanto pra nós. viajamos mais de 600 km pra tocar e esperamos até as 2 da manhã tentando fazer o show. nós sempre tocamos, até mesmo em condições precárias ou mesmo quando contratantes nos dão o cano e ficamos como prejuízo. no evento em londrina nós simplesmente fomos avisado que o show havia sido cancelado na última hora. ficamos putos da vida mas não podíamos fazer nada. em 24 anos de banda isso aconteceu apenas 3 vezes. esperamos voltar a londrina e fazer um grande show!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A VOLTA

E a vida volta sem eu nem perceber – ou querer. Sim, porque é possível você largar todo o caminho traçado porque perdeste seu pai e porque a dinâmica da família fica toda estremecida. Mas, não. O mundo continua te mandando pra frente, com seus prazos, planos, surpresas, emoções e um combustível que você nem sabe de onde saí. Sim, porque ainda ando perdida, com um sentimento de estar sem chão porque perdi meu pai há menos de um mês. E ainda respondendo às pessoas que me perguntam, sem saber: “e aí, como está o seu Said?”.

Mas a vida volta sem eu nem perceber – ou esperar. E foi quando ele ainda estava de cama, mas consciente, que recebi a convocação oficial do concurso que prestei para aí, sim, ficar efetiva na minha querida UEL. E eu pude contar para meu pai. Com a boca aberta para respirar, ele disse umas frases roucas, fez uma pergunta bem árabe (“quanto você vai ganhar, filhota?”), e depois falou parabéns e me deu recomendações (bem árabe). E eu, que costumo brindar até uma lua cheia especial com meus amigos, ainda não consegui comemorar de coração minha efetivação no lugar que eu mais queria, nesta grande universidade, com pessoas especiais e espaço para se desenvolver.

Mas a vida volta sem eu nem perceber – ou justamente porque a gente precisa dela. Paola voltou neste final de semana, de uma viagem por Londres, Áustria, Holanda, e encontramos a turma toda, que dividiu comigo – de longe e bem de perto - aqueles momentos terríveis do dia 17. Em Londrina, tenho reuniões, orientações, prestações... Felizmente, a exigência do calendário e a certeza de ter grandes amigos nos tira do furacão puramente apocalíptico-emocional de perder alguém assim, tão próximo.

Mas a vida volta sem eu nem perceber – ou porque a dimensão da morte me trouxe uma triste tranqüilidade: praticamente nada é imutável, inquestionável ou inevitável. Nada. Apenas a falta de vida é que nos amarra as mãos. É ali, no momento do caixão e na ausência física do meu pai que percebi a única coisa que nos paralisa e nos deixa impotentes. É só ali que não há o que se fazer – mesmo com muito a se dizer. É apenas nesta situação – da morte – que somos obrigados e precisamos abaixar a cabeça a aceitar. É só ali, mas é foda; é foda, mas é só ali.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Na Saint Martin


O difícil não é apenas perder o meu pai.

A barra, também, é perceber que sua irmã e sua sobrinha perderam pai e avô. É sentir que sua outra irmã, a downzinha da família, está perdida porque Said era a segurança – nosso pai só dormiu fora de casa quando precisou de cirurgias e hospitais.

E os dois grandes ajudantes da família, que estão conosco há quase 20 anos, vieram me perguntar se continuarão a ser nossos funcionários, já que meu pai não está mais aqui. Estão meio desorientados porque sabiam que poderiam contar com o libanês.

Também fiquei muito preocupada com a reação do meu tio e das minhas duas tias, irmãos do meu pai. Eles já haviam perdido meu tio Salim, em 1989, mas a relação com o mais velho dos irmãos era mais forte. Said foi quem criou todos, estudou todos, ajudou todos, formou todos. O tio médico está com o olhar perdido. E eu percebi que tem outras pessoas se sentindo “sem pai” além das três meninas.

Mas o difícil mesmo é ver que a minha mãe perdeu seu marido - é viúva de um homem que viveu só pra ela, que estava sempre lá, na mesma cadeira, com seus horários, seu carro, entrando e saindo daquela quadra da rua Saint Martin.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Carta ao meu pai

Ô, pai, nem posso dizer que foi embora muito cedo. 82 anos de vida é tempo suficiente para se fazer muita coisa. E você fez. Mas eu não esperava não tê-lo mais aqui. O susto da morte, definitivamente, não tem como ser antecipado.

Convenhamos que você também nunca foi um homem que inspirava muita animação. Falava da morte constantemente e até a desejava. Frágil da coluna, fumante desde uns 10 anos, não tinha mesmo como durar muito. Mas resistia. Aliás, por mais frágil que sua aparência era, tinha exames de sangue como os de um adolescente. Coração forte, sem diabetes, pressão sempre normal ou até um pouco baixa. Minha tia Nilce disse, uma das mil vezes em que você caiu doente nos últimos anos, que você iria enterrar muita gente. Mas, domingo, foi o seu funeral.

Ah, pai, te ver no caixão foi muito chocante. Parecia que você ia se levantar a qualquer momento... Reclamando, com certeza, mas levantaria. Mas você não se movia. Senti saudades daquela sua respiração difícil desta última semana, ás vezes no hospital, ás vezes em casa. Saudades de segurar sua mão, de te alimentar, de te dar água. E olha só: não me arrependo meeesmo de ter te dado o seu último cigarro. Foi na terça, não me esqueço. Ainda falante, apesar da voz fraca, pediu para a enfermeira me chamar. Quando você me disse que queria só dar uns tragos com uma bicadinha de café, eu nem pensei duas vezes.

Sei que poderia até ser presa por um ato desses, mas dispensei a Ilda, peguei os artefatos e fui para o quarto. Deixei tudo no criado-mudo, porque te colocar sentado não era fácil. Mas aquele esquema de você se encostar no meio peito para ganhar firmeza deu certo durante a semana toda. Coloquei o cigarro na sua boca, acendi e fui dando o café com seu canudinho. Difícil te ver parar de comer e beber aos poucos... Você, que tinha enorme prazer na comida. Mas ficamos juntos o tempo todo, como talvez nunca tivéssemos ficados: mãos dadas e olho no olho. E eu adorei que você negava comer com as enfermeiras; só aceitava que eu o alimentasse.

Como você ficou fraco, pai, e parece ter sido tão rápido. Talvez porque eu pensasse que você nunca morreria. Mas você morreu sábado, dia 17 de julho de 2010, às 12h55, uns 10 ou 15 minutos depois de eu sair do hospital. Passamos a manhã juntos, né? Mas você já não respondia nada. Parecia dormir e insistia em manter um pouco do olho direito aberto. Felizmente, antes de cessar o contato, você voltou um pouco para ver e “conversar” com a Mirelle na sexta, que chegou de Londrina para se despedir. Que atitude bonita, pai.

Outra coisa: percebi que você não quis morrer na minha frente, nem na frente da Mi, já que ela foi para o hospital assim que eu saí de lá, e já te encontrou sem cor. Você morreu dormindo, quando a Ilda foi ao banheiro e ao lado do único médico em que confiou na vida: Mário Hamada, um profissional de verdade porque se importa com o paciente de uma maneira abrangente. Ele cuidou de você com carinho até o final, pai. Incrível a dedicação dele - e não deixou de se despedir em seu velório.

Mas foi depois eu sair do hospital, chorando sem parar porque tentaram colocar uma sonda para te alimentar, que o mundo caiu. Cheguei na casa de vocês e a Mirelle logo desceu pra te ver. Doutor Mário ligou dizendo para a gente ir para lá, porque você estava caindo muito... Disse que a possibilidade de ir para a UTI seria agressiva – seu estado era irreversível. Desci com minha mãe correndo ligando para avisar a tia Leonor (cunhada) e tia Saída (irmã). Disseram que meu tio e primo já haviam ido para o hospital.

A parte mais triste foi esta, pai. Pelo que sei, a Mi, o tia Dua e o Du subiram juntos, mas você já estava morto. Na sequência, chegamos eu e mammy´s. E não teve cena pior do que te ver pálido e sem respirar, como todos chorando ao seu redor. E você deve ter ouvido o choro gritado da sua esposa linda, que não acreditava no que via.

Saí do quarto surtada com meu primo, também muito triste. Nos corredores do hospital, o mundo continuava normalmente – as enfermeiras correndo, os visitantes, os equipamentos... Tinha até gente rindo. Assustador pra mim. Logo veio alguém levar seu corpo para autópsia e precisávamos encaminhar para o velório. Du me ajudou e, logo que chegaram as tias com o outro primo, fui resolver tudo com o Fernando. Seus dois sobrinhos me ajudaram bastante, paizinho.

Mesmo com o Fer dando aquela força, porque eu não tinha condições para dirigir, fui eu quem decidiu a roupa que você usaria (bege, claro), seu caixão (bege, claro, e de madeira boa porque você era um cara que manjava de madeiras), a coroa, o enterro... Eu tremia e chorava na frente dos funcionários que ficavam me passando preços e perguntando seus dados – não sei como, mas eu sabia tudo de cor e salteado, pai. Também, você sempre foi tão organizadinho que deixou as coisas certas pra gente.

O velório e o enterro são capítulos à parte. Mas posso dizer que, entre sábado (quando cheguei de Londrina pra te ver achando que só passaria o final de semana) e sábado (quando você se foi), tive a pior e a melhor semana da minha vida com você. Nos encontramos de alma, meu lindo. Tivemos tantas brigas ao longo dos anos, mas eu pedi minhas desculpas e disse que você foi, sim, um grande pai. Foi o meu pai, com gênio difícil, mas que foi o amor da vida da minha mãe, e que viveu por nós. E íntegro como poucos.

Como disse a Vanessa, amiga minha de quem você tanto gostava, a morte não é opcional. É obrigatória. E você teve a maior benção de todas: morreu dormindo.
Merecido.

Vai com Deus e Jisuis Cristo, pai, como você sempre falava pra gente.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

Lances da Campanha

Primeiro, o PSDB fica naquele lenga-lenga entre José Serra e Aécio Neves pra presidência. Indica Serra e manda o mineiro para o banco de reservas. Depois, fica masturbando a história do vice e cogita ser uma mulher, claro. Qual? Bem, como não se acha ninguém, logo se volta novamente os olhos para Aécio, sempre Aécio, mas não seria o caso... Continua a indecisão. E, como se não bastasse, depois de finalmente anunciar o desejo de ter Álvaro Dias (do próprio PSDB) para vice, os tucanos entram numa fria retuitada com o DEM - fato que ajuda a jogar lama em uma campanha que começa mal. Ao ser questionado sobre o senador paranaense, na própria sexta-feira do anúncio, Serra foi pior do que qualquer marqueteiro mequetrefe orientaria. Disse, simplesmente: “É um bom nome”.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

PRrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!

Fui procurar onde fica Tamarana, no Paraná, por interesse jornalístico, e acabei caindo na gargalhada de forma desmedida. Passei mal de rir.

Tamarana fica a sul de Londrina - não tão distante daqui. Mas o lance é olhar os nomes das cidades da região. Gente, de verdade, o Paraná tem uma criatividade única para titular os municípios - principalmente os mini. Vamos a alguns deles - apenas alguns:

- Califórnia (a pessoa pode dizer que é californiano...)
- Marilândia do Sul (e a o norte? e quem era Mari?)
- Pitanga (já nasce fruta)
- Reserva (aí eu já tô gostando....)
- Ortigueira (não sei, me lembra alergia, coçeira)
- Faxinal (nem ferrando...)
- Catanduvas
- Prudentópolis (estes dois últimos, em homenagem ao estado de São Paulo, só pode)
- Ventania (terra dos cabelos despenteados)
- Tomazina (n.a.d)
- Terra Boa (e por que não seria?)
- Sarandi (parece nome de pousada na Ilha do Mel ou em Brotas)
- Quedas (para quando bater a deprê)
- Assis Chateaubriant
- Capanema (estes dois últimos, para mostrar o poder da comunicação no Estado)
- Assaí (com dois esses, e nem sei se dá energia...)
- Glória de Dourados (não é perto de Tamarana, mas achei insano suficiente para colocar aqui).

terça-feira, 15 de junho de 2010

Paixão e/de/no/pelo futebol

Adoro futebol. Entendo pouco, mas tenho orgulho, porque sei que evoluí muito nos últimos mundiais. Mas queria ser homem só para saber a escalação da Copa de 70 de cor. Não sei, e, como mulherzinha, me contento em curtir o Corinthians, ler o Lance! e xingar o juiz. De boca cheia.

Nas Copas do Mundo, o clima é outro. Já fui mais animada e nacionalista. Me vestia toda de verde e amarelo – meio ridícula, devo admitir – mas não sabia picas. No mundial de 90, tinha uma grande turma que fazia uma festa por jogo – e, depois, a comemoração era no BB Batatas. Eu tinha uns 16 aninhos, e nem imaginava o que era um impedimento. Mas foi ali, em uma das comemorações, que eu me apaixonei pela primeira vez.

Já na Copa de 94, eu estava no primeiro ano da faculdade de jornalismo na Unesp. Namorava o Mário, e todas as minhas amigas tinham namorados “firmes”, como o meu. Nos reuníamos, geralmente na Paola, e era muita pipoca, cerveja e caipirinhas. Ganhamos da Itália, mas eu ainda não entendia o lance das prorrogações e as regras que nos levaram à vitória. Mas adorei os pênaltis – fáceis de entender.

Já em 98, a felicidade plena. Estava em Nova York, e assisti aos jogos em diferentes situações – todas nos bares da cidade. Um deles foi com o pessoal do Manhattan Connection; outro, foi com a Dany Gorla que estava me visitando; no outro, fui com o holandês que acabou virando meu namorado ali, entre um gol e outro, me acompanhando até na vitória do Brasil com a Holanda. Mas, na final, lembro até hoje: fui sozinha em um bar que amava, na rua 14, e só depois de alguns minutos de jogo percebi que só tinha francês. Voltei para casa, eu e minha camisa brasileira, ouvindo todos me dizendo: “not a good Day to Brazil”, “what a pitty”, “too bad today”, “what the hell happened?”....

Superei a frustração e fui com tudo para a Copa de 2002, também marcante para mim. Assisti grande parte dos jogos na estrada, porque dava aulas em Sumaré (região de Campinas) e Assis. E que delícia é ouvir jogos no rádio! Foi ali que despertei essa paixão. E, quando o Brasil fazia gol, era um tal de todo mundo buzinar que a estrada virava festa, com todo mundo correndo, no máximo, 80km/hora. Até parei em um posto cheio de caminheiros, no jogo com a China, que foi de goleada, para vibrar com os trabalhadores que não podem estar em casa nessa hora. Gostei mais do que a final – que assisti em casa, com meu marido na época.

Quando chegou 2006, eu atingi meu ápice dos mundiais. Grande parte dos jogos eu vi na redação do BOM DIA, com a turminha de melhores jornalistas com quem trabalhei. Meia hora antes do jogo, o povo já começava a estourar pipoca e buscar a cerveja no boteco do lado. Fora os bolões que rolavam entre todos – eu ganhei uns quase 200 paus só no chute. E ainda tinha a coluna do jornal em que todas as mulheres da redação escreviam: “Lugar de mulher é na Copa” (usado pelo canal GNT neste mundial). Adorava escrever. E,quando não estava na redação, quando tinha uma folga, assistia em casa, com o namorado João, por quem eu era absolutamente apaixonada. Brasil perdeu, mas eu ganhei muito nesta Copa: aprendi a pensar uma cobertura jornalística local para o evento mundial, vi jogos bonitos com gente que eu amava, e acumulei histórias.

O que será de 2010?
Em Londrina. Na UEL. Radiojornal e a cobertura. Copa no meio do Filo e fechamento de semestre. Primeiro mundial da Shú, que odeia fogos e cornetas. E a minha mãe com três costelas quebradas em Bauru por dois meses. Complicadíssimo.

Em termos de torcida, tô contra. Não acho que o Brasil deva ganhar, de verdade. Tem eleição, uma eleição importante e que poucos tem discutido com profundidade. Governo do Estado. De SP e PR – e os dois me importam. Senadores, deputados e uma(um) presidente. Para mim, é meio que como a Copa de 70, quando a euforia mascarou um processo político nojento. No caso de agora, 2010, não é grotesco assim, claro. Mas já tem muita purpurina rolando. Lula é o cara, o político do ano, Brasil cresceu, cresce, vai crescer, já vamos ter Copa, Olimpíada etc e mais. Eu até que gosto do Dunga, acho ele merecedor, mas não consigo ter simpatia alguma pelo Kaká e só critico o fato de não ter nem um mísero jogador corintiano na seleção.
Na boa, e dentro dos limites da minha relação apaixonada e ignorante pelo futebol, a pergunta é: se é para levar o evangélico-virgem-contundido do Real Madrid, leva meu gordinho mais lindo, o artilheiro de todas as Copas, o fenômeno, humano, mas que faz, que impõe, que é inteligente como poucos e respeitado fora do Brasil. Aqui, não. Vale mais o bonitinho que vai ver quanto tempo consegue jogar. Sinceramente. Torço para Inglaterra e Argentina. Só porque é bom a gente ter pé no chão e querer manter o país evoluindo. A bola da vez precisa se manter na jogada – não deslumbrada pelas comemorações.

Ps. O primeiro jogo começou agora. Meu coração está disparado e já quero ganhar. Vai Robinho, pedala! Que merda ser brasileira! Não há racionalidade que resista.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando sábado chegar


Ah, como eu amo os sábados. Dia sagrado para esta libanesa aqui, e não sagrado no sentido da reclusão – mas por ser abençoado e cheio de rituais, de belos momentos. Tive alguns sábados que são muito inesquecíveis. O primeiro que eu me lembro com esta importância foi o 4 de julho de 1998, Independence Day, em Nova York. Um americano muito gente boa, o Harry, me levou para dar uma volta de helicóptero por Manhattan. Vi os fogos ao meu lado, no por-do-sol lindo do verão de lá, em cima do enooorme Central Park, rodeando a pequena Estátua da Liberdade... Eu ria sozinha, porque não acreditava no que presenciava. O medo da altura foi embora em um minuto. E ainda voltamos de carro do Brooklyn de volta para o centro, vendo os fogos na Brooklyn Bridge.
Também me lembro do primeiro sábado em Londres. Maysa, uma amiga jornalista, nos levou passear em Camden Town e nos mostrou o que seria nosso ano naquele lugar. Fiquei boquiaberta a maior parte do tempo. Tudo muito diferente: pessoas, lugares, estéticas, conceitos, liberdades, interação... Foi o começo.

Atualmente, meus sábados cotidianos são mais tranquilos e não menos emocionantes. E é porque eu simplesmente amo os sábados, e sempre sempre sempre os aproveito com o mínimo de dignidade. Claro que já tive sábado triste, de choro, de hospital com alguém querido, ou com algum dedo meu quebrado... Mas a regra é alegria – porque é sábado e dá para fazer quase qualquer coisa. Você ainda tem o domingo para descansar, e vem do pique todo acumulado durante a semana que, às vezes, demora a terminar. Eu, geralmente, já tenho uma pequena gama de possibilidades sabáticas.

Na casa da minha mãe, o sábado é uma delícia porque a Vicentina está lá também, e sempre ficamos batendo papo na cozinha ao som dos beijos da Mileninha e com o aroma dos temperos da casa. Atualmente, quando vou para Bauru, perco parte do sábado na estrada. Perco, não. Ganho. Porque é sábado, e a estrada fica ainda mais gostosa. Tem caminhão? Tem. Mas o clima é outro. O segredo é sair cedinho e ir sem pressa para “a-pressiar”.

Tem sábado que eu passo na casa da Paola – na piscina, em almoços longos na varanda, com nossa tchurma ou só eu e ela. Tem sábado que eu fico no Fá – tomamos vinhos, lemos a Folha, assistimos tevê e rimos, sempre, muito. Tem sabadão que eu vou para os botecos. Aliás, não tem “baladinha” melhor pra mim do que uma tarde de sábado no Português, no Varanda, no Amadeus, no Aeroporto de Bauru... Rola até um sambinha.

Tem sábado que eu descanso para poder sair à noite – em Nova York, chama-se “disco nap”. É aquele cochilo para os adultos com mais de 30 conseguirem aguentar uma festa até mais tarde. Já tive meus sábados de mudança de casa e meus sábados de trabalho. Dia 19 mesmo, eu vou ter um desses: aula na pós da UEL, sábado inteirinho. Tive, tenho e sei que ainda terei muitos sábados de reclusão estudando: durante a tese, para escrever artigos, montar aulas, pesquisa, ler, quem sabe para começar a pensar em um pós-doc... E eu adoro. Vou intercalando com um jogo de futebol, um noticiário, um Saia Justa, um Furo MTV, uma hidratação caseira nos cabelos, e dá tudo certo.

Gosto de deixar a janela aberta para ver o sol do sábado, e a energia deste dia tão mágico. Cozinhar no sábado também é mais gostoso porque se tem mais tempo. Pode-se deixar a berinjela no forno devagarzinho enquanto se limpa a casa, ao som de alguma banda dos anos 80. Sim, anos 80 é ótimo para dar pique nas coisas. “Romeo had Juliete”, do Lou Reed, ou “She´s so cold”, dos Rolling Stones, fazem a vassoura virar microfone em um minuto. Mas só aos sábados. Também é o melhor dia para receber visitas. Dá para fazer almoço, jantar, lanche, até ceia. Sábado deve ter fartura e qualidade – é quando degusto meus melhores vinhos, ingredientes e sorvetes.


É o melhor dia para se ficar com quem se gosta, mas também é o campeão para se passar sozinho. Certamente não é um dia para fazer compras – está tudo lotado pelos que não tem tempo durante a semana. Em Londrina, o único lugar permitido para mim, aos sábados, é o Shangri-lá – porque lá é gostoso e diferente a cada dia da semana. Dá para comprar todos os jornais que eu gosto, pegar aquele pão integral fresquinho e tomar um café da manha meio brunch. Outro lugar para brunch de Londrina, e que é gostoso aos sábados, é a Pandor. Sem a pressa da semana, dá para pirar na degustação dos cafés e pães de lá. Porque sábado não tem relógio.

Sábado também é dia de assistir filmes. E em casa. Nem me arrisco no cinema – a não ser o ComTur, da UEL. Mas eu costumo guardar alguns bons filmes e/ou seriados para o sábado. Porque, de repente, você não quer que o sábado termine, e seu organismo acorda (como eu faço) para ver um pouco do Altas Horas, e, depois de um cappuccino, o corpo já está pronto para uma sessão de cinema na madrugada sonora do sábado. Ou o livro que eu sempre deixo para terminar no sábado; para terminar o sábado. Sempre nas madrugadas. O momento no qual eu quero me agarrar. O ainda sábado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

10 tipos de gente para se ter cuidado, muito cuidado


1. Aqueles seres autocentrados demais para enxergar o outro. E, por isso, não tem respeito. E você vira um mero objeto de desejo, carência e neuroses, no plural. Acham que a relação com o mundo é de mera usurpação. Eu quero, e pronto! As simple as that.

2. Racorosos, odiosos e afins... São péssimos. Carregam aquela luz vermelha no olhar e sabem franzir a testa como ninguém. Geram, em mim, taquicardia e tremedeira.

3. Gente que sempre cumpre absolutamente com tudo o que fala. Meio estranho conseguir fazer isso hoje em dia.... Eu prefiro quem falha. Aliás, estou prestes a montar um grupo dos "eu falho, sim!". Porque tem um perfeccionismo irritante pairando no ar.

4. Pessoas que não gostam nem de crianças nem de animais. Ou que nunca se emocionam com eles... Desconfie.

5. Quem culpa, repetidamente, os outros pelos próprios problemas não é de se confiar, não.

6. E os que nem olham pra cara do garçom no bar, do frentista no posto, do seu próprio porteiro? Só mandam, exigem, reclamam. “Bom dia” e/ou “por favor” - dói?

7. Pessoas que não suportam ficar sozinhas são duvidosas. E carentes demais.

8. Quem cobra, cobra muito, cobra sempre, mas detesta cobrança. Complicado.

9. Visitantes que chegam na sua casa sem avisar antes. Só na Bahia se pode fazer isso. E olhe lá.

10. Quem não respeita a própria mãe não merece confiança, salvo alguns casos perdidos. Mãe é mãe. O resto, é Freud.

sábado, 15 de maio de 2010

A Morte


Bauru teve um sábado atípico hoje. No lugar da agitação dos botecos e da preparação para as baladinhas noturnas, toda uma geração passou pelo velório do meu primo, Marquinho Giosa, Neme por parte da mãe, minha tia Nilce. Querido por todos, solteiro convicto e animado por natureza, ele misturava o jeito árabe com a herança italiana do pai Antônio. Onde quer que ele me encontrasse, de longe ou de perto, gritava, em tom quase cantado: Primaaa... Teve um infarto fulminante na rua, logo depois do almoço. Tenho certeza que ele tinha um convite da W ou do Santa Madalena no bolso pra noite. Marquinho foi cedo, com 54 anos, e parecia que tinha uns 46, no máximo. Mais uma vez, sinto à distância a dor da minha família.

Queria poder me despedir dele. Deixo a poesia, porque não há o que falar nem fazer.


A morte chega cedo
(Fernando Pessoa)

A morte chega cedo
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.


O amor foi começado
O ideal não acabou
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.


E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

O CECA, o Filo e meu pé vermeio


Todos precisam conhecer aqueles bancos de concreto que circulam árvores nos prédios em “u” do Centro de Educação, Comunicação e Artes, nosso CECA, da UEL. Lugar mágico - qualquer um faz o que quiser. E melhor ainda: sempre com uma boa trilha dos alunos de música, ou um divertido ensaio do pessoal de Cênicas. Tem gente que tira um cochilo, namora, estuda, orienta alunos (eu), fuma seu cigarro (eu, again), discute relação, faz reunião, tudo tudo tudo nos bancos do CECA. Um espaço mágico pra mim. Foi meu primeiro contato com a universidade. Quando me inscrevi para o concurso de professor substituto, em março do ano passado, minha irmã sorteou o tema para mim, montei a aula em Bauru, vim cedo para Londrina. Irmã e sobrinha me levarem até lá. Ficamos sentadas nos ventilados bancos até dar 14h, e eu falei que já havia amado aquele lugar. No dia, tocava Tom Jobim. Eram as águas de março abrindo um outro outono, o meu primeiro outono na cidade. Agora, chego ao meu segundo inverno londrino. E o melhor sinal disso nem vem do meio da neblina que bateu na quarta-feira. É o Filo, que divulgou esta semana a programação 2010 em todos os meios de comunicação da cidade – menos no site oficial do festival de teatro. Indico a reportagem do JL: http://portal.rpc.com.br/jl/online/conteudo.phtml?tl=1&id=1002759&tit=Filo-2010-tera-50-espetaculos. Apesar do tropeço inicial na divulgação, e da indecisão em relação ao Cabaret (shows pelos bares da cidade – em linhas diretas: a “balada” do Filo), estou achando que esta edição vai ser de esquentar qualquer pé. Desde que seja vermeio.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nobody said it was easy


A pior consequência do envelhecimento não está nas alterações físicas. Ruim mesmo é ver nossas pessoas morrerem. Depois dos 30, pais, tios, avós, primos, amigos, ex-colegas de trabalho, ex-vizinhos e afins ficam, de alguma forma, mais próximos do fim. Mas a gente nunca se prepara para isso. Somos mortais com panca de imortais.

Um sentimento ainda mais difícil me abateu no domingo. Depois de já ter presenciado a perda do pai de duas grandes amigas-irmãs nos últimos anos, e que não foi fácil mas eu estava ao lado delas, passei mais de 30 horas angustiantes entre a notícia da morte do pai do meu amigo (amigo, não, irmão) e seu enterro em Bauru. E eu aqui, em Londrina. E eu aqui, querendo estar lá. Presa no meu belo apartamento novo que perdeu a graça frente a um acontecimento tão súbito quanto angustiante, triste, revoltante. Seu Henrique estava em pleno Pantanal, pescando com os amigos.

Meu coração ficou apertado, dolorido por não estar lá. Sei que todos os outros que o amam o confortaram, mas a impotência de não poder abraçar a dona Arlete, segurar na mão do Fá, buscar o quê ou quem preciso fosse... A dor da perda se misturou à dor da distância. E eu passei a segunda-feira chorando entre as ligações para a Net, as idas aos bancos, o transporte de mais alguns livros do apartamento antigo...

Em um determinado momento, no semáforo, começou a tocar Cold Play, e eu instantaneamente me lembrei do Fá, já cheia de lágrimas. Um motoqueiro simpático disse: “Oh, moça, não chora, não. As coisas vão melhorar”. Sorri, agradeci, mas não falei o que realmente pensava. Na verdade, o motivo do choro só tende a piorar, motoqueiro. Quanto mais gente amamos, mais sofreremos ao envelhecer e perdê-las – ou ver nossos queridos encarando um momento desses. Ou, pior ainda, não poder estar junto.

Para nós, mortais por enquanto, fica a única saída de brindar a vida. Com cerveja e compotas de doce, como seu Henrique tanto gostava.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

O novo porto


Minha casa em Londrina, a partir de sábado, será na rua Alagoas. Eu sei que o estado é terra de Collor, mas a posição geográfica ajuda: fica entre as ruas Paranaguá e Santos, dois portos, duas saídas para o mar, duas cidades pelas quais passei mais de três vezes na vida. É, acho que estou em casa.

O apartamento é melhor do que eu esperava e maior do que precisava, mas, depois de ver uns 20 lugares para alugar, como resistir a este? Sala grande, irregular, belamente iluminada, e já com um espelho na parede e pregos para meus quadros (que estão no porta-malas do carro), dois belos quartos, mega área de serviço com lugar pra cachorra, cozinha grande (mas que falta umas prateleiras), uma suíte de chorar, de tão linda, e dois banheiros inacreditáveis.
Negociei o preço do aluguel. Com condomínio caro, nenhum proprietário quer ficar amargando um apartamento por mais de alguns poucos meses. Mas, pelo que soube da imobiliária, o fato de ser eu – só eu – sem filhos nem amigos para dividir o apartamento, contou bastante na decisão. A lógica é que sou uma melhor candidata porque, sozinha, tendo a depreciar menos o apartamento. É a primeira vez que vejo uma coisa single ter vantagem sobre os pacotes familiares – que vão de viagens até pacotes de comida.

O transporte dos móveis de Bauru será daqui uns dez dias. Enquanto isso, vou me virando com o que tenho. A maior preocupação, por enquanto, não é em relação ao eco de um apartamento vazio, nem à estranheza que vou sentir num apartamento grande. O lance é a Shú, que demorou pra se acostumar com este apartamento e que, agora, terá de mudar de novo, para um labirinto de três quartos. Fico preocupada com ela, porque a bichinha é apegada. Até hoje, depois de um ano de Londrina, eu sinto que ela fica mais feliz quando vai pra Bauru.

Ontem, conversamos:
- Vem, cá, meu anjo, preciso te contar uma coisa: a gente vai mudar de casa.
Shú me encara fixamente, e agrava ainda mais as rugas naturais da testa. Ela para de fazer qualquer coisa quando eu falo.
- Eu sei, neguinha, que não foi fácil você se adaptar no Chamonix, mas aqui não é nosso lugar. Vamos mudar de apartamento?
Shú lambe os beiços. Ela associa o verbo “querer” com comida e passeio. A coitada ainda tenta arregalar mais seus olhos chineses e semi-vesgos, louca para reagir a uma fala ou atitude minha.
- Não, anjo, não... Tô falando da nossa nova casa. Você vai ter um quartinho pra você, vai ter um monte de lugares pra explorar, tá? E tem sacada, shulé, pra ver a lua, o por-do-sol... Vai ser uma delícia...
Shú se empolga e começa a abanar freneticamente seu rabo virado para dentro do corpo – compenetradíssima em mim. Eu aproveito a deixa:
- Mas não quero reclamação no começo, cã, e eu sei que vai ser superdifícil. Você não pode atrapalhar, Shú da Silva, porque não vai ter um monte de coisa e vai demorar um pouco pra gente se sentir em casa. Mas não pode fazer palhaçada de ficar tristonha quando ficar sozinha lá. Não pode!
Shú começa a querer lamber meu queixo, no seu melhor pedido de desculpas. Ela é assim: quando eu falo “não”, ela já começa a se redimir. Tadica.

É aquela coisa do bicho se parecer com o dono. Na minha opinião, é pior: a Shú é minha caricatura. Ansiosa, apegada e adaptável ao extremo. Eu mesma ando me despedindo deste mini-apê que morei, porque ele será, para sempre, meu primeiro apartamento em Londrina, onde mais me encontrei e encarei o conflito e a identidade com a nova cidade. Me adaptei porque não é a primeira e talvez não seja a última “casa” que deixo. Mas a casa nova, mesmo que venha a ser provisória, será meu porto seguro por um tempo. Entre Santos e Paranaguá.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Manual para alugar um apê em Londrina


Estou de aviso prévio no meu um-quarto-mobiliado-provisório há umas duas semanas, mas já venho olhando apartamentos desde janeiro, quando percebi que minha residência daqui pra frente é mesmo em Londrina.
Adianto o resultado: é difícil pra caramba. Nunca achei que fosse uma epopéia achar um bom lugar no centro, com dois ou três quartos, sacada (quanto maior, melhor), dois banheiros, cozinha bacana porque eu gosto de cozinhar, armários sem aquele cheiro de mofo, banheiro com box blindex (meu luxo; acho que faz uma diferença) e armários (tenho tara por cremes), além da exigência de ser em andar alto. Bom, tudo bem, acabei de perceber que minha lista não é pequena, mas, caramba, nem estou miguelando no orçamento...
A questão é que Londrina tem uma dinâmica própria muito diferente do que já vivi quando loquei apartamentos em Bauru. E esta experiência trouxe algumas revelações:

1. O mercado imobiliário daqui é superaquecido. É irritante, efêmero e impessoal. Gente mudando, gente construindo, alugando, só querendo vender, voltando pra Londrina. Mas nenhuma imobiliária se preocupa realmente com o que você quer – principalmente se quiser algo fora das áreas em desenvolvimento.

2. Tentar direto com o proprietário parece ser mais difícil ainda. Primeiro porque, se você for partir dos jornais, precisa ir direto para a Folha de Londrina. São três cadernos no domingo só de imóveis. Fui ver uns cinco apês de anúncios de três linhas. Foi frustrante. Em segundo lugar porque, em termos de imóveis, as imagens falam muito mais do que apenas algumas linhas de palavras abreviadas (2qts,1suite,wcsocial,sac,coz.plan.,gar!!!).

3. Encontre corretores sensíveis e que te ouçam. Tem gente que fica tentando me enfiar na Gleba Palhano – região nova da cidade com várias avenidas, prédios e condomínios, mas sem padarias, sem gente, cachorro ou banca de jornal. É lá que estão os apartamentos brand new. Mas eu não vou, ah, não vou mesmo.

4. Se queres morar no centro, também não dá para pensar em nada aquém do sexto andar. A proximidade de prédios tira totalmente sua privacidade e, neste sentido, aquela sacada tão almejada pode virar depósito ou vitrine, dependendo da sua atitude.

5. Se gostou, faça a proposta por escrito no mesmo momento. Sim, porque se você for como eu, que passa a noite pensando, fazendo contas (mania de ariano), rabiscando no papel a disposição da casa, e liga apenas no outro dia para confirmar o interesse, vai perder. Eu deixei pelo menos dois belos apartamentos serem alugados por outrem porque foram mais rápidos. Quando em Londrina, aja.

6. Só aceite o apartamento mobiliado se ele for equipado com coisas novas e boas. Se for velharia – como na maioria dos casos – prefira um pelado e vá até a Duque de Caxias, uma rua temática com vários móveis, geladeiras e afins usados. Tem produto praticamente novo e relíquias charmosíssimas. Ah, e não se engane: distingua mobiliado de semi-mobiliado. As imobiliárias e os proprietários confundem.

7. Se você está chegando agora em Londrina, sacrifique um pouco a economia, aperte o cinto nas tentações das piscinas/fitness centers “palhanas”, e more no centro. É lá que é possível se sentir parte da cidade. O centro tem vida, tem gente, todo tipo de gente, gente andando, tem cachorro e lixeira, tem lojinha, bar diferenciado e boteco, tem banco e supermercado, cheiro de pão quente, tem acesso pra todos os lugares, rodovias... Tem trânsito também? Tem. Tem acidente de carro? Muito. Violência, furto, assalto com morte? Tem. Mas o centro é o centro – lugar de histórias e também possibilidades. Até para procurar lugar pra morar, é mais fácil lá: faço minhas visitações andando, procuro os prédios que gosto nas caminhadas com minha cachorra. Por isso, digo e repito, sem receio algum, o mantra que tanto apavora os corretores de imóveis daqui: “eu quero morar no ceeeennntroooo”. E dá-lhe pernas.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Londrina.36


Foi meu primeiro aniversário na nova cidade – cada vez mais, a minha casa. E foi incrível. Acordei inexplicavelmente feliz – e a falta de motivos para isso era porque precisava recolher exame de sangue para meu novo contrato com a UEL. E precisava madrugar, já que ainda me movo muito mal naquele campus sem fim. Mas tinha um presente na minha porta: a vizinha Ge, tão querida, deixou um tinto argentino Navarro Correas Ultra, trivarietal. Garrafa bojuda, com caixa estruturada e a explicação de que ele é dedicado ao prazer. Guardei para a inauguração do novo apê.
O banho foi ainda mais feliz, o frio com sol estava belíssimo, e eu nem demorei tanto para achar o HC para sugar meu sangue. Detalhe: o bom humor resistiu à vontade quase incontrolável de encher minha boca de café, cappuccino, água! Alguém precisa inventar reagentes para os exames não precisarem de jejum. Acho desumano ficar 12 horas sem nada. O curioso é que, pelo que me lembro, em São Paulo, acho que são 10 horas sem comer e 7 sem tomar água, algo assim.
Enfim, peguei a senha 19 e percebi que estavam no 10. Depois de uns poucos minutos, engatei de conversar com a senha número 15, sentada ao meu lado direito. Professora de química. Depois engatei um papo com a estudante de pós que lia textos de sociologia à minha esquerda. Texto de esquerda, claro. E ela era de Bauru! Quando olho, uma moça acenando alegremente pra mim. Retribuí com cara de dúvida, claro, e ela logo veio esclarecer que achava que era eu era minha irmã. Ainda somos confundidas por aqui – parece que voltei para a época da Plenty com BTC, quando eu e Mirelle éramos quase idênticas.
Voltando à sala de espera, mesmo batendo papo, aquilo não tinha fim. Um médico veio conversar e eu logo avisei para ele tirar aquele café de perto de mim para evitar cenas Tarantinescas. Eu quase avancei no cara, de verdade. Finalmente me chamaram. A enfermeira, assim que olhou o agendamento do exame para 09/04/2010 e minha data de nascimento 09/04/1974, começou a rir... “É seu aniversário, e você veio fazer exame?”. Mas o pior já havia passado porque eu até gosto de ver as ampolas saindo. E foram 3 grandonas e 2 pequenas. Lembrei do Tru Blood, seriado vampirescamente delicioso que conheci no final do ano passado e que está na segunda temporada. Acho bonita a cor do meu sangue vegetariano. Dizem que é mais doce pela falta de toxinas.
Mas doce mesmo estava aquele café fraquinho do HC. Tomei assim mesmo e fui correndo para o Caramelo tomar um café Caramelo, artisticamente elaborado pelo Luciano. Ge parou lá para tomar um café comigo. Voltei para casa fazer curativo na cachorra que quebrou feio a unha. Minha mãe ligou e meu anjinho Milena cantou parabéns pra mim – e é a cantoria mais bonita do mundo com o jeitinho dela...
Fui almoçar com irmã e sobrinha em um restaurante especial: o Villa Fontana. O nhoque de mandioquinha com creme de gorgonzola foi de chorar. Acho que o melhor da minha vida, de verdade. A receita foi mudada pela vegetariana aqui; a original tinha tiras de filé mignon, que enriqueceram o prato da Mirelle.
De lá fui fazer unha – necessário. Voltei, conversei com o pessoal do prédio, desci com a Shú para tirar o lixo, ela correu com sua atadura pelo estacionamento, banho e UEL. Nas duas primeiras aulas, a turma já tinha um exercício de texto agendado. De repente, eles começam a cantar parabéns. Uns figuras que conheci este ano. Nas duas últimas, era minha turminha já conhecida, a turma do Radiojornal do ano passado, que estão encarando as Teorias de Jornalismo comigo agora, e que estão sempre muito próximos de mim. Fizemos até amigo secreto ano passado.
Eles já chegaram com caixas de salgadinhos e refri. Só eles mesmo. Grande parte da aula virou festa com direito até da presença do seu Luiz, grande seu Luiz, secretário do nosso departamento que tem olhos do Chico Buarque e é amado por todos.
Teve discurso, muita gargalhada, fotos, vídeos... Tudo, menos teoria. Prática acadêmica no melhor sentido da palavra. Voltei com três alunos de carona: Fabrício, Allan e Guilherme. A cidade estava eufórica – como eu.

No sábado, o aniversário estava marcado para Bauru, junto com meus amores que são muitos. Mas foi em Londrina que comecei meus 36 anos, meu novo ano, na cidade que ainda é nova pra mim, com gente sempre nova, lugares diferentes, outras sensações. Uma coisa eu tenho certeza: a idade ajuda a gente aproveitar melhor as oportunidades que o mundo sempre nos oferece. Idade traz calma. Traz uma urgência calma. Talvez aguce o discernimento. Sofre-se menos, eu acho. Mas usa-se mais cremes, com certeza.

Bauru.36


Quando eu achei que meu aniversário já estava ganho, ainda me surpreendi. Saí de Londrina sábado cedo para a comemoração no interior paulista. A estrada estava linda, calma, e eu fui no embalo de Count Basie e John Coltrane. Trilha de quem fez 36. Ao chegar em Bauru, passei no meu apê para deixar umas malas e a cachorra. Subi três lances de escada e, quando vi minha porta, precisei checar o número do apê para ver se estava certo. Tinha um pratinho de bolo das Garotas Superpoderosas cheio de fitinhas preso na porta. Só pude pensar que a neta do porteiro tivesse feito aniversário e ele quis animar meu apartamento solitário de Bauru.
Quando entrei, a emoção: estava tudo decorado. Bexigas, pirulitos, fitas, enfeites, presentinhos e cartazes, vários cartazes feitos pelos melhores amigos que o mundo poderia produzir: os meus! Joguei as malas no chão e caí no choro, gargalhando com lágrimas de alegria a cada passo que dava. Em todo cantinho tinha um mimo. Até no banheiro eles colocaram bexiga! Na geladeira, um bolo delicioso com o recado: “Com amor... NÓS!”. Os escritos davam conta de que Paola (a festeira mais amorosa e profissional do mundo), Fabrício (criativo e no embalo) e Laura (carinhosa e original como só ela) tinham armado a festa. Mas tinha registro, também, de Dani Guedes, Beto e Clarinha – o casal com filha que completam nossa tchurma.
Eu chorava emocionada... Não acreditava que em plena sexta-feira, 21h, eles estavam na minha casa enchendo bexigas para mim. Imaginei as combinações, a troca de emails, pegar a chave com minha mãe...
Tudo estava lindo, e eu custava a acreditar que mereço tanto. Mas acho que nem é questão de merecer ou não: é sorte. Quem pode ter amigos tão leais e amorosos quanto os meus? Não, não é privilégio de muitos mesmo.

Fui para minha mãe almoçar o banquete dos deuses de Norma, que também tinha bolo. Quando a levei para ver a obra no meu apartamento, chorei novamente. Saí, voltei e, quando abri a porta, de novo a emoção. Dava risada sozinha quando ia fazer xixi com aqueles enfeites todos... Tentei descansar quase em vão – estava eufórica demais pra isso.
O combinado era o povo ir em casa para um “esquenta” e nosso brinde antes de sentar no Dublin´s. Pouco depois das 21h, chega Fá e Pá, seguidos por Dani, Bé e Cacá. Brindamos com saquê – está virando uma tradição – e eu fui abrir os presentes. Meus amigos são exagerados no grau mais perfeito das possibilidades. Sempre sempre sempre acertam no que escolhem e, dessa vez, não foi diferente. Clara e Beto ficaram curtindo a Shú, todos rimos, nos divertimos, contamos histórias e esticamos o horário previsto. Laura chegou de um casamento, parecendo uma princesa. Parecia que a festa era em casa mesmo, mas mesmo assim fomos ao Dublin´s, e fomos tarde, graças ao santo protetores dos boêmios, porque o bar decaiu trocentos por cento e ficamos pouco por lá.

No domingo, minha tia Leonor, linda e amada por todos, me mostrou que meu aniversário não havia terminado. Foi na minha mãe me dar um beijo e uma lembrançinha, que também é para a minha nova casa.
Na segunda, vim para Londrina. Pouco depois de chegar, minha mãe liga avisando que meu vizinho, eterno vizinho de Bauru, deixou um vinho de presente para mim. Acredito que seja português, dado o histórico. Tenho certeza de que é bom, considerando o extremo bom gosto. Na terça cedo, meu aluno cinéfilo Beto me dá um DVD do seriado Nurse Jackie, gravado para mim. Na quarta, assinei o segundo contrato com a UEL, acumulando duas responsabilidades, dois crachás e dois salários. Mais tarde, o Timão me dá aquela alegria que só corintianos conhecem. Na quinta logo cedo, fico sabendo que a nossa candidata à reitoria da UEL ganhou a eleição. Pois é, as comemorações não acabam.

Muito coisa para um aniversário só. Isso porque eu nem contei dos emails, mensagens e recados carinhosos que recebi... Foram mais, muito mais de 36 motivos para mudar de idade sem receio algum. Porque, nas celebrações deste novo ano, ganhei os melhores presentes. Ganhei amor. E nas duas cidades.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Determinismo astrológico


O período que antecede os aniversários sempre são conflitantes. Coisas mudam e, sabe-se lá como, você fica mais introspectivo. Lembro de infernos astrais tenebrosos dos meus amigos. Tempos de mudança de emprego ou de perda de pessoas amadas. É o inferno na terra porque não dá nem para dormir. Eu também já tive um pré-aniversário sinistro. Foi ano passado, mas foi pela metade. Explico melhor. A primeira parte do inferno antecedeu a defesa do doutorado. A once-in-a-lifetime-situation quase comeu meu estômago de ansiedade. É angustiante pensar que quatro grandes professores iriam avaliar meus anos de pesquisa ali, em uma situação que bem parece um julgamento. E, como num filme do Fellini, passei do inferno ao paraíso em poucos takes, na comemoração do doutorado com os amigos, a aprovação para professora substituta na UEL, o meu aniversário... Comecei meus 35 tão feliz, tão cheia de esperança, que, dia 9 de abril deste 2010, estou pensando em ficar nos meus 35 anos – bem mais jovialmente e estruturalmente arredondada para os 30 do que os 36 (mais próximos do outro dígito). Depois, já decidi: pulo direto para o 37 numa boa. Bom, nem tanto numa boa assim. Se o inferno continuar incerto, quem sabe eu espere até meus 40 para mudar, de uma só vez, a idade, a década e as decisões.

sábado, 3 de abril de 2010

Vizinhos e vizinhas


Eles são muitos porque compreendem não apenas os moradores do meu prédio, mas também os edifícios vizinhos e tão próximos. Por isso, valem o post. Só aqui no Chamonix, somos em 60 apartamentos – seis por andar, com dez pisos. No mínimo, mínimo, 60 moradores, mas tem vários casais (não sei como eles se suportam no microespaço) e gente com animais, que também são vizinhos.
Já vivi momentos estranhíssimos e interessantíssimos no prédio. Começou com a moradora de baixo, que deu de implicar com minha cachorra desde quando cheguei e não para. Costuma dar vassouradas no meu chão, a coitada, que já reclamou do barulho da Shú até quando ela estava em Bauru! Detalhe: shar-pei praticamente não late, e a minha, eu sei, é uma lady. Foi latir com uns quatro meses de vida pra mais. No começo da perturbação da vizinha, eu ficava irada. Agora, revido sapateando ainda mais forte, e no mesmo ritmo da grosseria dela.
Aos poucos, percebi que a mulher é realmente a laranja podre do nosso edifício; portanto, abri o coração para o resto. Mas, uma bela noite em casa, outro problema: minha vizinha de porta me interfona pedindo para eu colocasse roupa, porque o namorado dela era “folgado” e estava me olhando, de trajes menores, pela janela. Mais estranho ainda: a menina, de uns 20 anos, me tratou super bem e, aparentemente, o voyerismo do moço não atrapalhou em nada o relacionamento. Não era eu que iria encanar. Segui adiante.
Descobri a Ângela, um amor de pessoa que me traz manga da fazenda, pão sírio da kibeteria e ossinho para a Shú. Fui ficando melhor assentada. Conheci um vizinho vegetariano que é assim desde neném. Foi o único caso em que vi uma pessoa nascer veggie. Tem também o Rogério, arquiteto cabeça aberta e dono da Nina, uma lhasa linda linda, e o Leonardo, aluno de direito da UEL, do mesmo andar que eu, por quem a minha cachorra é apaixonada. São os mais chegados, apesar de passarem longe do rótulo de amigos. Tem personal trainner, advogada, guarda de trânsito feminina, alunos universitários e até de cursinho.
Apesar da diversidade do edifício, o mais interessante daqui são os vizinhos dos outros prédios, próximos ao meu. Para quem não conhece Londrina, o Centro é uma região vertiginosamente de prédios. É um do lado do outro em uma sequência que só e quebrada pelas padocas, cafés, pets, salões e algumas lojas. Mas é prédio com prédio, não tem jeito.
Na janela do quarto, dou de cara com o Terremollinos, um duplex que paquero desde que cheguei aqui. De lá, convivo com senhor fumante, que deve ser expulso para a sacada pela esposa, tem gente sozinha feito eu, e, estranhamento, reparo em um apartamento com três sãopaulinos e uma garota. Enigmático. Tem apartamento que fica com a luz acesa o tempo todo. Passo mal de revolta. E tem gente que não dorme de madrugada, como eu.
Das janelas da sala, outra vista: o belo prédio da rua Goiás. As decorações são lindas - as amplas sacadas permitem a visualização da sala de todos. E, mais uma vez, divido momento com os vizinhos. Dia desses, tinha um cara tirando foto da chuva. Também, pudera. Nossa vista de um temporal é belíssima. Um outro, no mesmo dia, estava no celular por horas enquanto eu trabalhava na sala. Ele até tentou tecer uma conversa comigo entre prédios, na base da mímica, mas não aconteceu. Acabei me distraindo com um casal alto astral tomando cerveja na sacada logo ali, no primeiro andar. Pareciam embebecidos um pelo outro e, felizmente, nem repararam que eu estava lá.

Em Londrina, voyeurismo é condição de moradia da região central. Você assiste e é assistido. Percebe fatos, estabelece relações e criar uma narrativa com começo/meio/fim, causa/consequência, trivial/surpresa... Pode até intervir nas histórias, consciente e inconscientemente. Parece um Big Brother no MUTE, e em mão dupla.