sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nobody said it was easy


A pior consequência do envelhecimento não está nas alterações físicas. Ruim mesmo é ver nossas pessoas morrerem. Depois dos 30, pais, tios, avós, primos, amigos, ex-colegas de trabalho, ex-vizinhos e afins ficam, de alguma forma, mais próximos do fim. Mas a gente nunca se prepara para isso. Somos mortais com panca de imortais.

Um sentimento ainda mais difícil me abateu no domingo. Depois de já ter presenciado a perda do pai de duas grandes amigas-irmãs nos últimos anos, e que não foi fácil mas eu estava ao lado delas, passei mais de 30 horas angustiantes entre a notícia da morte do pai do meu amigo (amigo, não, irmão) e seu enterro em Bauru. E eu aqui, em Londrina. E eu aqui, querendo estar lá. Presa no meu belo apartamento novo que perdeu a graça frente a um acontecimento tão súbito quanto angustiante, triste, revoltante. Seu Henrique estava em pleno Pantanal, pescando com os amigos.

Meu coração ficou apertado, dolorido por não estar lá. Sei que todos os outros que o amam o confortaram, mas a impotência de não poder abraçar a dona Arlete, segurar na mão do Fá, buscar o quê ou quem preciso fosse... A dor da perda se misturou à dor da distância. E eu passei a segunda-feira chorando entre as ligações para a Net, as idas aos bancos, o transporte de mais alguns livros do apartamento antigo...

Em um determinado momento, no semáforo, começou a tocar Cold Play, e eu instantaneamente me lembrei do Fá, já cheia de lágrimas. Um motoqueiro simpático disse: “Oh, moça, não chora, não. As coisas vão melhorar”. Sorri, agradeci, mas não falei o que realmente pensava. Na verdade, o motivo do choro só tende a piorar, motoqueiro. Quanto mais gente amamos, mais sofreremos ao envelhecer e perdê-las – ou ver nossos queridos encarando um momento desses. Ou, pior ainda, não poder estar junto.

Para nós, mortais por enquanto, fica a única saída de brindar a vida. Com cerveja e compotas de doce, como seu Henrique tanto gostava.

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