quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O QUE É QUE A VIDA TEM?


Tem lugar que a gente adora, mesmo sem conhecer direito.
Tem notícia sem sentido, e eu entendo.
Tem gente que amamos, apesar dos apesares.
Tem filme que não se indica.
Tem alunos inspiradores; tem professores motivadores.
Tem comida que é uma completa alquimia.
Tem cachorro que conversa.
Tem vizinhas adoráveis, e outras infernais.
Tem por do sol todo santo dia.
Tem parente que faz falta, e outros que nunca conheci.
Tem situação que não desce, não digere, entala.
Tem aula complicada, mesmo com toda concentração.
Tem cigarra que parece histérica.
Tem literatura e cinema para o resto de nossas vidas.
Tem problema que não vale a pena.
Tem piada que a gente não esquece nunca.
Tem cigarro que é doce; tem estrada que é salgada.
Tem lugar pra conhecer. E outros que vou revisitar.
E tem todas as luas...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

POINT OF NO RETURN


Tem gente que sofre muito quando se depara com os avisos de uma encruzilhada. No final das contas, sempre penso: não é ótimo ter dois caminhos a seguir do que nenhum? Sei que não é fácil a adnegação, mas a possibilidade de escolha, pelo menos para mim, é sempre um momento abençoado. E, felizmente, nego qualquer tendência a ficar olhando para o outro caminho que não segui.

Minha dificuldade é quando se está caminhando tranquilamente, talvez até arriscando uns galopes de criança, quando outra plaquinha, grande e amarela, aparece na sua frente: POINT OF NO RETURN. Angústia de voltar, de andar para trás no sentido mais involutivo da palavra... Sentimento de fracasso, como se um esforço carinhoso tenha se mostrado incapaz, insuficiente e inconstante... Momento de parar e voltar. Pra onde?

Dar ré não é o caso, porque o passado só é concreto na nossa memória. De resto, vira uma nuvem virtual. Além do que, se tentar retornar quando avistar esta placa, colocará sua vida em jogo. Não existe escolha no passado. Existe agora. Então, vamos pra frente. Mas a frente não existe. É POINT OF NO RETURN, querida. Te vira.

Pode-se optar por cavar um buraco e enfiar a cabeça na raiz da terra para não ver nem sua sombra. É uma opção – talvez das mais utilizadas. Uma vez fiz isso e, sinceramente, não funciona. Primeiro porque falta ar para oxigenar as decisões e você fica impotente; segundo, porque sua bunda fica exposta. Para levar um chute, é um minuto.

Outra opção é dar uma Dorothy e, ao avistar a temida placa, tentar sair voando para Oz. Boiar, planar para ver aonde o vento vai te levar. Aceitar o POINT OF NO RETURN a ponto de não pensar nele. Sublimar e entrar em outro mundo.

Eu nem vou falar que já tentei ou tentaria esta última opção. Minha formação jornalística tem dificuldade em aceitar a abstração fantasiosa quando se trata de um problema. Também não chego ao extremo de, em um ato de fúria, arrancar o aviso que me barra. Já aceitei; a vida é assim. É cheia de placas.

O POINT OF NO RETURN que estou vivendo me trouxe uma outra metodologia para abordar o bloqueio. No lugar de cavar buracos autocentrados, viajar para um mundo de aceitação ou fúria em relação ao aviso, vou tirar um cochilo, fazer um retiro ali mesmo. Porque podem ser placas provisórias, derrubadas naturalmente. Mas, como não sou besta, se tiver uma oportunidade, até dou uma braçada para ajudar na queda. E o que me espera depois do pause é sempre melhor do que o estado anterior. Como se o mundo se abrisse; talvez uma recompensa. Ou será que a fórmula é ter calma sem apatia? Os estrategistas devem ter teorias sobre isso, não sei, mas acho que, muitas vezes, ficar parado é caminhar longe.

É de se tentar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Paraíso



Na praia dos Coqueiros, depois de uma longa caminhada, o bar Paradise. Com e sem gente.

Um personagem



Juarez, com sua maritaca, produzindo nossas cestas. Paradise, Trancoso.

Banheiro masculino


Em várias línguas e apelidos. Tostex, Trancoso.

Banheiro feminino



Criatividade plena. Tostex, Trancoso.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Tostex




Duas duchas do bar Tostex, atrás da bela cortina de Havaianas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Personagens que marcaram


Lá em Trancoso, todos sabem que se faz amizade em poucos minutos. E a pessoa se torna amigo de coração, com abraço apertado e tudo mais. Foram vários e várias que passaram pela nossa semana de férias, mas alguns marcaram mais:

1. A primeira persona foi a mais importante da nossa viagem: Serginho. Morador de Belo Horizonte, sempre passa as férias em Trancoso, com uma bela casinha, culinária própria, astral lá em cima e um pique que não acaba. Nós éramos vizinhos de cama na barraca Tostex, logo no primeiro dia, e a aproximação foi inevitável. Estavam ele e outros mineiros com dois labradores “adotados” por lá. Nos encontramos a noite, depois em outro bar e ele até fez um jantar para Paola e eu. Macarrão com camarão e estrogonofe de cogumelos. Divino. Serginho é divertido, inteligente, carinhoso, companheiro e manjava de tudo. Pazinha o apelidou de Wiki, de Wikipédia, entre tantas gargalhadas que demos juntos. Ele ainda trouxe outros belos mineiros para nossas saídas: Simone e Daniel, principalmente. E deixou saudades.

2. O Andrea: foi nos buscar no aeroporto e, como já disse no post anterior, deu o tom de Trancoso. Quando entrei no carro, depois da longa viagem Guarulhos-Porto Seguro, perguntei seu podia fumar ali. Ele respondeu: “aqui, você pode fumar de tudo em qualquer lugar”. Para quem havia tomado chuva, antes de pegar o vôo em Cumbica, só para dar uns tragos, nada mal. Loiro, deve ter entre 1,85 e 1,90, entre 40 e 50 anos, magro, tatuado, de alpargata e ainda com o sotaque italiano que não consegue perder. Ele disse que é preguiça, porque já abraçou completamente o Brasil. Melhor: o sul da Bahia. Veio para cá há mais de 20 anos, gostou, voltou e ficou. Não visita seu país há sete anos e parece extremamente desencantado com os italianos. Gosta mesmo é da vida que leva, casado com a dona da pousada, na casinha azul, com seus quatro cachorros, chinelos, fazendo sorvetes... Provei o de banana com nozes. Incrível. Na volta, ao som de um ótimo pop italiano, morreu de rir com nossas frases de despedida: “We Will always have Trancoso” e “I left my heart in Trancoso”. Gente boa demais.

3. Rafa. Rafa Bafo. Loiro todo cacheado, saradinho, deliciosamente simpático e que nos serviu todos os dias na Paradise. Rafa não servia; desfilava. Com sungas modernosas, viseira, vinha com seu sorriso e suas tiradas que nos fazia morrer de rir. Ele é de Rio Preto, mas casou com um suíço e vive entre Europa e as temporadas em Trancoso. Uma figura ímpar, que não deixava nem uma sujeirinha na areia. Dava saltos, dançava no embalo da música eletrônica, mergulhava no mar, sentava com a gente...

4. O pessoal da Tostex: o mineiro Bruno e os dois argentinos Martin e Clara. Muito queridos os três. Nos tratavam com muito carinho e atenção, sem nada forçado porque eles realmente estavam ali por opção. Vieram passar a temporada e trabalhar no melhor lugar possível. Não pareciam ter muita pressão de chefe, não. Sentavam com a gente, nadavam também, muita ducha.... Felizes.

5. Ezequiel é um nativo que faz arte com a palma do coqueiro. Quando ele apareceu com uma cesta para pães com aplicação de flores, feitas também das folhas, e carregando uma maritaca que conversava com ele, eu parei o papo da Pá com o Serginho para mostrar o trabalho dele. Minha amiga também quis, e tivemos o prazer de vê-lo fazer na nossa frente, com uma rapidez e uma tranqüilidade muito naturais. Entre vários contornos e dobras, a cesta foi nascendo e a maritaca, o “pet” de Ezequiel, não parava de falar com ele. Quando terminou, o nativo ainda fez dois cavalinhos de Deus impressionantemente realistas da folha do coqueiro. Um ficou para o Serginho e o outro para mim. Presenteie minha sobrinha com ele, que amou amou amou, apesar de ainda estar com medo de pegar no inseto, de tão parecido com o real que ele é. E foi feito de uma folha.

6. Adriana: nos atendeu na praia do Espelho. Vinda de outra cidade do interior da Bahia, chegou em comboio para trabalhar feito doida. Ficamos conversando bastante, e ela me contou de como as coisas são difíceis por lá. Ela chegou ao alojamento e não tinha nem colchão para dormir. Disse que, se o noivo dela descobrir que ela estava dormindo no mesmo ambiente que outros meninos, termina tudo. Veio por um salário mínimo, um prato de comida bem pequeno e a esperança de juntar um pouco de dinheiro para casar. Disse que nunca pagou 60 reais por uma roupa. Mas que quer o vestido de noiva.

7. E last, but not least, a pessoa mais importante desta viagem: minha amiga-irmã Paola, esta menina de 36 anos que foi melhor companhia que eu poderia imaginar. Eu e Pá sempre fomos muito diferentes em questões emocionais ou gastronômicas, mas temos a base em comum: amor e respeito incondicionais pela outra. E foi isso que nos pautou em Trancoso. Enquanto ela dormia, eu lia e escrevia na rede da nossa varanda. Achamos um peixe que agradava as duas. Ficamos ainda mais unidas e percebemos similaridades que nem imaginávamos. Uma pessoa energética e tranquila ao mesmo tempo, além de ser sagaz nos aeroportos. Como viaja bastante, Pazinha me guiou com sua habilidade de organização típica dos capricornianos. Pela primeira vez, não me preocupei com nada; ela até levou o carrinho de malas para lá e para cá! Rimos muito, nos divertimos, criamos nossas próprias lendas da viagem e, assim, nos tornamos ainda mais amigas. E eu achei que isso nem era possível.

Ps. Saí de Bauru na página 22 do livro “Na Natureza Selvagem” (Into the Wild), emprestado da biblioteca de Flávio de Angelis. O autor Jon Krakauer já é meu conhecido. Escreveu “No Ar Rarefeito”, minha porta para me interessar pelas escaladas do Everest no final dos anos 90 (emprestado e não-retornado). Assisti e li tudo que podia sobre o assunto. Agora, topei de novo com o Krakauer, desta vez, contando a história do jovem Chris McCandless que larga todo um futuro em Harvard para adentrar e viver na “natureza selvagem” do Alasca. A saga do jovem causou polêmica nos Estados Unidos, já que ele não avisou nem os pais que iria sumir. E sumiu mesmo. Mudou de nome, queimou dinheiro e mal levou equipamento necessário para sobreviver. Mas passou por reflexões belíssimas que o autor vai mencionando na narrativa no livro. Sean Pean adaptou para o cinema o filme homônimo que também é ótimo, e que Fabrício gravou para mim. Trilha sonora toda feita pelo Eddie Vedder, do Pearl Jam, serve como teaser para quem gosta deste tipo de romance jornalístico. Li as mais de 200 páginas em Trancoso e nos aeroportos. Na volta de van para Bauru, terminei o Epílogo chorando de emoção... Sensível, Pazinha me presenteou com “A Natureza Selvagem”, em nome dela e do pai dela.