quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

last, but not least

Último dia do ano e eu mal dormi...
A tese parece que não termina nunca mesmo.
E o ano não acaba quando as madrugadas - todas - são longas e produtivas.

Só não sei como continuar o blog com todas as mudanças ortográficas.
Não posso buscar referência nem nos meus livros, porque agora eles estão historicamente grafados em brasileiro.

Fico aqui, sem idéia, sem agüentar tanta mudança...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

comunicadores

Publicitários podem ser geniais mesmo...
Empresto o lema do próximo ano da propaganda do Bradesco:

200inove!

Especial atenção, também, à publicidade do Banco do Brasil na tv, que mostra a tradicional noite de Natal de uma família. No meio, sem nenhum destaque, uma criança com Down. Adorei.
Como no filme "Notas sobre um Escândalo", em que o filho da Cate Blachet tem Down, mas a trama toda corre paralela a ele. Ele é apenas mais uma criança...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ainda em 2008.

Eu quero a paz que eu não tenho. Quero a paz dos outros. Aqui dentro, está tudo calmo. Quase organizado. Mas o mundo cutuca, irrita, destabiliza seu asana. E foi tão difícil chegar aqui... O meio também faz homem. Sonho com um ambiente pra cima. Desenrolo os problemas calmamente. Se possível, olho no olho, com cappucino ou vinho. Me falta um pouco de agressividade... Eu quero nunca mudar isso. Mas preciso aprender a responder ao olhar raivoso do outro. Vou conseguir lidar com gente que vem e desestabiliza, vou ampliar a sensação de que o meu centro continua em mim.
Primeira promessa para 2009.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

bobagens...

Reflexão à lá Millôr:
O que seria de mim sem eu mesma?

Sonho cinematográfico (ainda) não-realizado:
Jogar um copo de uísque na cara de alguém.

Questão filosófica:
Pra quê mudar de ano? Me diz: pra quê?

Eu, ambientalista:
Não está ficando ridículo usar sacolas de plástico no supermercado?

Instante pós-shakespeareano:
Romeu Stanford III saindo do terceiro casamento e Julieta Al-Haddad Hussein, balzaca, e trabalhando em ONG´s.

Pré-pensamento do próximo aniversário:
Acho o 34 tão mais bonitinho que o 35…

Inquietação sobre possuir um apartamento:
Se o prédio acabar, eu fico com um pedaço do céu?

Questionamentos de quem tem sobrinha/o:
Hu-Hu!!! Fiquei pra titia!!!

Na busca da saída perfeita:
De fininho, pela lateral, fique sempre à esquerda e siga reto toda vida….

Pensamento pasquiniano:
Por que a mulher escolhe a melhor calcinha justamente quando está pensando em tirá-la?

A frase que nunca vai calar:
Não há omeletes sem quebra de ovos.

Limitação intransponível:
Música axé.

Dilema emocional:
Se o amor é cego, por que a gente se apaixona através do olhar?

Considerações finais:
Não há mais conclusões.

realismo de fim de ano

Nada consegue apagar o sentimento estranho que o natal deixa no ar.
Não se pode dizer que é tristeza, porque tem festa na maioria das casas.
Mesmo que você não se envolva muito com a mudança que acontece, compras e mais compras, pessoas de fora vindo para cá, comidas estranhas (pelo menos para quem não é fã de carne) à mesa, você acaba envolto no “sistema natal”.

Também não dá para esconder a tristeza das não-festas...
Hoje mesmo, logo cedo, vi um homem sentado na rua, todo sujo, todo doente, lutando para acender um cigarro com fósforos. Dei meu isqueiro para ele, e soltei, ingenuamente, um “feliz natal”. Ele nem se moveu, como se eu não tivesse falado nada.

Talvez as únicas pessoas que são realmente felizes no natal são os recém-pais, que entram na magia das lendas, das histórias bonitas que as crianças amam.

Para mim, só é gostoso pela Laila. Hoje mesmo, estávamos conversando e ela me disse que queria rezar para o papai noel não esquecer dela “de jeito nenhum”...
Coisa linda.
E dá-lhe perguntas sobre o velhinho, sobre as henas, sobre o trenó... Gosh, como minha sobrinha é lindamente curiosa! Eu embarco na viagem dela, até porque lembro claramente como eu amava me trancar no quarto para deixar o papai noel entrar e colocar o presente que minha mãe duramente comprava para as filhas.
Também não me esqueço o dia em que minha mãe me contou que ele não existia, que todas as histórias eram uma fantasia... Não sei quantos anos eu tinha, mas eu fiquei muuuito brava com Norma, tadinha... Disse que ela não deveria ter me contado isso, que eu não queria saber!

Deve ser a partir disso que eu comecei a sentir que a ingenuidade nos é dada e tirada.
Mesmo em uma noite de natal.

ps. tive um sentimento estranho ontem, quando vi que parte do presépio estava assada para a ceia árabe-brasileira: carneiro e costela bovina.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

minhas capitais...

Eu queria morar em uma cidade com a natureza e o estilo do Rio de Janeiro, com a organização e o salário de Brasília, com o clima e a estrutura de Curitiba, e com a localização privilegiada de São Paulo.

É pedir muito?

Na vitrola do meu lap-top, uma música do Itamar Assumpção que eu amo: "Outra Capitais".

Quem quiser final feliz vá pra Florianópolis
Quem quiser pura beleza se pique pra Fortaleza
Quem quiser viver a vida seu lugar é Curitiba
Quem quiser só uma ilha eu recomendo Brasília
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais
Quem quiser fugir do frio a Dutra vai dar no Rio
Quem quiser destino alegre que desça pra Porto Alegre
Quem quiser saber da história melhor lugar é Vitória
Quem quiser comer caju é claro que é Aracaju
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais
Quem quiser sossego e luz o seu rumo é São Luís
Quem quiser só vida boa que voe pra João Pessoa
Quem quiser nada de mal o seu lugar é Natal
Quem quiser longe a chatice que vá morar no Recife
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais
Quem quiser a mente zen que vá pra Belém
Quem quiser curtir duende decerto que é Campo Grande
Quem quiser beber da fonte sossegue em Belo Horizonte
Quem quiser sair da trama embarque para Goiânia
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais
Quem quiser só descansar se mande pra Cuiabá
Quem quiser ter boa vista perfeito é Boa Vista
Quem quiser levar à sério que siga pra Porto Velho
Quem quiser lavar a alma o certo é que vá pra Palmas
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais
Quem quiser sanar a dor vá sanar em Salvador
Quem quiser mapa da mina descambe pra Teresina
Quem quiser só viajar a lógica é Macapá
Quem quiser entrar no embalo que venha pra mim São Paulo
Eu já estou cheia demais quem quiser dormir em paz
Que vá pra outras capitais

Que Pessoa!

"Tenho tanto sentimento", do Fernando Pessoa, um dos que eu mais gosto.

"Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental
Mas reconheço, ao medir-me
Que tudo isso é pensamento
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos
Uma vida que é vivida, e outra vida que é pensada
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém nos saberá explicar
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."

14 anos atrás...

Seguindo o blog da minha prima (seeeempre!), fiz o exercício proposto pela coluna do Alex Atala na revista Serafina. Vale a pena fazer, ainda mais no final de ano, quando a gente fica fazendo todos os balanços sentimentais possíveis.

EM 1994

Eu era muuuito radical
Eu queria mudar o mundo (é sério!)
Eu tinha um pique absurdo e um desapego juvenil
Eu ia pra lá e pra cá sem pensar
Eu sabia que as coisas não eram para sempre
Eu temia a ignorância - minha e a dos outros
Eu ria menos
Eu esperava que viver ficaria mais fácil com o tempo...
Eu adorava ir ao clube
Eu sonhava que as pessoas voavam comigo
Eu me orgulhava de ser vegetariana
Eu escutava ventos do estrangeiro sonhando em ir abroad
Eu usava modelito hippie
Eu dizia que o conhecimento é o maior bem
Eu lia os clássicos nacionais... Ano do Nelson Rodrigues e Ruy Castro.
Eu assistia nada na TV... era contra (!)...

EM 2008

Eu sou feliz
Eu quero escrever um livro
Eu tenho certeza que minha alma é vegetariana
Eu vou por onde acredito
Eu sei que tem gente e sentimento que é eterno
Eu temo perder algumas pessoas
Eu rio de praticamente absolutamente simplesmente tudo
Eu espero colocar de vez um esporte na minha vida
Eu adoro tomar café, vinho ou água com quem eu gosto
Eu sonho sozinha...
Eu me orgulho de não precisar de muito
Eu escuto sons e capitais do Brasil
Eu uso salto bem alto, all-star, botas, sapatilhas
Eu digo o que não vai me machucar depois
Eu leio de tudo: livro, jornal, site, blog, revista, rótulo de produtos alimentícios...
Eu assisto e adoro TV.


terça-feira, 16 de dezembro de 2008

poder e violência

Ontem, cheguei da alegria do amigo-secreto na casa da Paola (que foi pura diversão) e entrei na escuridão do documentário "Vlado - 30 Anos Depois".

Chorei.
Sempre choro quando esse assunto vem de uma forma tão forte...

Eu pesquiso a censura já faz um tempo, mas sempre me choca quando o assunto é a tortura.
Deve ser por isso que escolhi o Pasquim, que pouco sofreu diretamente a violência dos militares.

Não me lembro bem quando a Vanessa me deu o livro do "Vlado", organizado pelo Paulo Markun, mas foi há muito tempo. Acredito que estava na faculdade, em meados dos anos 90.
Os depoimentos me chocaram na época, e foram me acompanhando. Minha mãe até enviou o livro para Londres, porque Vlado fez parte da dissertação que eu escrevia para o mestrado.

O "Vlado" continuou sempre por perto. É um daqueles livros que eu não empresto para ninguém. Mas ver, agora, o livro em imagem de documentário, choca de um jeito diferente.

O que mais me impressionou foi a forma com que os militares envolveram aquela turma da TV Cultura e da revista Visão.
Na primeira "leva", prenderam o Markun e a sua esposa, que tinham uma filha de apenas cinco meses!
Markun não agüentou ouvir sua esposa sofrendo torturas (socos, tapas e choque elétrico)... Imagine uma mulher, provavelmente amamentando, longe da sua cria, sendo torturada?
Crueldade.
Foi aí que o jornalista confirmou o nome de Vlado e de outros jornalistas para os milicos maldosos.
E Vladimir Herzog foi preso e morto em poucas horas... Não aceitou assinar nada, confirmar nada... "Choraram Marias e Clarisses..."

Na dissertação de mestrado, eu analisei como a morte dele, censurada nos meios de comunicação, foi para as ruas, rompeu com o silêncio social e moveu o regime para outro caminho.

Mas agora vejo que Vlado não representou apenas a mudança do que ele tanto almejava: a redemocratização.
O final trágico do jornalista judeu foi resultado não só da violência, mas do poder dos militares de envolver todos em uma rede de interdepência fundamentado na dor da tortura e na compaixão do amor.
Muitos seguraram a própria dor, mas não suportaram ouvir os gritos de quem amavam.

Quem agüentaria?

domingo, 14 de dezembro de 2008

Marcinha da Vila

Uma paródia da música “Mulheres” do Martinho da Vila (paixão da minha mãe).
Livremente adaptado por mim a partir das insatisfações femininas que me rodeiam.

Homens

Já tive homens
De todos calores
De vários tamanhos
Com muitos pudores
Com uns até
Algumas vezes me empolguei
Pra outros apenas
Simplesmente dei...

Já tive homens
Do tipo sacana
Do tipo bacana
Do tipo que me ama
Casado romântico
Solteiro hey hey!
Já tive machões
E até gay...

Homens calados
E desbocados
Homens animados
De noite e de dia
Mas nenhum deles
Completa a gente
Como poderia

Procurei
Em todos os homens
A felicidade
Mas eu encontrei
E me deixou saudade
Se você conhece bem
Logo chega o fim...

Você é
O calo da minha vida
Minha irritação
Você não é sincero
Você é cagão
É tudo que quero
Afastado de mim....

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

os meus formandos

Um dos maiores prazeres em dar aula é a reciprocidade. Na sala de aula, mais do que em uma redação de jornal, ela realmente acontece. Por isso que sempre me choca quando ouço um professor generalizando os alunos, ou realmente não gostando dos ouvintes que se deslocam, toda semana, para nos ver falar, escrever, questionar, julgar cada um deles.

Felizmente, não sofro desse mal. Monto aula com todo prazer do mundo. Tenho dia agendado para isso. Raramente fui para a faculdade desanimada nesses anos de docência. Mais do que isso: sempre saio de lá com uma energia revigorada, ativada, estimulada. É o meu palco.

E lá, na frente dos alunos, eu aprendo sobre as coisas e sobre mim mesma. Aprendo a ouvir e aceitar as diferenças comportamentais. Acima de tudo, eu aprendo que, quem dá, recebe.

Na Unip, tive encontros felizes de reciprocidade, eternizados por duas festas surpresas no meu aniversário, com direito a presentes, frases bonitas, bolo, um buquê de alface, abraços sinceros e bexigas... Quem não se derrete em ver como os alunos se mobilizaram para te fazer uma surpresa tão feliz?

Ontem, tive outra surpresa emocionante: serei a professora homenageada da turma de jornalismo que está se formando. Fiquei com eles só dois semestres, mas tenho em cada um, um carinho especial.

Em todas as faculdades que trabalhei, acabei participando da formatura dos alunos de alguma forma. Fui paraninfa na Fema (em Assis), na USC e na Unesp, em momentos dos quais nunca me esquecerei.

O cerimonial de maior proporção, no entanto, foi quando me elegeram patronesse da FAAC, representando todos os alunos de humanas da Unesp. Era tanta gente lotando o Anfiteatro Guilhermão, e eu sentada naquela mesa de professores que foram também meus mestres...
De beca, com toda a formalidade e importância do evento, tive um dos momentos de maior emoção na minha vida. Proferi um discurso com calma, olhando para meus alunos ali, vários deles chorando, com placas chamando meu nome, com flores e fotos.
A formatura da Unesp é linda... linda.

Ser homenageada agora na Unip não poderia ser melhor...
Aluno, definitivamente, não é leitor reclamão!
É, sim, o verdadeiro receptor.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

HARESHAR

Não sei se é assim que se escrever, mas é assim que se lê.

Hareshar é uma expressão árabe que meus avós usavam - e minha mãe sempre repetiu - quando algo se quebrava dentro da casa. Significa algo como: "deixa quebrar... que todo mal saia dessa casa". É como se você permitisse que o objeto caído fosse embora porque ele vai levar qualquer coisa de ruim que estiver pairando por ali.
A receita é nunca lamentar pelo que se foi...

Há pouco mais de um ano, tive uma época de esbravejar hareshar sempre... As coisas caíam enlouquecidamente na minha casa. Cinzeiros, taças, copos, enfeites e até a tampa de uma panela de vidro quebrou nesse apartamento. Hareshar, hareshar, hareshar...

Há tempos eu não quebrava nada...
Não sei se é porque estou mais centralizada, mais focada, mas os vidros da minha casa permaneceram intactos 2008 inteiro. Mas, isso, eu só percebi hoje cedo, quando quebrei minha caneca das mais antigas. Comprei em Nova York, logo que cheguei lá para estudar. Tinha parte do mapa de Manhattan, e justamente a parte onde estava o apartamento que morei, na esquina entre a rua 13 e a 3a. avenida.
O East Village, indicado pela minha querida Lorinha, foi uma casa incrível, e o lugar que abriga duas faculdades ótimas, a NYU e a New School (também indicação da Van).
O mais incrível é que, anteontem, eu estava sapeando nos sites dessas faculdades, procurando emprego, bolsa de estudos, esperança... Por isso quase fiquei triste, mas logo soltei um hareshar, limpei os restos e direto no lixo.

Servi muitos cafés para quem eu gosto com essa caneca, minha companheira de todas as manhãs... Sem nenhuma trinca, perfeitamente intacta, a mug sobriveu às minhas mudanças todas desde 1998. Da casa dos meus pais para a kitinete, de lá para Londres, de Londres para a casa com o Má, de lá para outra kitinete até que, finalmente, chegamos - eu a e caneca - ao meu atual apartamento.

A história com a mug acaba 10 anos depois, assim como meu visto para os Estados Unidos.
Caneca de americano mesmo...
Hareshar!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

SERIADOS, SÉRIES, JK, DITA-DURA

Seguindo a minha prima Ká, que faz um super blog chamado Karenlândia (a criatividade do título é só o começo...), pensei nos seriados que me atraem.

Coisa gostosa assistir capítulo a capítulo de várias temporadas, e acompanhar as mudanças de vida. Prefiro até pegar em DVD para poder fazer longas sessões com pipoca e vinho.

Não gosto de todos, não. Nem é uma admiração incondicional. Pelo contrário.

Resisti bravamente ao Friends por conta das "risadinhas" engraçadas; detesto o final do Sex and the City; cansei do House; e abandonei o "My Name is Earl" no meio do caminho...

Dos americanos menos famosos, gostei de Six Feet Under, Shark e Weeds.

Mas agora estou em uma fase nacional. Fase de séries.

Acabei de assistir JK, da Globo.

Aquela preciosidade de produção... Várias e várias horas que encenam desde o nascimento até a morte do presidente.

Juscelino é Wagner Moura e José Wilker, que parecem manter uma certa continuidade no estilo de olhar quase nipônico e no abraço com peito estufado.

Oscar Niemeyer, Tancredo Neves, Carlos Lacerda... Todos jovens e encarnados por atores mais, ou menos conhecidos.

O caminho para o golpe militar de 64 é esboçado ali, desde antes do JK assumir, em traços bem finos e com tom modernistas.

Interessante ver alguns tabus da época, roupas, casas, hábitos, os modos de viver...
Importante ver de onde vem uma história, e para onde ela vai. O seriado tem uma extensão maior do que o tradicional filme de duas horas, ou quatro, que seja, e permite mais abordagens, que vão da política à cultura e aos relacionamentos pessoais...

Foi escrito pela Maria Adelaide Amaral, de quem sou fã.

Ano passado, re-assisti Anos Rebeldes, que marcou minha adolescência. Será que é por isso que eu estudei tanto o período de repressão no Brasil? No mestrado e, agora, no doutorado.

Como diz o perspicaz Diego, a dita é dura mesmo!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

esgotamento total

Esgotamento mental: Não sei para onde ir, como (re)começar, nem onde quero passar as férias de janeiro... Os concursos estão pipocando, mas a pergunta é: eu quero morar no Maranhão? Eu quero morar na cinzenta SP? Escolho o emprego ou escolho a cidade? Procuro o que eu quero mesmo fazer ou o que é mais fácil?

Esgotamento físico: Minhas mãos, que estavam reclamando porém trabalhando, praticamente travaram. Pioram com o calor insuportável de Bauru. As horas intermináveis de estudo me de-formaram.

Esgotamento intelectual: Desde segunda-feira, quando entreguei o texto, só corrigi trabalhos dos alunos e me dediquei a apenas uma leitura: a Vogue desse mês. E está linda.

Estou sem brilho e sem força.
Pareço fosca e fraca.

Mas vai passar.
O que um sábado de piscina com caipirinha de sorvete de limão na casa da Paola não cura?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

o resto de mim...

(depois de quatro dias insanos - vulgo: não deixe para o final todos os detalhes de uma tese)...

terminei!
entreguei a tese!
entreguei para Deus - ou melhor, para Zélia!

ainda tem as correções finais, mas o vazio existencial já começa a dar sinais.

achei que voltaria cantando e sorrindo na estrada.

não.
voltei pensativa, derrubei algumas lágrimas...
uma sensação estranha de força e impotência.

a própria orientadora, ao ver meu olhar perdido de quem só tem dormido três horas por dia, disse para eu comemorar.

comemorar o quê?
quem me conhece, sabe: não fiz doutorado para ter um título.

fiz porque amo estudar...

queria ser eternamente aluna.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

minha intuição estava certa...

pena que uma notícia ruim vem querer estragar um momento tão especial...

mas eu já esperava.

agora é correr e fazer o que já fiz antes: achar um lugar para mim.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Reflexões de final de tese

- não termina, gente. simplesmente não tem fim!

- por que não pode ter citações longas na introdução e nas considerações finais? eu quero! o Bourdieu quer!

- eu empaco. estaciono feito uma mula em uma página, e, depois de 20 minutos paralisantes, disparo, galopo, digitando quase sem pensar.

- será que rola um transplante de mãos? estou detonando as minhas, coitadas...

- quem lê tanta nota de rodapé?

- café e cigarro e suco de açaí e chocolate e coca-cola zero. muita água. e vinho para (tentar) relaxar.

- alguém sabe fazer o tal Sumário? parece que o word tem uma ferramenta que eu procuro, procuro, mas não acho na minha caixinha de conhecimentos de informática.

- e vem, e vai, e volta... bibliografia, fontes, notas, citações, capítulo 1, 2.3.2, epígrafes, insere imagem, faz back-up, salva, salve-se!!! e não termina! não termina!

- uma vontade de juntar todas as pessoas que eu adoro para contar as histórias do Pasquim...

- continuo me chocando com as mulheres daquela época, com Leila Diniz...

- acho que não vai dar nem para ir ver a Márcia Tiburi no Café Filosófico de sexta-feira...

- achei as epígrafes bonitas.... Chico Buarque na abertura de cada capítulo, com "Rosa-dos-Ventos", "Cordão" e "Cálice". Na introdução e nas considerações finais, Drummond: "Certas Palavras" e "Nosso Tempo" (sugestão do Fá).

- sentimento de frustração: impossível dar conta do Pasquim durante a censura militar em uma tese.

- sentimento de amor: passei da paixão desvairada pelo jornal e por seus jornalistas, para amá-los como eles são. defeitos e virtudes. até que a morte nos separe.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Millôr

Ele é o cara. Nasceu em 1923, gente! Faz e fez de tudo. Exercita corpo e mente. Esbanja saúde em todo e qualquer sentido.
De 1968 até hoje, ele escreve semanalmente na Veja.
Tenho paixão irracional por ele.

Vai para a minha tia Sônia, escritora e leitora voraz, fã dele.
O artigo foi publicado na edição número 1 do Pasquim, em junho de 1969; Millôr só se uniria a "patota" na segunda edição, junto com Ziraldo.
Uma pequena aula sobre ousadia, escrita coloquial, dilemas da imprensa, do período e da liberdade...

VIDA LONGA A MILLÔR!!!


CARTA (EDITORIAL)

Meu caro Jaguar, você me garante que O PASQUIM vai ser independente. Tá bem, Jaguar. O Claudius, o Tarso, o Prósperi e o Sérgio Cabral também acreditam nisso? Tá bem, Claudius, Tarso, Prósperi e Sérgio. Podem começar a contagem regressiva. Independentemente, com larga experiência no setor, falo de cadeia (perdão, cadeira). Em 1946, trabalhei um ano na revista Papagaio assessorado por J. Rui, Carlos Estevão, Roland e Carlos Thiré. Quando a revista já ia nascendo foi massacrada nas mãos dos parteiros de O Cruzeiro, a quem ela ameaçava com seu psitacismo. Em 1952 consegui publicar cinco números de Voga (“O melhor é o que está em voga”), uma revista no estilo de Veja, que ainda hoje pode ser lida sem vergonha. Morreu de tiro pelas costas dado por dois ou três asseclas de Leão Gondin de Oliveira, coronel do interior pernambucano, promovido por Chateaubriand a diretor dos Diários Associados. Ainda em 1952 (ano próspero) ajudei a fechar o esplêndido Comício (uma longa existência de 20 números) de Rubem Braga e Joel Silveira, onde pestanejaram, ó Deus, suas breves carreiras Antônio Maria e Sérgio Porto. Comício morreu de leucemia administrativa mas teve a redação mais alegre do jornalismo carioca onde só uma coisa era sagrada: a hora de fechar o expediente e abrir o Haig´s. Em 1962, dirigido pelo talento editorial de Paulo Francis e Mauro Faustino na nova fase da Tribuna da Imprensa, comprada então por Nascimento Brito, batemos um verdadeiro recorde: o jornal passou da glória à sepultura em apenas cinco dias. No governo JK, consegui produzir na televisão dois programas de uma série chamada 13 Lições de Um Ignorante... Apesar de mais de cem artigos terem sido publicados contra a interdição (havia falta de assunto na imprensa), “o mais liberal dos governos brasileiros” manteve a proibição até o fim. Em 1964, por motivos “religiosos” (mudaria a igreja ou mudei eu?), fui expulso de O Cruzeiro, onde trabalhava há 25 anos. Em maio de 1964 (data perigosa) ajudado, entre outros, por você, Jaguar, e o Claudios, Eugênio Heirsh, Yllen Kerr, Marina Colassante, Ziraldo e Fortuna, consegui editar oito números do Pif-Paf como revista quinzenal. A revista recebeu dois ou três anúncios, mas assim que saiu, chamada às falas pelo banco – é claro que não esperavam aquelas fotomontagens do banqueiro – pressionada pelo Senhor Chefe de Polícia – é evidente que não gostavam daquelas fotomontagens do governador, foi, por fim, fechada. Fiquei com alguns milhares de cruzeiros novos de dívida e o meu frescobol seriamente abalado.
Se não te basta isso, Jaguar, apostando com você como O Pasquim está cortejando o cano, eu te ofereço cinqüenta casos de cerceamentos meus em teatro, cinema, tevê e jornalismo para cada um caso só que tenha havido contra, por exemplo, digamos, deixa eu pensar, digamos, por exemplo, O Globo. Morou? Foi despejado? Então, deixa eu esclarecer, este primeiro número tem um anúncio da Shell. Pois ainda há bem pouco tempo a revista da Shell me pediu um artigo e não publicou porque escrevi a história de um elefante que brigava com um tigre. E olha que o elefante ganhava, pombas! Honra seja feita, não publicou mas pagou. Só a Shell dá ao seu escritor o máximo.
Em suma, Sérgio Magalhães Jaguaribe, vulgo Jaguar, vai de Banda de Ipanema que é mais melhor. Fazendo O Pasquim vocês vão ter que enfrentar: A) O establishment em geral que, nunca tendo olhado com bons olhos a nossa atividade, agora positivamente não vê nela a menor graça. B) As agências de publicidade, que adoram humor, desde que, naturalmente, ele seja estrangeiro, lá longe, feito pelo MAD, publicado na Playboy ou filmado por Jacques Tati (“Que mordacidade!” “Que mendacidade!” “Que crítica social” “Que sempiternos pífaros!”). C) A Igreja, que depois de uma guinada de 360 graus, é extremamente liberal em tudo que seja dito e feito por ela mesma. D) A família, as Classes Sociais, as Pessoas de Importância, os Quadrados, os Avant-Chatos que se fantasiam de Avant-Garde, etcetera.
Não estou desanimando vocês não, mas uma coisa eu digo: se essa revista for mesmo independente, não dura três meses. Se durar três meses, não é independente. Longa vida a essa revista!

P.S. Não se esqueça daquilo que eu te disse: nós, os humoristas, temos bastante importância pra ser presos e nenhuma pra ser soltos.

Lista de alegrias diárias...

Tenho muita sorte nessa vida mesmo
(ou “estou otimista demais e ninguém me agüenta”...):

- minha mãe fez aniversário e continua maravilhosamente bem. E, gente, desculpa, mas mãe igual a minha é raridade!

- eu sou tia. E tia de uma sobrinha tão única quanto amada. Ela é tudo, nem dá para explicar. Tem as pernas grossinhas feito as minhas. Saudade de doer...

- gosto do que tenho.

- tenho saúde de ferro para algumas coisas. Não pego gripe de jeito nenhum!

- o sorriso e as músicas da Milena, minha irmã, meu puro amor.

- meus olhos são verdes!

- sempre pego coisas boas para assistir no Canal Brasil.

- sou cheia de rituais gostosos que são só meus...

- tenho alunos muito queridos... E só quem é professor sabe o valor do olhar deles.

- não gosto de carne.

- minha cachorra não é desconfiada nem arisca como todos shar-peis... Minha Shú é incrível.

- tenho amizades que me fazem tão feliz... São sorrisos, abraços e palavras que acompanham a gente pelos anos e pelas fases da vida... Fazem toda a diferença.

- prefiro vinho a qualquer outra bebida.

- tenho três pessoas agregadas à família: Roberto me conhece desde os meus cinco anos; a Vi trabalha na casa da minha mãe há mais de 17 anos; e a Sô, que foi morar na casa da minha mãe em 1993, agora, ajuda a cuidar do meu apartamento todo sábado.

- “puxei” para minha mãe!

- engordei, não surtei e adorei!

- sinto que sou bem livre, leve, solta, sincera...

- não acho que trabalho: sou professora porque amo a sala de aula; pesquiso porque amo estudar.

- como pitangas diretamente do pé na rua da minha casa.

- tenho livros incríveis que sempre me salvam de bloqueios de escrita ou de noites de insônia.

- adoro bichos, insetos, tomar chuva e pisar na terra.

- aprendi a ser mais flex comigo.

- gosto de pessoas; mas com limites.

- gargalho sem dó quando assisto CQC, A Grande Família, Friends, Madagascar...

- tenho um ex-marido que só me traz coisas boas. Uma raridade, eu sei, mas não poderia ser diferente com o Má...

- gosto de todas as frutas, todos os legumes, todos os vegetais, todos os temperos, todos os grãos, todas as nozes e castanhas.... Nasceu da terra, eu como!


- canto e danço Frank Sinatra sempre com a minha cachorra...

- pesquiso o Pasquim.


- tem pessoas lindas na minha família... os Neme, principalmente, moram no meu coração.

- meu apartamento é ajeitadinho.

- tenho sonhos... de uma casa melhor, de uma cidade melhor, de um mundo melhor...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O mestre

Dono da arte das palavras, o Chico não cansa de me emocionar.

Todas as músicas são poesias quando lidas sem o som.

Especial atenção a que coloco aqui, e que vai na minha tese também.
Foi composta em 1973, quando eu ainda estava na barriga da minha mãe, no auge da repressão da ditadura militar.

Não vou colocar o refrão para não direcionar a leitura. E para vermos como as frases do Chico abrigam todas as interpretações possíveis....

AMO!


Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta


Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa


De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade


Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça...
CÁLICE (1973), CHICO BUARQUE

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ODE AO CANALHA!


Cafajestes, um alerta: vocês precisam evoluir porque estão perdendo espaço. Se continuarem com suas mentiras mentirosas, com suas dissimulações e enganações, entraram em extinção por falta de demanda!

As mulheres agora só querem saber de outra categoria: os canalhas. Bem mais sinceros, os canalhas assumem o que são. Dizem claramente: “Quero ficar contigo sempre...!”. “Sou comprometido mas estou louco de tesão por você!”. “Adoro seu vestido! E adoro ser solteiro!”. Não escondem suas contradições: sabem que assim são e até fazem charme disso.

São muito diferentes dos cafajestes. Mentirosos por sobrevivência, dizem que não ligaram porque não sabiam se era para ligar... Alegam que não podem fazer uma coisa por causa de outra coisa... Os “cafas” vivem enrolados, com mil desculpas que justificam tudo. Pelo menos para eles. E para quem entra no jogo.

Acho que os cafajestes só ganham apoio feminino porque nós temos uma poliana aqui dentro, que, às vezes, sabe-se lá como, põe-se pronta a acreditar, entender, compreender e perdoar absolutamente tudo... É doido! Toda mulher relativamente experiente já caiu na lábia de um “cafa”. É natural. Acontece. Acho até que faz bem.

Mas é o canalha que traz, para a mulher, o maior desafio de todos: assumir que a modernidade que exalamos no exterior, que a segurança que adquirimos em várias áreas, chegou, de fato, no estágio emocional.

O canalha é a antítese do cafajeste. Um quer nos domesticar com o mesmo jogo desigual de poder que dominou os relacionamentos amorosos no passado – e que bravamente criticamos em qualquer discussão acadêmica ou de boteco.
O outro quer nos libertar diante de nós mesmas e, principalmente, diante de algo que começamos a conhecer e talvez respeitar: o homem e sua masculinidade.

Eu prefiro os canalhas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Eu, historiadora

Fui para Assis ontem e mal posso explicar a emoção que tive...

Primeiro: AMO estrada. AMO dirigir na estrada. Acalma tanto...
É herança da minha mãe, que, ainda mocinha, ia para São Paulo com minha tia Sônia. Meu avô sempre foi “prá frentex” quando o assunto era carro. E minha mãe age do mesmo jeito com as filhas: começou a me ensinar a dirigir quando eu fiz 15 anos, e, mesmo falando 29.358 vezes para eu ter sempre cuidado, nunca limitou a minha liberdade de viajar de carro.
É meu luxo.
Detesto viajar de ônibus.

O caminho para Assis já faz parte da minha rota desde que minha irmã se mudou para Londrina. Foi só em 2002, com a Lú Linda, que curti a estrada semanalmente: dei aulas na Fema um ano, em idas e vindas de muito aprendizado com a fotógrafa de olhar instigante e amizade orgânica.

Foi neste ano que conheci o campus da UNESP, construído pelo Niemeyer, onde Antônio Cândido ministrou aulas que se transformaram em livros...
Paixão à primeira ida.
Era lá que eu faria doutorado.

E fiz.
Ainda não acredito, mas fiz.
Entreguei a minha última matrícula como doutoranda ontem. E recebi um elogio da minha orientadora que me fez delirar... Um elogio da Zélia é quase um atestado oficial de competência.

Quatro anos!
Quatro anos!!
Quatro anos!!!
Quatro anos passaram, foram, voaram, entre o longo processo seletivo, as disciplinas que exigiam leituras absurdamente pesadas toda semana, a liberação da bolsa da CAPES, minha qualificação e, agora, a finalização...

O doutorado é engraçado... No começo, você pira. Se teimar em ler o livro do Umberto Eco, “Como se faz uma Tese”, quase desiste. Todas as exigências, toda a inovação, toda a pesquisa... Tudo com mil discussões e teorias que guiam e cercam o objeto de pesquisa como se ele pudesse nos escapar...
E eu sei que ele escapa.
Fiquei com medo.

Hoje entendo o que significa tornar-se doutor. É quando você começa a escrever automaticamente com fundamentação. É quando as opções, metodologias e teorias brotam, a partir do objeto de pesquisa, na sua cabeça - e fazem sentido. Vão nascendo, como se fossem caminhos naturais, como se você tivesse de fato incorporado aqueles valores.

A minha orientadora, que já é uma livre-docente, exige de todos a mesma dedicação que ela tem na pesquisa.
Eu admiro.
E temo.

Olhar para a Zélia já é, por si só, uma cobrança! Nas aulas, ela é uma professora das melhores: grandes aulas e altas discussões. Zélia não tem problema em falar, para um aluno que esteja fazendo comentários impertinentes, que aquilo não é pertinente!

Não me lembro bem os motivos de ter escolhido a Zélia. Sabia que ela era das mais exigentes de lá... Pensei até no Sergio, um anarquista que é quase lenda na UNESP, e que depois faria parte da minha banca da qualificação. Mas algo me puxou para a Zélia – e olha que o foco da pesquisa dela nem é a censura.

Zélia me aceitou como orientanda, “apesar” de eu ser jornalista!
Ela quase desistiu de mim quando fui trabalhar no Bom Dia. Dizia: “o jornal vai te engolir”. E eu, sempre ingênua, acreditava que era possível casar doutorado e jornalismo diário, pautas e Bourdieus, Zélia e Márcio ABC...

Impossível, e Zélia deu seu ultimato: “ou eu ou o jornal”!
Nem precisei pensar direito, apesar de saber o sofrimento que enfrentaria em deixar um jornal que era “meu”.

Zélia também não desistiu de mim quando fiquei doente. Por mais que já havia perdido muito tempo da pesquisa, a orientadora virou mãezona.

Mas foi quando a CAPES liberou minha bolsa, e com isso me deu um prazo de dois meses para a qualificação, que eu vi o que a Zélia falava.
Precisa casar-se com o objeto de pesquisa para que, dele, nasçam frutos vitaminados.

Acho que foi aí que comecei a virar historiadora.

Fechando o ciclo, percebo que aprendi mais do que sei. Aprendi mais do que imaginava, porque o que se ganha neste processo não é só um título ou uma tese bem argumentada.
Ganha-se segurança e um olhar de historiadora.

E me tornei uma pessoa ainda mais feliz.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

o beco com saída

PESADELO
(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)
Quando um muro separa, uma ponte une.
Se a vingança encara, o remorso pune.
Você vem me agarra, alguém vem me solta.
Você vai na marra, e ela um dia volta.
E se a força é tua, ela um dia é nossa.
Olha o muro! Olha a ponte!
Olha o dia de ontem chegando...
Que medo você tem de nós!
Olha aí...
Você corta um verso, eu escrevo outro.
Você me prende vivo, eu escapo morto.
De repente...
Olha eu de novo!
Pertubando a paz, exigindo o troco.
Vamos por aí, eu e o meu cachorro.
Olha um verso, olha o outro.
Olha o velho, olha o moço chegando...
Que medo você tem de nós!
Olha aí...
O muro caiu, olha a ponte!
Da liberdade, guardiã.
O braço do Cristo, o horizonte.
Abraça o dia de amanhã.
Olha aí...

sábado, 8 de novembro de 2008

O trabalho dignifica o homem!

Eu não sei o que acontece naquele lugar.
Eu não entendo.
Ou até estou começando a perceber...

Mas não aceito.
Aquilo não está direito!
Precisaria, mesmo, de um prefeito.
Mas eu não tenho peito.
Não tenho jeito...
Só quero um leito.
Preciso de muito respeito.
É o meu defeito...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A última das melhores...


Última capa do período da censura sob o Pasquim.

Antes de ser publicada, um dos censores ligou para o Jaguar e avisou: "Não precisa mais mandar o material para cá (Brasília). Agora, é com vocês".

Millôr Fernandes deixou o jornal logo depois. Publicou um artigo, nesta mesma edição, ironizando a "liberação" do censor, como se, algum dia, a responsabilidade de publicar o que criavam já não fosse deles... Como se eles nem tivesse sido presos, repreendidos...
A edição de número 300 é uma raridade (infelizmente, não a tenho).
Foi recolhida pelos militares, é claro.
Sem censura?
"Ah, não me façam rir..." (Millôr)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

publicado em 1993

“Pensamento vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.

Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?

Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.

Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.”

Livro "Tudos", de Arnaldo Antunes.

sábado, 1 de novembro de 2008

Eu, relativa!

Uma boa companhia faz seis horas passarem a impressão de alguns minutos.
De um assunto, pula-se para o outro, e sem nem concluir nenhum dos dois, lembra-se de um caso, do acaso, da vida, de ontem, de tudo, dos outros... O primeiro assunto volta à tona entre uma risada e outra, e eu já nem sei que horas são.

O horário de verão contribui para perda de noção do tempo. Então, é culpa da economia de energia? Não. E nem mesmo do relógio. É que é muito difícil encontrar pessoas que falam e ouvem, que te fazem rir e pensar ao mesmo tempo, que emocionam e intrigam – às vezes, no mesmo minuto.

Ah, tempo....

Tantas vezes peço para que você corra rapidinho e me leve até o final de uma hora longa, de um encontro inquietante, de uma noite insone, de uma reunião tensa....
E como você me prega esta peça? Muda de rotação e corre rapidinho quando eu nem quero.

Mas, tudo bem. O tempo, quando está apressado, também parece respirar mais forte.
E ir mais longe.

na busca da epígrafe perfeita para minha tese


"Foi o melhor dos tempos e o pior dos tempos,
a idade da sabedoria e da insensatez,
a era da fé e da incredulidade,
a primavera da esperança e o inverno do desespero.
Tínhamos tudo e nada tínhamos."

(Charles Dickens, séc. XIX)
p.s. é linda, mas ainda não é esta...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Haja café!

- definida minha banca: Max Lindo, Tânia Incrível, uma da USP (não conheço, mas é respeitadíssima) e um da UEL (já li a tese dele...). Como manda o protocolo, dois "da casa" (unespianos) e dois professores convidados.

- definida a data de entrega do texto completo para a orientadora: 30 de novembro.

- definida a segunda-feira que eu vou protocolar as cópias da tese: 10 de janeiro.

- quase confirmada a data da defesa: 03 de março.

- certeza absoluta de uma "banca difícil" (palavras da minha chefona).

O resto, é dúvida.


quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CONTROL Z


Parece nome de banda de rock emo, mas é da ferramenta “CTRL Z” do computador que estou falando.
CTRL Z é aquela combinação mágica de duas teclas que desfaz as últimas coisas que você fez no computador.
Apagou o que não deveria? CTRL Z!
Exagerou no tratamento de alguma imagem? CTRL Z! CTRL Z! CTRL Z!

Na diagramação dos trabalhos na Unip semana passada, eu e Diego, meu aluno tão querido, ficamos admirando esta façanha.

Depois, fiquei pensando como seria se pudéssemos ter um CTRL Z para cada categoria da nossa vida.
Arrependeu-se, é só apagar.

Na vida amorosa, poderia ser maravilhoso.
Mandou uma mensagem raivosa? Falou demais naquela discussão que já estava ganha? CTRL Z!
Não sabe se deve se entregar a alguém? Se joga! Qualquer arrependimento, you have the CTRL Z LOVER!

No mundo profissional também seria incrível.
Talvez não ficaríamos tão receosos de entrar em um novo projeto se pudéssemos contar com o CTRL Z PRO, que apaga, quase sem vestígios, os caminhos errados para dar coerência à nossa carreira.

O CTRL Z B&S (Body and Soul), para mim, seria ótimo. Tenho estômago fraco e, qualquer problema, ao menor sinal de enjôo eu poderia retornar ao prato que me fez mal e recusá-lo... Também seria bom para parar um pouco quando percebemos que nossa alma está cansada dos afazeres do mundo moderno... CTRL Z, volta uma ou duas tarefas, delega algumas coisas, relaxa e goza...

Fiquei só com dúvida em relação ao CTRL Z PUBLIC AFFAIRS. Ficar mudando os rumos políticos resultaria, no mínimo, em uma pane no mundo. Mas seria interessante apagar as obras superfaturadas com apenas duas teclas, não?

***************

Com a máquina de escrever, a preocupação com o que se escrevia era bem maior do que agora, quando posso apagar, voltar, desfazer qualquer coisa na maquininha cheia de controle e segurança.
O CTRL Z acaba com a angústia de quem precisa escolher. Oferece uma opção de retorno a estados anteriores – atitude que tentamos na vida real e quase nunca conseguimos.

Na vida sem back-ups, só mesmo fazendo escolhas verdadeiras para não se ver implorando por um CTRL Z WHATEVER!

sábado, 25 de outubro de 2008

FACTÓIDES POLÍTICOS

O CQC diz que ele tem cara de coveiro.
Eu acho que se parece, e muito, com o Ming, um cachorro pequinês que minha irmã tinha.

Fotogênico ou não, José Serra é o mascote da campanha do PSDB. No sábado que antecede a votação, tanto no primeiro quanto no segundo turno, ele volta para os jornais locais.

Fica fácil construir um factóide e ganhar a tão sonhada capa: assesssores avisam toda a imprensa que o governador vem para Bauru dar apoio para o candidato tucano daqui.
Divulgam a agenda, organizam a sexta-feira dos jornalistas, facilitam o contato e, como em um passe de mágica, lá estão eles novamente, na parte mais nobre do jornal.

Aliás, a campanha que mais criou factóides foi mesmo a do Caio. Só nesta semana, recebi cerca de 20 emails tentando difamar o Rodrigo e a Estela.

Tentaram até inverter a história política dos dois partidos: atribuíram, ao jovem candidato, o rótulo de pertencer ao “mesmo grupo político”, de querer privatizar o DAE, de possivelmente não terminar os 4 anos na prefeitura... O Serra e o Tobias são novos na política? Falar de privatização? E quem foi mesmo que não terminou a gerência da cidade de São Paulo?

Mesmo não resistindo aos encantos do governador, os dois jornais de Bauru se diferenciam – e muito – ao tratarem a visita na capa.
O JC mostra os tucanos sorrindo, abraçando uma eleitora simples. O protesto da polícia vira um problema de gás pimenta, em uma chamada menor e desvinculada do governador.
O BD acerta na foto e na chamada, ao mostrar o protesto ali, no corpo a corpo com Caio, Serra e Curry.

E é isso que sempre me manteve afastada do PSDB, um partido que vive de factóides. A Fatec é o maior exemplo. Oferece um só curso em Bauru, poucas vagas, com inscrição de R$ 90, e quer ser apresentar como se já estivesse salvando a juventude.
Acreditaria muito mais se o partido investisse no que já existe. O Colégio Técnico, as universidades, os hospitais sucateados, o ensino fundamental anti-repetência...

Again:
“Não se sacia a fome lambendo pão pintado”
Santo Agostinho

Agostinho...
Agostinho...
Agostinho...

Entenderam... rsrs...

Boa eleição!
E que vença o mais votado!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

DEAD-LINE!!!

Acabo de receber um email da UNESP dizendo que minha defesa deve ser ATÉ dia 28 de fevereiro de 2009, também conhecida como sexta-feira pós-Carnaval! Ou seja, se eu não quiser acabar com a folia da minha banca, meu prazo é, no máximo, até dia 20 de fevereiro, antes dos Acadêmicos do Tucuruvi da História Moderna caírem no samba.

É mole?

Se eu preciso defender até dia 20, preciso antes protocolar para a banca ler, mas, antes de entregar a versão final, preciso de uns dias para a impressão dos 8 (OITO) exemplares, mas, antes de imprimir, a minha orientadora precisa revisar e, antes da Zélia ler o texto final, preciso passar para a Aninha revisar e botar no formato ABNT...
Ou seja, meu prazo encolhe cada vez que penso nele.

A UNESP é engraçada... Vai tirando alguns dias, uma semana, e atrapalhando a vida. Na qualificação, foi a mesma coisa: meu prazo foi reduzido em mais de uma semana. E olha que, para quem está estudando, um dia faz tanta diferença...

Meu prazo inicial era 10 de março. Passei para o dia 5 e, agora, me mudaram até de mês: fui para a turma que defende em fevereiro.
Só não entendo o motivo, já que devo ter sido uma das últimas a receber a tal bolsa da Capes.

Vou precisar me recolher, fechar minha alma e mente na ostra da minha tese.
Preciso encontrar a minha pérola ou me transformar em uma.
Preciso da concentração do mundo a meu favor.
Viver, pelo menos por um tempo, lá na década de 70...

Preciso de inspiração, iluminação, concepção e finalização.
Preciso de calma e isolamento.
Infelizmente ou não, só sei estudar assim: imersa, inteira e intensamente.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Voto suuuuuuper válido!

Constatação interessantíssima: meus candidatos, agora, ganham as eleições!
Não de uma forma pontual, mas, sim, de uma maneira geral, meus heróis estão no poder.

Não fui acostumada a vencer, não. Comecei a votar na esquerda com ela sempre perdendo. Suplicy, Mercadante, Genoíno, Aldo... Tentei de todas as formas botar um deles para governar São Paulo – em vão.
Sempre o PSDB vencia... Ainda vence.

Mas, a cada eleição, eu via, pouco a pouco, alguns conseguirem ser eleitos. Senador, deputado federal, e, em Bauru, eu comecei a eleger os vereadores.
Meu primeiro voto vitorioso deve ter sido para o próprio Rodrigo. Majô também teve meu apoio para chegar à Câmara Municipal.

Acho que sempre tive alguma sorte com meus votos para cargos legislativos, mas, para os executivos, eu raramente ajudava a eleger alguém.

O marco, mesmo, foi quando o Lula venceu as eleições em 2002.
Eu já me envolvia com a eleição do “barba” desde 1989, quando eu, ainda brotinho, não parava de cantar a música da campanha mais interessante da história política do Brasil. Eu ficava maravilhada em ver todos os artistas da Globo, o Chico Buarque, todos com a camiseta do PT (que eu também tinha), com o rosto cheio de esperança, a estrela brilhando...
Era a primeira eleição livre para presidente depois dos 25 anos de ditadura militar.

Lembro de implorar para meus pais e minha irmã votarem nele... Eu ainda não tinha título. Mas as mulheres da minha família já estavam enfeitiçadas pela beleza e vitalidade do Collor. Meu pai, não lembro bem, mas votou ou no Covas ou no Afif (“Juntos, chegaremos lá!). Foi uma eleição cheia de candidatos fortes. Além desses, Roberto Freire e Ulisses Guimarães também concorriam.
O desconhecido Fernandinho ganhou e, o resto da história, todos conhecem... Herdamos Itamar Franco: o presidente solteirão.
Aí veio o outro Fernando – dessa vez, acadêmico, todo respeitável, conhecido, com uma história quase bonita. Tucano, ele levou toda a minha família - desta vez, até meu pai! Com o título na mão, votei de vermelho e perdi.
FHC conseguiu aprovar a reeleição para ele mesmo, manter o dólar a R$ 1 e, em 98, venceu novamente. E eu perdi de novo. As pessoas tinham medo do Lula. O resto da história, todo mundo também lembra: ele toma posse, libera o câmbio e o dólar dispara.
Em 2002, quando concorreu com Serra, Lula já era outro. Bem mais preparado, conduziu uma campanha direcionada para ganhar o público que ainda não tinha e que o mantinha afastado do poder. Nem o “efeito Lula” atrapalhou a chegada de um caminho tão longo...
Eu e minha querida amiga Dani Guedes pudemos, pela primeira vez, esbravejar que ele iria, sim, ganhar. Dani até me deu um brinquinho do PT. Somos irmãs de cabeça.
Conseguiu. Conseguimos.
A apuração e a posse do “barba” me emocionaram como se eu, de alguma forma, estivesse ali, representada, dando o tom para o país que eu moro, acreditando...

Agora, vou eleger o meu primeiro prefeito. Rodrigo deve ganhar domingo, felizmente. Vou comemorar duplamente: primeiro porque eu gosto dele como pessoa. Sempre gostei. Um cara que sempre encontrei nos eventos da Apae, onde a minha Mileninha estuda, e que tem uma história de crescimento admirável.
Acho que entrevistei Rodrigo pela primeira vez em 1998, no Jornal da Cidade. Fiquei, de cara, impressionada pela dedicação do ambientalista jovem. Ele tinha uns 20 anos. Lembro que ele não poupava esforços para fornecer material, trabalhar, dar entrevista... Nunca foi estrela nem invasivo, como alguns entrevistados que pedem para colocar tal foto, tal informação...
Em segundo lugar, porque um querido ex-aluno, o Fernando Oliver, está fazendo a campanha do Rodrigo que, sinceramente, fez toda a diferença nesta eleição.

Não sei se fico feliz ou triste por ver meus heróis deixando a overdose de lado e chegando ao poder, invertendo a ordem do Cazuza. Será que estou envelhecendo mesmo? Ou será que as pessoas estão questionando o voto dado, o candidato fácil, “sem riscos”, o “já ganhou”, os preservadores de um discurso que já não convence, já não engana, já nem elege...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dedico minha tese...

Abro, procuro, acho, leio, releio e analiso teses dos outros na tentativa de terminar a minha.
Ajuda um pouco...
Tenho um exemplo incrível, que é da Mariza Bianconcini, dona de uma tese sobre o Antigo Testamento que é revolucionária no seu formato. Com pouquíssimas notas de rodapé, o texto da letrista corre, flui e inebria o leitor, que fica chocado com o domínio que ela tem do que fala.
As outras teses são mais comuns. Anunciam, logo no primeiro parágrafo, a que vieram – como se fosse uma matéria de jornal. Seguem com sua linguagem formal, suas construções rebuscadas e com a distância que criam com o possível leitor.
Eu, como não consigo negar em nenhum momento meu texto coloquial, evidencio meu “eu jornalista” sem medo. Fica menos difícil. Ou, pelo menos, mais justificável no meio dos historiadores.

Uma parte da tese é complicada: a dedicatória, que sempre envolve uma ou até duas páginas da tese...
Quem tem tanto amigo?
E quanta ajuda!...

Agradece-se até o primo da secretária da biblioteca de alguma universidade que nunca terá acesso ao texto. Agradece-se ao marido, esposa, noiva(o), namorada(o) pela “compreensão”... Fico imaginando as brigas homéricas dos relacionamentos que envolvem uma vida acadêmica paralela: “Ou ela (a tese) ou eu!”.

Mas quem consegue, de bem pertinho, compreender e/ou respeitar uma situação tão neurótica quanto a feitura de uma tese de doutorado?

Em Londres, no meu mestrado, só pude agradecer a quem colaborou academicamente com a pesquisa. Regra das universidades de lá. Família, amigos e cônjuges eram totalmente vetados. Achei interessante e, com certeza, mais fácil.

Até acredito que algumas pessoas merecem uma dedicatória. Bons orientadores, instituições que bancaram a pesquisa e até amigos e pessoas que acabaram se envolvendo de verdade no processo.

Se pudesse ter feito a dedicatória da minha dissertação de mestrado, por exemplo, dedicaria ao Má, meu marido na época e companheiro das neuroses todas da produção acadêmica. Melhor: neurosis! Tudo em inglês! E ele lá, firme e forte questionando minha visão sobre o Gramsci.

Mas agora, no final desses 4 anos de doutorado, questiono quem agradecer.
É tanto tempo... Tantas situações aconteceram e mudaram...
Me mudaram.

Devo agradecer à CAPES, pela bolsa no finalzinho desse longo processo?
À família, que tenta entender, tenta respeitar algo tão distante deles?
Aos médicos, que demoraram looongos meses para descobrirem porque eu tinha febre todo santo dia?
Ao fato de precisar trabalhar e não poder me decicar só à tese?

Aos amores, que mais atrapalharam do que ajudaram?

Uma colega escreveu, na abertura da dissertação do mestrado, que dedicava o trabalho para aqueles que duvidaram dela, porque eles foram um alimento para ela.

Muito ácido.
Não sei se sou tão amarga assim.

Talvez eu agradeça aos doidos que começaram o PASQUIM, por terem comprovado os motivos pelos quais escolhi jornalismo aos 17 anos de juventude.

E continuo escolhendo...

sábado, 11 de outubro de 2008

KAOS

Vertigem de tempo na leveza dos dias.
Esforço com paixão.
Mãos executando e se cansando, se casando...
Dos cafés para o vinho. E, no tinto argentino, novos aromas, novas idéias e a tristeza do não-saber.
Sempre com muita água. E muitos cigarros.

Por que cansas tão facilmente, Márcia?
Por que não cansas NUNCA?
Como ter intensidade e despreendimento no mesmo being?

A dualidade vira alimento na alma de quem pára de negá-la.
É puro combustível.
Transforma-se em grau de estabilidade e armadura.
Aqui dentro, estou aceita, inteira, orgânica.

O kaos, de verdade, está lá fora.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

NAS MINHAS MÃOS


Está aqui, nas minhas mãos, o original, o eterno, O PASQUIM: minha paixão, meu estudo, minha inquietação.


Que delícia manuseá-lo! Ainda mais essa edição, que foi publicada quando todos os redatores estavam presos pela ditadura.

Pegar nas minhas mãos essa história é emoção pura.



HOMENS SÃO DE MARTE... ENTÃO É PARA LÁ QUE EU VOU!

Homem que é homem diz e faz.
Chega, entra e sai, sem (des)culpa nem mentira.
É isso: homem que é homem não precisa mentir.
Vem, olha e pega, sem dó nem peso.

Homem que é homem sabe olhar a mulher. Sabe desejar cada partezinha de nossa existência. Sim, porque nós somos feitas de mííínimos detalhes. Homem não pode se preocupar mais com sua existência material do que com essa graça que tentamos, sempre, exalar.


Gosto de homem que não desiste. Que espera com gosto, com sorriso e bom humor. Que vem com ginga, e exerce, mesmo nos mais simples momentos e gestos, o ato da conquista.
Homem que é homem sabe conquistar.
E sabe fazer a mulher rir.

A Pá me disse que o grande homem é aquele que estimula o melhor de nós mesmas.
Concordo plenamente. Principalmente depois de ter conhecido homens que, sinceramente, pouco tinham de masculinidade. Ao olhar um pouco mais atento, mostravam-se suscetíveis da pior forma possível. Quando desnudados de sua aparente força, caiam como patinhos frágeis atrás de uma asa qualquer.
E não tem nada mais feio do que a fragilidade masculina não assumida, aquela que vem mascarada de desculpas e esconderijos.

Odeio homem-mulherzinha.

Homem que é homem não se esconde por trás das palavras. Sabe usá-las como mestre e diz com o olhar. Penetra com força vendo a alma da mulher, ali, ex-posta.

Feliz, agradecemos pelos homens-homens, essa nova categoria, já em extinção, que não tem medo da sua macheza nem da nossa feminilidade. Que é forte e quer o forte. Que é sensível e quer a nossa doçura, nosso cheiro, nosso nexo.

Resumindo: homem que é homem não deixa dúvida.
Deixa vontade.

UMA ELEIÇÃO DIFERENTE

Acho mais fácil definir as pessoas por quem elas votam para vereador do que para prefeito. Na verdade, as influências para se votar no comandante do cargo executivo têm muito a ver com uma força grupal. Você faz parte de uma tribo - dos tucanos, dos populistas, dos esquerdistas, dos conservadores – e pontua com seus iguais. Tem gente que leva em consideração quem está ganhando, para não jogar o “voto fora”; ou vota em alguém para evitar que outro ganhe. Parece pôquer. Você finge uma coisa para conseguir outra.

Para vereador, a individualidade se revela porque as opções são muitas e pulverizadas: vota-se no vizinho, no amigo, no parente, no ex-colega de trabalho, no pastor... Eu mesma conheço umas cinco pessoas que eu poderia pensar em votar por uma proximidade qualquer. Propostas de trabalho na Câmara Municipal, histórico de envolvimento com assuntos políticos ou mesmo o partido do qual faz parte, pouco importam. Dá-se, de alguma forma, um voto de confiança para alguém. As simple as that.

...

Geralmente me envolvo muito com eleição. Deve ser porque a primeira eleição que acompanhei como gente grande foi a do Lula com o Collor. Primeira eleição democrática pós-ditadura. Única. Todos os artistas fazendo propaganda na tv para o PT. A campanha da Globo pelo “caçador de marajás”... Não tinha como não se envolver. Passei a ir votar com a cor do partido. Cheguei até a botar batom vermelho na boca, coisa que fiz poucas vezes na vida.
Hoje, fui votar de um jeito diferente. Estava com um astral batendo no teto e uma alegria que chegava a transbordar dentro de mim. Estou chegando a um estágio de plenitude enorme. Estou conseguindo ser inteira in each and every moment... Até quando assisto tv. Tento mesmo, e tem acontecido.
A política também me importava bastante nesse domingo chuvoso. I can´t help it. Não importa onde eu esteja nem com quem, eu ligo o rádio, quero ir votar cedo, fico inquieta e temo que dê um pane no sistema das urnas e eu não possa CONFIRMAR...
Mas vim de um sábado diferente. Liguei FM, mas pouco ouvi, e só cheguei no Silvério São João às 4h da tarde. Amo voltar e votar na sala em que estudei na quinta ou na sexta série.
Fui chegando devagar, olhando aquela pasta que se formou na rua, dos santinhos dos partidos com a chuva que caiu, e pensando que iria votar no que acredito, sem grandes análises ou proximidades com alguém.
Andava olhando para baixo, pasma com a sujeira, e procurava o número dos meus candidatos, mas eles não estavam sujando o chão da rua em que cresci. Tive certeza de que estava votando certo.
Fui em Gazzetta e Sandro Fernandes, sem vestir nem verde nem vermelho. Mas acreditei. Que merda que, para se escolher na hora do CONFIRMA, são tantos os motivos.
Pelo menos o Rodrigo Agostinho evitou que a Rosa, com seu Cravo, entrassem na política de novo.
Quero ver os jornais nesse segundo turno, porque teve uma capa de sábado que, para mim, era caso de polícia. Colocar o Caio Coube apertando mão de eleitores na capa do jornal em plena véspera da eleição é tão grave quanto um juiz tentar adiantar uma sentença.
Disgusting.
Detesto.

...

Como ando repetindo por aí, “não se sacia a fome lambendo pão pintado”.

Sei lá...

Eu, pelo menos, só gosto de lamber o que eu puder morder! rs..

terça-feira, 30 de setembro de 2008

eu, literária

QUADRILHA – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.


UMA QUADRILHA MODERNA – MÁRCIA NEME BUZALAF

João amava Tereza que era casada com Raimundo que era apaixonado por Maria que era noiva de Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João virou gay, Tereza foi para a Índia meditar, Raimundo morreu de câncer, Maria adotou um filho sozinha, Joaquim teve depressão, transtorno bipolar e síndrome de pânico, e Lili casou-se com Juliana Pinto Fernandes que não tinha nem entrado na história nem interesse em homens, apesar do nome.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

SEGUNDONA

Hoje é o casamento do Giu, amigo desde os meus 14 anos, irmão da Paola-minha-irmã, filho parecido do Flávio, meu eterno querido.
É a típica festa que promove um encontro de nós mesmos. Abraços infindáveis com gente que nunca se vê, que se esbarra nas ruas de Bauru ou que a gente vê sempre – mas parece que ama mais em um casamento. Lembram que a gente pertenceu/pertence a algum lugar: o Interativo, o Rock Drinks, o BB Batatas, o BTC, a Plenty... Pontos de convergência que compõem a nossa identidade.

A celebração do amor de duas pessoas faz a gente se vestir lindamente, se arrumar, tirar itens do armário que só saem mesmo nos dias especiais. Até a calcinha – minha superstição! – deve ser nova. Os noivos oferecem a grande festa, sempre linda nos mínimos detalhes, para a diversão de todos. Em retorno, têm nossa atenção e carinho especial o dia todo – principalmente para as mulheres, que fazem verdadeiros rituais para se colocarem especiais também.

Teve uma época em que eu não entendia o esforço todo da instituição casamento – tanto que não fiz nada disso quando casei. Mas entendi, depois de casada, e mais ainda depois de separada, que é importante o ritual de commitment. Não importa a forma.

No caso desse casamento, várias emoções à flor da pele.
Primeiro de tudo: é o Giu, e a família TODA dele mora no meu coração.
Segundo: sem o Flávio, tão lindo, que amava tanto nos ver arrumados e celebrando alguma coisa.
O bifê (sim, buffet aportuguesado – já está no dicionário, mas o Word estava tentando corrigir para BIFE!!! rs..) é o mesmo que casou tanta gente que eu adoro: a Dani Guedes e o Beto, meu primo e afilhado Flávio e a Camila, o Rodrigo e a Débora... Momentos incríveis.
Só que agora, é o Giu, e sei que teremos a festa das festas.
Porque eu não conheço família mais animada que os meus amados “de Angelis”. Mesmo em plena segunda-feira.

A história do casal também é interessante, digna de um filme. Namoraram, foram noivos, separaram-se, viveram outras coisas com outras pessoas, e voltaram a se encontrar - aí preparados para aquele sentimento que já era tão forte no passado. Nós sucumbimos ao carinho e inteligência da Giovana, que ganhou todo mundo.

Que Giu e Gi vivam a alegria de hoje, que com certeza todos exalaremos, todos os dias.

sábado, 27 de setembro de 2008

Vá lá...

Relutei em montar um blog com acesso mais amplo. Explico: como falar abertamente, sobre mim-self sem saber qual meu leitor?

Uma coisa é escrever histórias jornalísticas para o “público em geral”, dita massa. Parece difícil, e é, mas se torna fácil assim que vc consegue. Vira fórmula, parece o próprio ato de escrever, no automático.
A notinha policial sai fácil, fácil.

Mas não é só isso, não. Tem a coisa da manutenção do blog, cobrança que me fez desistir do primeiro experimento que tive. Mantive um diário virtual durante 1 ano e meio que honrava seu nome. Era, de fato, um diário. Lá, me expunha para apenas 4 ou 5 amigos com acesso. Mas, se contabilizarmos que uma delas, minha irmã, deve ter ainda uma conexão discada, uma outra teve pau no computador e se perdeu, o outro que mal tinha acesso a um micro, éramos, vamos dizer, eu e o blog.

Mas foi aí que meus alunos (adoro o possessivo “meus”) souberam e exigiram meu endereço. Acredito até que eles fizeram buscas infrutíferas, porque eu havia me escondido bem. E foi essa curiosidade que me fez fazer um blog de verdade – não o diário antigo que eu mantinha e que, agora, não faço nem idéia de como desativar! rs....

Aviso de cara: sou eclética e talvez escreva textos longos ou muuuuuuuuito curtos, atualize o blog mais de uma vez por dia ou demoooooooore....

Se eu parecer irritada às vezes, devo estar apenas caminhando para algum lugar.
No jeito ariano que me incita, posso garantir apenas muita paixão.


Oscilante, inebriante e irritante.

Vai encarar?