terça-feira, 26 de maio de 2009

Bauru e/ou Londrina


Minha primeira ida para Bauru depois ter uma casa em Londrina foi semana passada, e foi uma delícia. Peguei a estrada umas 11h – horário ótimo porque o sol não está queimando seu braço e os caminhoneiros estão almoçando. Até as obras nas rodovias estão paradas, com os homens alaranjados deliciando suas marmitas embaixo de uma grande árvore. E são várias. Fico pensando no cardápio, e salivo horrores de pensar em um bom arroz com feijão. Mas, calma, já já estou na minha mãe.

Shú veio ótima na volta. Veio na sombra do chão do banco do passageiro. Encostou seu rostinho no banco e veio olhando para mim as quase quatro horas!

Chegando, deu aquela alegria boba de pegar a Getúlio Vargas. Não dá para explicar, mas rola. Até Shú levantou e começou a chorar de agitação. Lentamente, fui vendo uma cidade que amo, porque tem gente e lugares que me fazem feliz, as ruas onde cresci e ainda moro, mas, infelizmente, constatei: Bauru é muito feia.

Tadinha... Tão promissora, bem localizada, com história do trem e tal...

As cidades deveriam se copiar. Ir para outro lugar, ver como se faz, voltar e fazer igual! Deveria ser simples assim. Hoje, peguei um ônibus de Londrina só para ver como era. Cheguei no ponto, tinha informações, entrei, me virei bem e voltei pela mesma avenida (meeedo de me perder!).
É triste ver Bauru com um sistema de transporte municipal ridículo. As pessoas viajam 40 minutos em pé, cheias de sacolas, depois de ficarem no ponto de ônibus embaixo de chuva ou de sol. Sim, porque, na cidade “sem limites”, ponto de ônibus é um pau enfincado na calçada. Não tem informação, não tem banco nem respeito. Não tem nada.

Tudo bem, respirei fundo e cheguei no “meu” predinho! Ah, que satisfação ver Roberto de boné, se adiantando em abrir minha porta e dizendo que o prédio ficou vazio sem a cachorra e eu.

Robert´s desembarcou a Shú (em Londrina, quando chego, é o caos: a cachorra surtada, as malas todas, e eu sempre sozinha!). Fui correndo para a Norma, que havia feito o almoço... Ah, que delícia... Ainda fui fazer unha e dar um trato, mas voltei para buscar a Mileninha da escola. Ela se jogou nos meus braços naquela entrega dela... Tomamos banho, ela gargalhando sozinha. E eu, com plena consciência da emoção daquele momento, gargalhei com ela.

Chegando em casa, percebi que, em Bauru, tenho um latifúndio! Dá para brincar de esconde-esconde naquele espaço todo. Dá até para correr! Pode-se fazer vários pratos porque se tem várias panelas. E copos, taças, xícaras até com infusores. Fora os livros e textos, os cinzeiros e canais de tevê.
Eu fiquei chocada com minha casinha, vendo tudo como se fosse a primeira vez. Até porque me adaptei tão bem no “um-quarto” de Londrina que nem senti falta de tudo isso do cantinho bauruense.
Mas foi bonito ver tudo ali. Tudo meu, construído ao longo dos dez anos, desde que fui morar sozinha, recebidos de presente, comprados com prestações, adquiridos, incorporados pelo tempo.

Na quinta, a aula na Unip foi ótima. Eu estava até com outro pique. Na UEL, sabe-se de todos os concursos, congressos, prêmios para alunos de jornalismo. Já cheguei em Bauru divulgando tudo. Depois da aula, com uma animação sem fim, fui com a Paola no Dublin´s, em uma noite divertidíssima que apenas reforça a tese: a gente sempre se diverte! É só ter um bom som e uma boa bebida – eu e a Pá damos risada grande parte da noite. Eu tomei uma Erdinger, porque queria brindar minha primeira vinda para Bauru já com os pés vermelhos –com a mesma grande e incrível amiga.

Na sexta, a volta tortuosa para Londrina. Cachorra chorando até Espírito Santo do Turvo com um calor absurdo. Vamos lá. Psicologia canina: vou manter a calma para ela sentir... Deu quase certo. Mas parece que Shú não queria voltar para cá. E ela continua chorando to-da vez que saio da minha casa aqui em Londrina. Em Bauru, imagina, ela é a cachorra mais budista do mundo.

Mas, ao entrar na cidade, ao pegar a JK, chegar no meu prédio, pegar minha chave (ah, a chave!...) e pisar no meu apartamento 803, senti que voltava para casa.
Também.

domingo, 24 de maio de 2009

As chaves de Londrina


Desde que cheguei aqui, percebi um fenômeno estranho. Com exceção da trava da porta de casa, todas as chaves parecem entrar em todos os buracos. Para abrir a minha casa, todas cabem na fechadura. Na porta do prédio, também. Elas entram, mas apenas uma, de fato, gira totalmente e abre.

Só posso acreditar que isso faz parte do magnetismo desta cidade. Ela recebe a gente como nenhuma outra. E, como todos aqui são abertos, felizes e satisfeitos (tenho certeza de que eles botam Prozac na água – mesmo!), os elementos mais materiais – como as fechaduras e chaves - também se contaminam com o clima.

Esta receptividade por parte das fechaduras não foi exclusividade do meu prédio. Também ocorreu na UEL! Duas aulas minhas são dentro do laboratório de impresso e de foto. Sigo aquela rotina de pegar a chave com o pessoal do departamento e ter de rodar cada uma delas para ver qual quer abrir a minha porta.
Uma a uma, elas todas entram e elas todas tentam. As chaves daqui gostam disso: de adentrar o buraco negro, dar uma rodopiada e sair da fechadura, como se fosse uma brincadeira de mal-me-quer bem-me-quer.

Quando roda, gira 90, 120, 280 e, enfim, 360, 720 graus no buraco mais perfeito para sua anatomia, ela tropeça de felicidade, continua e atinge o ponto mais prazeroso, o final do caminho, a porta de luz.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Imersão literária


A solidão é, acima de tudo, a melhor companhia de um livro. Ou vice-versa. Não estou dizendo de uma edição qualquer que sempre circula pela casa. Eu sou um desses seres que vivem cercados de livros. Em casa, frequentemente acordo com alguns deles na minha cama. Acredito que raramente passe poucos dias sem um nas mãos. Mas, ter um livro, ler partes, fazer fichamento, debulhar as imagens, vasculhar sua bibliografia, entender seu sumário, tudo isso não é ter a companhia de uma obra. É utilizá-la, como faço constantemente porque sou professora e apaixonada pelo produto como um todo.
Estar com um livro é como estar apaixonada por alguém: você não vê a hora de chegar em casa, adora ficar na cama com ele, leva o bendito para qualquer canto e cumpre rituais bestas para encontrar o ser amado (meu caso é sempre cappuccino ou vinho, com cinzeiro e cigarrinho por perto). Mais do que tudo, vc não quer que aquilo acabe nunca.

Já passei por estas experiências de mergulho em livros durante dias e dias consecutivos em diferentes situações - mesmo não querendo chegar até o final, não se consegue largar daquela paixão, daquela descoberta toda... E o ser apaixonado sabe que, paixão que é paixão, precisa ser vivida de forma intensa e sem restrições.
Tive este tipo de relacionamento, que eu me lembre, com Raduan Nassar (“Um Copo de Cólera), Ruy Castro (“Saudades do Século 20” e “Ela é Carioca”), Shakeaspeare (“Hamlet”), Carlo Ginsburg (“O Queijo e os Vermes”), Henry Bergson (“Comicidade e Riso” – coisas de doutorado...) e Chico Buarque (“Gota D´Água”). Foram descobertas incríveis. Com cinema também faço assim: assisti “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis” em uma tacada só, alugando todos de uma vez. Imersão.

Claro que, uma vez, o tiro saiu pela culatra. Assisti a uma entrevista do Paulo Coelho, no início da saga de seus best-sellers, no Jô Soares. O apresentador contou ter lido o então recém-lançado “O Alquimista” em uma tacada só. Como minha mãe e minha irmã gostavam do autor, tínhamos suas obras e eu sentei para mergulhar nela feito o Jô - durante um feriado inteiro. O efeito foi o contrário: peguei uma birra daquele texto dele e fiquei com raiva até de qualquer coisa boa que até poderia ter tirado dali.

Em Londrina, mergulhei em uma nova paixão que não quero que termine nunca. É com o Chico, com seu “Leite Derramado” – presente de Dani e Beto no meu aniversário e que eu sabia que seria uma dessas loucuras literárias.
Depois de poucas páginas, percebi que era uma obra-prima que se iguala à riqueza das suas canções. Agora, podemos dizer sem medo: Chico é um homem absolutamente perfeito.
O livro é construído com capítulos curtíssimos, de 3, 5 páginas, mas com um parágrafo só! Totalmente brethtaking, gente. É para ler.
Me recuso a chegar ao final desta história tão bela, mas acho que, desta noite, não passa.

Uma pitada de Chico arduamente selecionada. Olha ele descrevendo o tesão como poucos:

“Mal sabia ela que, de noite, eu espreitava da minha janela de fundos a hora de Matilde pisar a relva do jardim na ponta dos pés, entre as amendoeiras e a casa dos empregados. Eu descia correndo e lhe abria a porta da cozinha, que Matilde apenas ultrapassava. Encostava-se na parede da cozinha, a respiração curta, e me arregalava os olhos negros. Em silêncio, nos olhávamos por cinco, dez minutos, ela com as mãos na altura dos quadris, torcendo a própria saia. E corava pouco a pouco até ficar bem vermelha, como se em dez minutos passasse por seu rosto uma tarde de sol. A um palmo de distância dela, eu era o maior homem do mundo, eu era o Sol. Via seus lábios se entreabrirem, e acima deles, brotavam umas gotículas de suor, enquanto suas pálpebras devagar cediam. Enfim, eu me jogava contra o corpo dela, pressionava o corpo dela contra a parede da cozinha, sem contatos de pele, ou avanços de mãos ou de pernas, por algum acordo jamais expresso. Com meu tronco eu a esmagava, quase, até que ela dizia, eu vou, Eulálio, e seu corpo tremia inteiro, levando o meu a tremer junto.”

Música para ir

"Meu lar é onde estão meus sapatos."
Sá & Guarabira me ensinaram isso em 1998, quando comprei um CD por conta da música "Ziriguidum Tchan", mas também me apaixonei por esta. Me tocou muito, porque estava indo para Nova York, e sentia que teria várias casas a partir de então.
Vale a letra, mas vale mais com a música, com a sonoridade que eles dão para a leveza de se viver a vida sem grandes apegos e com muita entrega.

É importante saber partir.

"Desde que me conheço
Que sou assim
Mas não, não, não ria de mim...
Amigo de novidades sem ambição ou raiz
Mas isso não me faz infeliz

A gente tem que saber
Ser dono do seu destino
Partir se tem que partir
Ficar se tem que ficar

Meu lar é onde estão meus sapatos
Meu lar é onde estão meus sapatos
Um pouco em cada pedaço e lugar

Mas basta que você diga
Basta que você diga
Uma só palavra pra mim
Que sim, sim, sim.
E logo você vai ver
Que eu cheguei pra não mais sair
E vim, vim, vim..."

terça-feira, 19 de maio de 2009

As cores da solidão


A solidão não é preto e branca como nosso imaginário imagina.
Ela vem com muita cor, e em todos os tons, como os que vejo agora.
Sozinha, sem televisão, sem telefone (meu Vivo morreu em Londrina), com internet restrita e conhecendo poucas pessoas da cidade, o sentimento que me veio foi de estar só, seguido por um levantar alucinógeno em que todas as cores ganharam vida própria.
Minha casa parece bem mais verde, a UEL é verde, Londrina é verde e a minha sobrinha é rosa.
Meu prédio é cheio de flores, a UEL cheia de árvores, meu wine é cor de vinho vivo, minha cachorra está ficando degradê...
Nas caminhadas, os carros são coloridos, os casacos são policromáticos e os prédios parecem do bairro La Boca.
O Lago é cristalino e me persegue em qualquer lugar que eu vá. Quando vejo, novamente estou cruzando o Igapó. E tem sempre gente azul, verde, amarela e vermelha caminhando por lá.
Quando vou dormir, depois da minha good trip, sonho em preto e branco. E feliz.

domingo, 17 de maio de 2009

Primeiros dias


Estou devidamente instalada em Londrina.
Apartamento bonitinho que a faxineira da minha irmã limpou antes de eu entrar. A Mi deixou até presentinho para mim... A síndica é uma coisa fofa, super gente boa. Seu nome é Linda, e ela é. O porteiro da noite é o seu João. Nordestino simpatissímo. Disse lembrar de quando eu fui ver o apartamento, e que ficou torcendo para eu morar aqui. Nem de perto é um Roberto na minha vida (meu porteiro em Bauru, meu faz tudo, que me conhece desde pequenininha), mas, puxa vida, ter alguém com um sorrisão desse por perto é bem gostoso.
Minha sala é bem clara, bem gostosa, no oitavo andar de um prédio que é perto de tudo (tem um bar/restaurante Tailandês lindo na esquina de casa) e fica na rua Espírito Santo (pouco abençoada?). O chuveiro é gostoso, já entendi como funciona o gás encanado e já guardei tudo que trouxe. Minha mãe fez aquela compra (O que é uma mãe feito a minha?).
A viagem foi incrível. Shú veio na estrada como se fosse uma cachorra do mundo. Colocar a cama dela no banco de trás do carro foi a solução mais acertada. Mesmo assim, quando ela deitava e eu a elogiava (“minha cãzinha maaais linda do muuundo...”), ela já levantava e dava uma choradinha, querendo ir ao meu lado. Fez a alegria dos caminhoneiros que até buzinaram para a cachorra enrugada que eu tenho.
Chegando aqui, ela pirou um pouco com a casa – não se achava. Quando saí para almoçar, ela gritou e, pela primeira vez, raspou a porta querendo desesperadamente ir comigo. A mesma cena se repetiu quando voltei do almoço e fui para a UEL. Ela realmente ficou com medo de ficar sozinha neste apartamento tão frio.
Ah, este é um detalhe importante: Londrina é/está gelada! Ontem, fez 8 graus de manhã! Fui correndo comprar um edredon e uma pantufa. Eu, que sou super calorenta, efetivamente tremi de frio.
Por ficar um pouco afastada da cidade, a UEL é ainda mais fria – mas só na temperatura. Fui para uma reunião com o coordenador de jornalismo na sexta-feira mesmo. Peguei meu mapa, entendi para que lado deveria ir e cheguei lá tranquilamente. No departamento, fui super bem recebida. Vários cafés, conversas e risadas... Parece que já os conheço. Detalhe: já tem verba aprovada para eu fazer dois jornais com o pessoal do terceiro ano. Em formato A3 dobrado, grampeado, com uma média de 20 páginas, poderei desenvolver, até o final do ano, textos EXCLUSIVAMENTE opinativos: editorial, crônicas, artigos, críticas, resenhas, charges... Que luxo! Probleminha na hora de sair da tal cidade universitária: me perdi no campus e acabei visitando o pessoal de biológicas e exatas. Legal é ouvir aquela variedade enorme de sotaques brasileiros típica das universidades públicas...
Estou louca para conhecer os alunitchos.

O que eu gostei de fazer aqui? Sair, eu e Shú, para caminhar no frio com sol das manhãs...

O que eu percebi (e que não sabia)? Londrinenses são menos politicamente corretos do que eu imaginava. Em oposição ao estado de São Paulo, tem muuuitos fumantes soltos livremente e pouquíssimos bafômetros pela cidade.

O que ainda falta? Amigos. Os meus amigos. Não serve qualquer um, não. Eu sei que tenho jóias raras em Bauru. E que fazem uma falta....

O que facilita a vida? As grandes avenidas da cidade, a simpatia das pessoas, todas as opções de lazer, a localização de onde moro e o fato de ter irmã e sobrinhas aqui.

O que é mais engraçado? Sair de uma cidade onde todos reclamam e ir para outra onde todos os seres vivos parecem amar cada pedacinho desta terra. Eu achava que era só a minha irmã, mas não: todos parecem trabalhar como guias turísticos em Londrina.

O que me fez chorar? Ver, ontem, no supermercado, um menino com Down. Aquele olharzinho que é praticamente igual em todos eles me trouxe a saudade da minha irmãzinha. Não tive nem dúvida: botei os óculos escuros porque sabia que não ia conseguir segurar o soluço.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vida de cachorra

Hoje, eu queria ser uma cachorra.

Ser igual à Shú, que sente que tem algo diferente na casa, que cheira as malas e as caixas de livros e panelas espalhadas pela casa, mas não sabe o que está acontecendo.
Não sabendo, não precisa decidir, escolher, fazer, mover-se...
A coitada nem tem noção de que vai enfrentar quatro horas de estrada amanhã pela primeira vez, que vai mudar de casa, de cidade, de estado... Tudo isso fui eu quem precisou decidir. Quem vai forrar o carro e ajeitar a cama para que ela se sinta bem também sou eu. E quem, com certeza, não vai dormir esta noite de preocupação também será eu!

Deve ser bom, às vezes pelo menos, não precisar decidir nada.
Ser carregada, alimentada, transportada com carinho e preocupação.
Para agradecer, seria só abanar o rabinho, dar umas lambidinhas...

Pensando bem, tem muita mulher que vive assim.
Eca!
Prefiro minha responsa-habilidade que sempre me traz angústia, mas que vem carregada de liberdade.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

É.

“A palavra mais bonita da língua portuguesa tem só uma letra: é”.
Clarisse Lispector

domingo, 10 de maio de 2009

Swing: sobre o amor, o tesão e o casamento


Um programa do Canal Brasil chamado Swing, apresentado pelo diretor de cinema Domingos Oliveira e sua esposa, a atriz Priscila Rosenbaum, veio com uma proposta diferente: os dois conversam, individualmente e separadamente, com um casal – geralmente ligados ao mundo artístico – sobre o relacionamento deles e sobre o casamento de uma forma geral. O cenário é a casa de alguém ou uma praia carioca. E sempre regado a cerveja.

As perguntas não são nada discretas, já que todos se conhecem, e envolvem tesão, (in)felidade, frequência sexual, discussões diárias, contas a pagar e até o swing propriamente dito. A linguagem é coloquial e, como é comum no Rio, usa-se muito o verbo trepar (adoro como os cariocas falam sem pudor: “A gente trepa de manhã...”).

Nos vários programas, algumas afirmações foram feitas. Destaco uma que mexeu comigo: “a mulher casa com o homem achando que ele vai mudar – e não muda. O homem casa com a mulher querendo que ela não mude – mas ela muda!”.

Acho bem verdade. Talvez a mulher mude muito quando o homem não cede nada. Ou o homem se reafirme exageradamente à medida em que vê a mulher se tornando outra pessoa. E tudo isso – até a motivação do programa - parece fazer parte de uma crise maior do casamento que, na minha opinião, tem e não tem fundamento.

Explico melhor. A dificuldade de manter um relacionamento hoje em dia é fato, visível e inquestionável. Como aliar os desejos e anseios – pessoais, profissionais, familiares – com outro ser humano detentor de suas próprias neuras, rotinas e paixões? Cada dia eu percebo mais que poucos, poucos mesmo, conseguem chegar a este Everest do amor.

Ao mesmo tempo, não acho que a vida individualista que vivemos hoje em dia comporte tamanho individualismo. Os empregos te levam de um lado e outro. Os amigos vivem cada um em uma cidade e país, cada um com seu horário, cada um no seu cantinho. Não que a amizade sincera não acalente o coração – pelo contrário - é um dos grandes alentos.
A dinâmica moderna pede para que a gente divida a vida com alguém. Pensem bem: é quase contraditório fazer uma “produção independente” justamente quando as mulheres trabalham o dia todo! Também é estranho quando homens mantêm casamentos protocolares hoje em dia sendo que eles podem viver tudo com apenas uma mulher, ou tudo com todas e o tempo todo...

....

Vejo um swing confuso entre a mulher, o homem, e entre eles todos juntos quando o assunto toca no sexo. Quem está solteiro quer estar casado; os comprometidos invejam uma liberdade visual e real de quem não tem hora para chegar; alguns se descobrem homossexuais no meio do casamento hetero; jovens querem parecer mais experientes; vários lutam contra qualquer indício de idade...
I cant´get no satisfaction em seu estado puro e superficialmente emocional.
Hoje em dia, ser passional tornou-se sinônimo para efêmero - não tem mais nada a ver com viver uma emoção profundamente.

Talvez a solução para o troca-troca que aqui levantei esteja justamente no swing.
Talvez trocar, sim. Não de parceiros, mas de funções. Deixar a mulher e o homem serem todos e qualquer um. Unidos pelo companheirismo e pelo eterno sexo.
Aquele sexo sem fim que só acontece quando se ama e se entrega ao amor. Aquele que derruba a lágrima do gozo completo, de quando se levita e se conecta com o outro na carne, no pulso e na alma.

sábado, 9 de maio de 2009

Minha primeira vez

Acho que, depois de 21 anos ovulando, tive minha primeira TPM este mês. Conheço quem têm, e sempre me orgulhei de não passar por isso, principalmente porque existe todo aquele estigma de que, quando a mulher está de mau humor, só pode estar nesta fase... Namorados me elogiavam por esta qualidade!

O problema é que fiquei uma semana chorando por quase tudo. Na estrada, várias músicas me levaram ao choro.
O moço na cadeira de rodas que fica na frente do Pão-de-Açúçar – que eu e minha mãe sempre ajudamos – parece que me olhou tão fundo ao agradecer que eu chorei.
Cai no soluço – literalmente - ao ver, na Globo News, uma grande reportagem sobre as inundações no Pará, Bahia, Piauí, Amazônia... Crianças sendo amarradas na cama para não se perderem na correnteza dos rios de chuva.
Lembrei da mobilização que a mídia e as empresas de Bauru e do Brasil fizeram pelas vítimas das cheias em Santa Catarina. E aí chorei muito, de raiva da miopia social, da transparência desta gente, da desimportância desta dor.

Chorei de emoção quando entrei no “meu” apartamento em Londrina.
Chorei ao fazer tarefa com a minha sobrinha.
Chorei de alegria ao entrar na Getúlio Vargas e já ver gente conhecida.
E quase chorei quando ouvi de alguns alunos novos, esses dias, que eu sou a professora preferida deles.

Chorei também com a Milena, minha downzinha que está cada dia mais verborrágica, com novas palavras, novas manias, uma gargalhada cada vez mais feliz... Choro de amor.

Chorei com meus melhores amigos depois de uma tarde com cerveja e caipirinha...
Também chorei porque tive um sonho ruim esta semana.

Engraçado é que, quando a TPM desova, a insônia mostrou uma lua ainda mais bonita e um amanhecer cor-de-rosa lindo em Bauru...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Diário de estrada 1

Os dias estão corridos entre as várias obrigações e a mínima diversão e ócio das quais eu necessito. Sinto que este blog pode ter uma real finalidade agora: informar os lugares e as reflexões pelas quais estou passando.

Londrina.

Bom, a cidade é muito linda mesmo. Tem quase absolutamente tudo.
Gosto de ler o JL, um jornal tamanho berliner, bem feito, muito bem escrito, com um seção toda dedicada a bichinhos que precisam ser adotados, colunista como o Paulo Briguet e distribuído gratuitamente! Adoro este tipo de democracia.
Também consegui conectar a net da sacada do apartamento da minha irmã. Sei lá, mas me achei meio racker-espertinha usando a conexão alheia. O que não deixa de ser democrático também.

Na UEL, ainda estamos na burocracia. Levei a papelada toda, vou fazer exame médico (eles pedem até RX!), ainda não consigo me situar naquela cidade universitária, tem muita gente bonita, praticamente todos são simpáticos e tem cada árvore, gramado e pracinhas de tirar o fôlego. Tem restaurante universitário de qualidade, uma programação de cinema incrível e até uma capela bem charmosa.

O melhor desta ida para lá foi decidir onde vou morar. Era preocupante morar em uma kitinete nos dias de hoje. Outra coisa: perto da UEL? Queria ficar mais perto do centro. E, em dois dias, achei um apartamentinho mobiliado, muito charmoso, com cama gostosa, cor e vida, além de pessoas legais trabalhando lá. Meia quadra da JK, principal avenida, e, in 10-minute-walking, estou na casa da Mi. Tem uma padoca na esquina, um clima gostoso, um astral bem parecido com o meu.

Comprei um mapa (melhor forma de me situar na cidade), e volto semana que vem levando minha cachorra, malas e cuias. As aulas começam quando eu assinar o contrato.

O maior problema: a estrada. Gosh, não chega nunca! Claro que Londrina não é tão longe, mas é que eu passei tanto tempo na rota Bauru-Assis que meu corpo começa a se cansar assim que eu vou deixando o estado de São Paulo. Adoro cruzar a fronteira com o Paraná, sob o Rio Paranaguá que reflete um sol bonito de se ver... Um pouco depois, vem a outra ponte, sob o rio Tibagi, que também enche meus olhos.

No meio do caminho, alguns desvios e, desta vez, pior: pistas interditadas em que você efetivamente pára, desliga o carro e derrete no sol. Em uma dessas paradas, a cena ridícula que, sometimes, a gente desempenha: um mega-marimbondo entra no meu carro e eu, depois de perceber que não teria frieza suficiente para me manter parada, não tive dúvida, abri a porta e sai correndo. Um caminhoneiro me perguntou se estava “precisando de alguma coisa, moça”. Com certeza, agitei um pouco aquela interdição monótona.

Mais uma coisa meio complicada da estrada: o toca-fitas do carro. As fitas que tenho estão me cansando e, em um determinado trecho entre Ipaussu e Sertanópolis, já no Paraná, simplesmente não existe uma rádio decente. São todas ou religiosas (evangélicas E católicas fervosas), ou sertanejas/axés/sei lá o quê. Não dá para definir aquilo, gente. Para se ter uma idéia, eu clamo para tocar qual-quer pop music boba. Juro mesmo: Skank, Capital Inicial, coisas simples já me ajudam.
Eu gosto da surpresa do rádio, mas realmente, são vários quilômetros sem nada.

Mas, ontem, eu queria mesmo era que Londrina fosse um pouco mais longe, um pouco mais Paraná, um pouco mais Curitiba.
Seria só botar o gorrinho preto e branco e ir ao estádio ver meu Timão, talvez engatar um Oasis no final de semana...
Eu, mudando de Estado - e de estado.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

fundo de garrafa

Algumas mudanças podem vir de pequenas grandes atitudes que acontecem sem notificação. São conversas, encontros, olhares, frases soltas que mudam quem você acha que é, e transforma sua imagem perante os outros.
Trazem uma enxurrada de questionamentos e um trovão de tristeza.
Com lágrima nos olhos, dói ainda mais ver a sua própria pessoa no espelho. A visão fica turva, cheia de deformações próprias do mundo que te vê, te julga e te categoriza. “Esta não sou eu”. “Não é bem assim...”. “É bem isso!”. “Isso, não dá para mudar”.
A cabeça fica doida pensando na diferença entre quem você (acha que) é, e a imagem que você passa, entre o que você (acha que) sente e o que você faz.

Mas eu também julgo.
E me calo.

sábado, 2 de maio de 2009

O lado bom...


Agora vou morar em Londrina quase a semana inteira.
Vou ter pé vermelho e tomar café Cacique.
Quero andar no parque Arthur Thomas e conversar com os macaquinhos. E correr no lago – bem no meio da cidade.
A cidade universitária da UEL vai ser meu cantinho, meu labirinto...
Vou adorar andar entre as grandes avenidas: JK, Higienópolis, tantas...
Será bom ter o bar-mercado-padaria Pizzol aberto (e delivery!) 24hrs todos os dias. Tem tudo lá.
Espero aproveitar os cinemas, teatros e bares da cidade. São muitos.
Fico feliz por já ter dois bares marcados para ir: o Vilão (desde 1978) e o Valentino (desde 1979).
Voltarei a viver em uma kitinete. Desta vez, uma que já nasceu mobiliada. Desta vez, com minha cachorra! God bless us!
Terei um condomínio grande, com piscina e quadra de futebol. Ambas serão devidamente aproveitadas.
Terei muito tempo para pensar durante as horas semanais na estrada para dar aula na Unip em Bauru.
Quando quiser me auto-agradar, vou jantar no Villa Fontana coisadelouco. Tem uma brusqueta inesquecível.
A pequena Londres é interessante porque eu quase conheço bem a cidade, eu praticamente tenho alguns colegas lá, e eu potencialmente me viro bem por suas ruas...
Será engraçado (ou trágico?) ser vegetariana naquela cidade cheia de churrascos, sanduíches e sushis...
Conhecer gente, lugares, cheiros e sabores novos será bom, muito bom, ótimo, bastante maravilhoso além de incrível...
Vou voltar a ter atendimento com os alunos, horário para reposição de aulas, desenvolver pesquisas...

E o melhor de tudo: minha sobrinha já está me esperando...
A frase mais falada tem sido: “Quando a tia Má chega?”.