segunda-feira, 27 de abril de 2009

my great-grandparents!

Meus avós moravam na rua Cussy Júnior, praticamente ao lado do BTC. A casa dos Neme era uma alegria só: era perto da Batista, tinha sala de música, uma varanda linda voltada para a rua, um quintal enorme com um corredor cheio de parreiras de uva, quatro filhos homens e cinco mulheres!

Meu avó era um libanês não-tradicionalista que, para mim, é um exemplo de pai e marido. Com minha avó, era só mimos. Apesar do casamento entre eles ter sido arrumado, e de serem primos, a memória de minha mãe sempre lembra que, quando ele foi buscá-la no porto de Santos, ainda meninota para casar com ele, ele sentiu amor à primeira vista. Alfredo passou a vida toda tirando o miolinho da melancia especialmente para a esposa Sálua se deliciar.

E foi ela que cuidou com uma força espantosa durante os cinco anos em que ele ficou em uma cadeira de rodas. Grande parte da minha memória sobre o meu avô é desta época, já que ele morreu quando eu tinha uns 8 anos. Mesmo assim, lembro do meu jeidi (avô em árabe, e como sempre o chamamos) se comunicando e altamente lúcido. Ele gostava de ter os netos por perto e falava com seus olhos absurdamente azuis.
Que homem bonito.

Com a minha seite (avó) e com os filhos, ele curtia o Carnaval do BTC. A foto é de um desses momentos, carinhosamente extraída do blog da minha querida prima. Minha mãe conta que, ao primeiro acorde da banda, meu avô se levantava e seguia com sua enorme família pelas ruas, já dançando e cantando, para o salão que deixou tantas memórias. Meus tios vigiavam minha mãe e minhas tias – todas lindas – e meu avô parecia vanguardista para aquela época.

Entre as histórias das meninas, não me esqueço que uma delas fugiu para casar com o homem de quem gostava, negando o casamento proposto por um árabe amigo do meu avô. O que o meu jeide fez? Conversou com o pai do pretendente apaixonado da minha tia, recebeu minha tia de volta em casa e fez o casamento dos dois.
Ele também não pensou duas vezes em, uma vez, mandar minha mãe toda jovem levar, sozinha, de carro, a irmã para prestar um concurso São Paulo. Ele era um ariano muito moderno, e eu tenho lembrado e conversado demais com ele nos meus pensamentos.

Eu não conheci meus avós paternos. Para ser sincera, acho até que nem sei o nome deles direito. A mãe do meu pai morreu quando ele ainda tinha uns 10 anos, e o pai foi antes de eu nascer, mas, pelo que sei, era um homem quase detestável. Sorte minha que tenho lembranças apenas dos pais da minha mãe.

Depois que meu avô lindo se foi, toda a família se voltou para a minha avó, que ainda morava naquela casona junto com uma tia. Mas, não adiantou: menos de cinco anos depois, ela levou um tombo, foi internada e logo foi embora para perto dele, como todos prevíamos.
A vida dela sempre foi perto ele.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

When I´m 35


A vida tem me surpreendido constantemente e deliciosamente.
Quando menos espero, aparece mais uma notícia, um encontro, um brinde, uma conversa, um briga, um email, uma comida, uma palavra, um amigo, uma lua que me arregala os olhos. Acredito que seja uma certa predisposição a estar aberta e atenta, digna de quem passou períodos de desânimo seguidos por um autocontrole absurdo.

Agora, tudo se mostra de outro jeito para mim. Profissionalmente, vou surfando entre as possibilidades de encontrar a minha praia. E sei que logo logo mergulharei na melhor onda possível. Socialmente, tudo cada vez mais gostoso: altos jantares com amigos e vinhos maravilhosos. Virou hábito, hobby, necessidade. Prazeres palatais que eu degusto como se fosse a primeira (ou a última) vez. Na vida familiar, estou começando a me situar melhor. O espaço de cada um fica mais claro quando se percebe seu próprio lugar.

Mas é no dia-a-dia que sinto mais mudanças. Passei a aceitar alguns sentimentos sem muita explicação, a negar quem me faz mal, e a amar o meu cotidiano flutuante.
Acredito que faça parte da reflexão de quem fez 35 anos, e sabe que o tempo não volta, não molda, nem solda ninguém.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A “minha” cidade


Ando curtindo os bares de Bauru.

No final da tarde, a cidade parece que tem praia. Não é brincadeira, não. O bar do antigo Aeroporto e o Jeribá, principalmente, trazem quase o cheiro do mar. Mas tem os tradicionais botecos de esquinas - típicos de qualquer cidade do estado de São Paulo. Amadeus, oh God, com um cardápio tão bom até para que não come carne. Todas as cervejas, todas geladas, a mandioca cozida no ponto, várias mesinhas com gente passando de carro devagar, chegando, parando... Famílias, casais e muitos homens no happy-hour de interior... E tem o Português, o Bendito Santo (com pinta de carioca), o Salomé....Final de tarde ou sábado na hora do almoço em Bauru: você não vai se arrepender. Pura curtição de interior.

Mas a alegria também se estende para a noite. Bares e restaurantes que fazem parte da história daqui - e da minha. Ando frequentando dois lugares em especial. O Templo tem tudo que eu gosto: vinho, cultura brasileira (aqueles quadros do Chico me piram...), as melhores massas da cidade (existe comida depois do Talha T?), garçons camaradas, e o dono comandando a cozinha. Também gosto da rigidez daquele lugar. Não aceitam cartão, só fazem alguns filés mal passado, botam pimenta à despeito dos que não admiram, fecham alguns meses do ano, e demoraram anos para trocar as mesas e cadeiras de metal por madeira... Eu amo. Eu ia lá quando ainda comia carne, quando o Templo era ainda só uma casinha. Tem música. Tem jazz e bossa nova. As melhores alcaparras do mundo. E, isso, desde sempre.

O segundo lugar que tenho aproveitado nas noites é o Armazém. Acho que é uma nostalgia de quem sabe que está indo embora... Mas aquele bar é como um ponto de encontro de uma geração de músicos, jornalistas, artistas, ilustradores e simpatizantes... Foi inaugurado em 1980, e eu comecei a frequentar quando eu tinha uns 17 anos. Lembro de mentir para a minha mãe para poder ir no “Arma” – que tinha fama de bar de doidos.
De fato, é. Mas os doidos que lá habitam são criativos e do bem. O Armazém pôde viver anos e anos com banheiros unissex – felizmente, eu vivi esta fase. Mas eu nunca vi nenhuma briga lá . Fui com quase todos os meus namorados, e foi a única balada, até hoje, que eu encarei sozinha, sem o menor receio. Paulão e Valéria, os donos, garantem a integridade e originalidade do lugar. É lá que será a comemoração do meu aniversário, na próxima quinta-feira. Até minha mãe vai. E todos estão convidados.

Tento aproveitar, porque, daqui algumas semanas, começo uma nova rotina de viagens. Ficarei em Bauru somente de quarta à sexta-feira, quando vou para Londrina dar aula. Já vivi essa coisa de passar um tempo na estrada toda semana, mas agora não estarei aqui mais aos finais de semana – quando realmente aproveito alguma coisa da cidade com nome de sanduíche. Também é quando aproveito para cozinhar, só eu, minha mãe e a Milena...
A parte boa será poder ir buscar minha sobrinha na escola, lá em Londrina, ou sair para tomar um sorvete, só eu e ela... Para uma tia saudosa, que nunca pôde conviver desse jeito com minha boneca, é o paraíso.

Sei que só agora consigo dizer que Bauru é minha cidade.
O apego é a véspera do desprendimento.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

sobre tudo.

Depois que o tempo passa, o vinho decanta e o sabor ressalta.
Dá todos os motivos para aquela cor ser tão sedutora e tão forte.
Mostra que cada pegada de uva manchou o chão de sangue e de beleza, formando um mapa do tesouro encantado na busca de tudo.
Mapa rasgado, desgastado, tingido, eu sei, mas com um caminho amado, almejado, vivido.