sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A SUPER-AÇÃO


Então fica tudo certo quando se ajeita uma parte da vida. Escolhe-se um retorno na estrada, engata quarta, depois a quinta marcha e o caminho ganha uma forma segura para evitar desamparos. É quando um aspecto da nossa existência está garantido – e os outros viram meros artefatos de lazer ou grandes fantasmas evitáveis.

Tem gente que se apaixona, se casa, se amasia e encontra, ali, predominantemente ali, no canto mais nobre do coração, o lugar de conforto para a vida. Acontece como encontro de verdade, e também acontece como amparo ou mera acomodação.

O dever é, também, motivo de vivência: doa-se quase todas as horas úteis do seu dia na execução de uma tarefa. Entre frustrações e emoções, equilibramos. O trabalho traz uma realização de troca com o outro, com o desconhecido, que satisfaz por si só – além de ser necessário para a sobrevivência. Ocupa, portanto, espaço grande na maior parte das pessoas.

E tem gente que vive para a família, só a família, no desacordo com o mundo público. Filhos, cônjuges, visitas e aparentados: tudo para bem servir e para bem viver. Podem se preocupar tanto com o escopo das quatro paredes que pouco participam da sociedade.

E há os que vivem de ajudar – esquecem que existem como instinto, e constroem os passos na dedicação do outro. Assistenciais ou devotos, são fiéis aos que precisam de alguma coisa. E dessa alguma coisa todos se nutrem.

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Super-ação seria a transposição dessas esferas todas na ordem subjetiva de cada um. É superar a acomodação de apenas uma “casinha”: a sentimental, profissional, familiar ou coletiva. Dá para ter mais de mais. Quem mergulha apenas em um dos caminhos ativa uma parte do corpo e garante uma certa segurança e conforto. Mas torna-se dependente dela: alegrias e tristezas ficam (a) condicionadas em uma única caixinha.

O importante, mesmo, é acordar “a” esfera adormecida. Qualquer que seja ela. Mesmo que a hibernação venha de tempos, aquele pedaço de coração ainda pulsa. E mais do que se pode imaginar, porque a força de ampliar os caminhos traz segurança para trilhar - é retroalimentativa. E traz sorte. Como as que tenho tido.



"Somos o que fazemos mas, sobretudo,
o que fazemos para mudar o que somos"
(Eduardo Galeano)

Um comentário:

Fabrício Aro disse...

BELÍSSIMO TEXTO, COMPLETO EM SUA MENSAGEM.
NÃO ACREDITO QUE HAJA ALGUÉM QUE NÃO SE IDENTIFIQUE COM CADA PARTE DELE.
AOS CARNEIRINHOS QUE QUEREM ATINGIR O TOPO DA MONTANHA, UMA DICA: UTILIZEM ESSE MATERIAL COMO OBJETO DE SOBREVIVÊNCIA NUM MUNDO DE MÁSCARAS SOBRE MÁSCARAS.