quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Revertendo a tristeza agendada


Era para ser o pior final de dezembro da história. Pelo menos para mim, que passei o ano mais difícil dos meus 36. Trabalhei muito, sem parar, fiz duas mudanças de casa (Londrina-Londrina e Bauru-Londrina) sozinha, prestei dois concursos na UEL (e dá-lhe madrugadas estudando os pontos de cada um) e, por fim, vi meu pai ir embora deste mundo nas minhas mãos, e a des/re-construção pela qual uma pequena família como a nossa passou.

Em agosto, eu já estava querendo 2011. Clamava pelo fim do tormento, pela mudança numérica e astral que poderia me trazer a virada. Passar do ano do Tigre para do Coelho só poderia ser pacificador. Agenda nova e a certeza de que, algumas dores, ficariam datadas em 2010.

Mas ainda estamos em dezembro do ano turning point e, assustadoramente, eu estou bem mais feliz e tranquila do que imaginava. A saudade do meu pai se tornou minha companheira – converso com ele, peço ajuda (e recebo), choro, dou risada lembrando das características tão marcantes do meu velhinho... E isso, de alguma forma, acalentou uma solidão que vinha me entristecendo, e que tinha vínculo, também, com a morte dele. Consegui, não sei como, levá-lo para dentro de mim para, assim, tê-lo como talvez nunca tenho tido.

Tentarei deixar, em 2010, os momentos de descrença profissional, as incertezas familiares, as pessoas que não valem a pena, as notícias que não me interessam mais, a postergação de algumas atitudes, a ingenuidade besta que tenho com o ser humano e a irritação quase permanente com o que me indigna. E quem sabe levar um conhecimento maior sobre a(s) morte(s) que vi, vivi e viverei na minha vida.

Mas faço questão de levar os presentes que ganhei ao longo dos meses. O maior, sem dúvida alguma, é a pequena gama de pessoas que, se me faltassem, eu não teria me segurado. Já vivi mirando projetos de onde queria chegar. Agora, meu projeto de vida é ter boas pessoas sempre por perto – e fazer o que eu posso por elas. Quem esteve ao meu lado, de alguma forma, quando meu pai morreu, foram os que ganharam um lugar no meu coração pra sem-pre. Cada email, cada abraço, cada ligação e todos os olhares de carinho no momento em que mais se precisa dos outros – foi/é inesquecível. Estes seres especiais ganharam uma importância divina em mim. Vi, de verdade, que somos e estamos juntos nessa – nessa vida.

Também não largo dos bons hábitos adquiridos: depois de anos com leituras quase que sempre acadêmicas, voltar para os romances, biografias, poesias e tratados. Foi ótimo. Até reli, em um sábado à noite, o Carta ao Pai, do Kakfa. Também reli o Leite Derramado do Chico.
Outro bom hábito: cozinhar meeeesmo, in daily basis. Sem a casa da mãe por perto, fui descobrindo minhas habilidades e escolhas, porque aceitei que não sou uma pessoa de self-service.
Terceira mudança do ano: música sempre, todo dia, para levantar ou acalmar. Música para tudo.
E, por fim, recomendação de um amigo querido: se espreguiçar longamente ao acordar. Ainda mais eu, que durmo encolhida. Vai fazendo um bem... Além da esticada, tomar dois copos de água em jejum assim que se acorda, e esperar ao menos 15 minutos para o café.

Alguns hábitos são delícias que fazem parte dos dias, que geram estabilidade e que nos levam a algum “lugar”. Na minha vida, estão cada vez mais acompanhados por um bom vinho e ótimas pessoas. À lá Lenine, em 2011, “quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa”.

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