segunda-feira, 26 de abril de 2010

Manual para alugar um apê em Londrina


Estou de aviso prévio no meu um-quarto-mobiliado-provisório há umas duas semanas, mas já venho olhando apartamentos desde janeiro, quando percebi que minha residência daqui pra frente é mesmo em Londrina.
Adianto o resultado: é difícil pra caramba. Nunca achei que fosse uma epopéia achar um bom lugar no centro, com dois ou três quartos, sacada (quanto maior, melhor), dois banheiros, cozinha bacana porque eu gosto de cozinhar, armários sem aquele cheiro de mofo, banheiro com box blindex (meu luxo; acho que faz uma diferença) e armários (tenho tara por cremes), além da exigência de ser em andar alto. Bom, tudo bem, acabei de perceber que minha lista não é pequena, mas, caramba, nem estou miguelando no orçamento...
A questão é que Londrina tem uma dinâmica própria muito diferente do que já vivi quando loquei apartamentos em Bauru. E esta experiência trouxe algumas revelações:

1. O mercado imobiliário daqui é superaquecido. É irritante, efêmero e impessoal. Gente mudando, gente construindo, alugando, só querendo vender, voltando pra Londrina. Mas nenhuma imobiliária se preocupa realmente com o que você quer – principalmente se quiser algo fora das áreas em desenvolvimento.

2. Tentar direto com o proprietário parece ser mais difícil ainda. Primeiro porque, se você for partir dos jornais, precisa ir direto para a Folha de Londrina. São três cadernos no domingo só de imóveis. Fui ver uns cinco apês de anúncios de três linhas. Foi frustrante. Em segundo lugar porque, em termos de imóveis, as imagens falam muito mais do que apenas algumas linhas de palavras abreviadas (2qts,1suite,wcsocial,sac,coz.plan.,gar!!!).

3. Encontre corretores sensíveis e que te ouçam. Tem gente que fica tentando me enfiar na Gleba Palhano – região nova da cidade com várias avenidas, prédios e condomínios, mas sem padarias, sem gente, cachorro ou banca de jornal. É lá que estão os apartamentos brand new. Mas eu não vou, ah, não vou mesmo.

4. Se queres morar no centro, também não dá para pensar em nada aquém do sexto andar. A proximidade de prédios tira totalmente sua privacidade e, neste sentido, aquela sacada tão almejada pode virar depósito ou vitrine, dependendo da sua atitude.

5. Se gostou, faça a proposta por escrito no mesmo momento. Sim, porque se você for como eu, que passa a noite pensando, fazendo contas (mania de ariano), rabiscando no papel a disposição da casa, e liga apenas no outro dia para confirmar o interesse, vai perder. Eu deixei pelo menos dois belos apartamentos serem alugados por outrem porque foram mais rápidos. Quando em Londrina, aja.

6. Só aceite o apartamento mobiliado se ele for equipado com coisas novas e boas. Se for velharia – como na maioria dos casos – prefira um pelado e vá até a Duque de Caxias, uma rua temática com vários móveis, geladeiras e afins usados. Tem produto praticamente novo e relíquias charmosíssimas. Ah, e não se engane: distingua mobiliado de semi-mobiliado. As imobiliárias e os proprietários confundem.

7. Se você está chegando agora em Londrina, sacrifique um pouco a economia, aperte o cinto nas tentações das piscinas/fitness centers “palhanas”, e more no centro. É lá que é possível se sentir parte da cidade. O centro tem vida, tem gente, todo tipo de gente, gente andando, tem cachorro e lixeira, tem lojinha, bar diferenciado e boteco, tem banco e supermercado, cheiro de pão quente, tem acesso pra todos os lugares, rodovias... Tem trânsito também? Tem. Tem acidente de carro? Muito. Violência, furto, assalto com morte? Tem. Mas o centro é o centro – lugar de histórias e também possibilidades. Até para procurar lugar pra morar, é mais fácil lá: faço minhas visitações andando, procuro os prédios que gosto nas caminhadas com minha cachorra. Por isso, digo e repito, sem receio algum, o mantra que tanto apavora os corretores de imóveis daqui: “eu quero morar no ceeeennntroooo”. E dá-lhe pernas.

Um comentário:

Thelma Yeda disse...

ehehe, que gozado! Eu senti exatamente tudo isso quando fui alugar um apê em Bauru...