sábado, 3 de abril de 2010

Vizinhos e vizinhas


Eles são muitos porque compreendem não apenas os moradores do meu prédio, mas também os edifícios vizinhos e tão próximos. Por isso, valem o post. Só aqui no Chamonix, somos em 60 apartamentos – seis por andar, com dez pisos. No mínimo, mínimo, 60 moradores, mas tem vários casais (não sei como eles se suportam no microespaço) e gente com animais, que também são vizinhos.
Já vivi momentos estranhíssimos e interessantíssimos no prédio. Começou com a moradora de baixo, que deu de implicar com minha cachorra desde quando cheguei e não para. Costuma dar vassouradas no meu chão, a coitada, que já reclamou do barulho da Shú até quando ela estava em Bauru! Detalhe: shar-pei praticamente não late, e a minha, eu sei, é uma lady. Foi latir com uns quatro meses de vida pra mais. No começo da perturbação da vizinha, eu ficava irada. Agora, revido sapateando ainda mais forte, e no mesmo ritmo da grosseria dela.
Aos poucos, percebi que a mulher é realmente a laranja podre do nosso edifício; portanto, abri o coração para o resto. Mas, uma bela noite em casa, outro problema: minha vizinha de porta me interfona pedindo para eu colocasse roupa, porque o namorado dela era “folgado” e estava me olhando, de trajes menores, pela janela. Mais estranho ainda: a menina, de uns 20 anos, me tratou super bem e, aparentemente, o voyerismo do moço não atrapalhou em nada o relacionamento. Não era eu que iria encanar. Segui adiante.
Descobri a Ângela, um amor de pessoa que me traz manga da fazenda, pão sírio da kibeteria e ossinho para a Shú. Fui ficando melhor assentada. Conheci um vizinho vegetariano que é assim desde neném. Foi o único caso em que vi uma pessoa nascer veggie. Tem também o Rogério, arquiteto cabeça aberta e dono da Nina, uma lhasa linda linda, e o Leonardo, aluno de direito da UEL, do mesmo andar que eu, por quem a minha cachorra é apaixonada. São os mais chegados, apesar de passarem longe do rótulo de amigos. Tem personal trainner, advogada, guarda de trânsito feminina, alunos universitários e até de cursinho.
Apesar da diversidade do edifício, o mais interessante daqui são os vizinhos dos outros prédios, próximos ao meu. Para quem não conhece Londrina, o Centro é uma região vertiginosamente de prédios. É um do lado do outro em uma sequência que só e quebrada pelas padocas, cafés, pets, salões e algumas lojas. Mas é prédio com prédio, não tem jeito.
Na janela do quarto, dou de cara com o Terremollinos, um duplex que paquero desde que cheguei aqui. De lá, convivo com senhor fumante, que deve ser expulso para a sacada pela esposa, tem gente sozinha feito eu, e, estranhamento, reparo em um apartamento com três sãopaulinos e uma garota. Enigmático. Tem apartamento que fica com a luz acesa o tempo todo. Passo mal de revolta. E tem gente que não dorme de madrugada, como eu.
Das janelas da sala, outra vista: o belo prédio da rua Goiás. As decorações são lindas - as amplas sacadas permitem a visualização da sala de todos. E, mais uma vez, divido momento com os vizinhos. Dia desses, tinha um cara tirando foto da chuva. Também, pudera. Nossa vista de um temporal é belíssima. Um outro, no mesmo dia, estava no celular por horas enquanto eu trabalhava na sala. Ele até tentou tecer uma conversa comigo entre prédios, na base da mímica, mas não aconteceu. Acabei me distraindo com um casal alto astral tomando cerveja na sacada logo ali, no primeiro andar. Pareciam embebecidos um pelo outro e, felizmente, nem repararam que eu estava lá.

Em Londrina, voyeurismo é condição de moradia da região central. Você assiste e é assistido. Percebe fatos, estabelece relações e criar uma narrativa com começo/meio/fim, causa/consequência, trivial/surpresa... Pode até intervir nas histórias, consciente e inconscientemente. Parece um Big Brother no MUTE, e em mão dupla.

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