quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando sábado chegar


Ah, como eu amo os sábados. Dia sagrado para esta libanesa aqui, e não sagrado no sentido da reclusão – mas por ser abençoado e cheio de rituais, de belos momentos. Tive alguns sábados que são muito inesquecíveis. O primeiro que eu me lembro com esta importância foi o 4 de julho de 1998, Independence Day, em Nova York. Um americano muito gente boa, o Harry, me levou para dar uma volta de helicóptero por Manhattan. Vi os fogos ao meu lado, no por-do-sol lindo do verão de lá, em cima do enooorme Central Park, rodeando a pequena Estátua da Liberdade... Eu ria sozinha, porque não acreditava no que presenciava. O medo da altura foi embora em um minuto. E ainda voltamos de carro do Brooklyn de volta para o centro, vendo os fogos na Brooklyn Bridge.
Também me lembro do primeiro sábado em Londres. Maysa, uma amiga jornalista, nos levou passear em Camden Town e nos mostrou o que seria nosso ano naquele lugar. Fiquei boquiaberta a maior parte do tempo. Tudo muito diferente: pessoas, lugares, estéticas, conceitos, liberdades, interação... Foi o começo.

Atualmente, meus sábados cotidianos são mais tranquilos e não menos emocionantes. E é porque eu simplesmente amo os sábados, e sempre sempre sempre os aproveito com o mínimo de dignidade. Claro que já tive sábado triste, de choro, de hospital com alguém querido, ou com algum dedo meu quebrado... Mas a regra é alegria – porque é sábado e dá para fazer quase qualquer coisa. Você ainda tem o domingo para descansar, e vem do pique todo acumulado durante a semana que, às vezes, demora a terminar. Eu, geralmente, já tenho uma pequena gama de possibilidades sabáticas.

Na casa da minha mãe, o sábado é uma delícia porque a Vicentina está lá também, e sempre ficamos batendo papo na cozinha ao som dos beijos da Mileninha e com o aroma dos temperos da casa. Atualmente, quando vou para Bauru, perco parte do sábado na estrada. Perco, não. Ganho. Porque é sábado, e a estrada fica ainda mais gostosa. Tem caminhão? Tem. Mas o clima é outro. O segredo é sair cedinho e ir sem pressa para “a-pressiar”.

Tem sábado que eu passo na casa da Paola – na piscina, em almoços longos na varanda, com nossa tchurma ou só eu e ela. Tem sábado que eu fico no Fá – tomamos vinhos, lemos a Folha, assistimos tevê e rimos, sempre, muito. Tem sabadão que eu vou para os botecos. Aliás, não tem “baladinha” melhor pra mim do que uma tarde de sábado no Português, no Varanda, no Amadeus, no Aeroporto de Bauru... Rola até um sambinha.

Tem sábado que eu descanso para poder sair à noite – em Nova York, chama-se “disco nap”. É aquele cochilo para os adultos com mais de 30 conseguirem aguentar uma festa até mais tarde. Já tive meus sábados de mudança de casa e meus sábados de trabalho. Dia 19 mesmo, eu vou ter um desses: aula na pós da UEL, sábado inteirinho. Tive, tenho e sei que ainda terei muitos sábados de reclusão estudando: durante a tese, para escrever artigos, montar aulas, pesquisa, ler, quem sabe para começar a pensar em um pós-doc... E eu adoro. Vou intercalando com um jogo de futebol, um noticiário, um Saia Justa, um Furo MTV, uma hidratação caseira nos cabelos, e dá tudo certo.

Gosto de deixar a janela aberta para ver o sol do sábado, e a energia deste dia tão mágico. Cozinhar no sábado também é mais gostoso porque se tem mais tempo. Pode-se deixar a berinjela no forno devagarzinho enquanto se limpa a casa, ao som de alguma banda dos anos 80. Sim, anos 80 é ótimo para dar pique nas coisas. “Romeo had Juliete”, do Lou Reed, ou “She´s so cold”, dos Rolling Stones, fazem a vassoura virar microfone em um minuto. Mas só aos sábados. Também é o melhor dia para receber visitas. Dá para fazer almoço, jantar, lanche, até ceia. Sábado deve ter fartura e qualidade – é quando degusto meus melhores vinhos, ingredientes e sorvetes.


É o melhor dia para se ficar com quem se gosta, mas também é o campeão para se passar sozinho. Certamente não é um dia para fazer compras – está tudo lotado pelos que não tem tempo durante a semana. Em Londrina, o único lugar permitido para mim, aos sábados, é o Shangri-lá – porque lá é gostoso e diferente a cada dia da semana. Dá para comprar todos os jornais que eu gosto, pegar aquele pão integral fresquinho e tomar um café da manha meio brunch. Outro lugar para brunch de Londrina, e que é gostoso aos sábados, é a Pandor. Sem a pressa da semana, dá para pirar na degustação dos cafés e pães de lá. Porque sábado não tem relógio.

Sábado também é dia de assistir filmes. E em casa. Nem me arrisco no cinema – a não ser o ComTur, da UEL. Mas eu costumo guardar alguns bons filmes e/ou seriados para o sábado. Porque, de repente, você não quer que o sábado termine, e seu organismo acorda (como eu faço) para ver um pouco do Altas Horas, e, depois de um cappuccino, o corpo já está pronto para uma sessão de cinema na madrugada sonora do sábado. Ou o livro que eu sempre deixo para terminar no sábado; para terminar o sábado. Sempre nas madrugadas. O momento no qual eu quero me agarrar. O ainda sábado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Anterei! teu texto me fez lembrar meus sabados, que foram milhares e eu curti aa exaustao, quando nao existiam Caio e Nuno. Hoje, todos os sabados sao deles - e continuam sendo deliciosos. beijos, Lori.