domingo, 17 de julho de 2011

Um ano sem meu pai





E ainda me sinto estranha...
Desenvolvi uma certa invejinha de quem tem pai vivo. Tornei-me uma ariana mais centralizada e responsável. Dei de cuidar do meu carro com mais carinho (era uma obsessão do meu pai). E passei a comprar coisas beges – cor predileta dele...

Diferentemente dos domingos em Londrina, no lugar de ir ao Mercadão Shangri-lá comprar os jornais, hoje cedo fui à missa para prestar uma homenagem ao meu pai. Assim que começou o ritual, as tais intenções foram lidas e eu caí no choro ao ouvir o que eu mesma havia escrito: 1 ano de falecimento de Said Buzalaf. E o caos começou, porque a linda paróquia da Higienópolis com a JK virou praticamente uma festa, cheia de músicas, power point´s religiosos e crianças que preferiam estar em um parquinho. E eu não conseguindo segurar os soluços... Os primeiros 15 minutos da missa foram assim, festivos para os outros, e emocionados para mim.

Quando finalmente o padre começou a falar – e eu esperando um belo salmo pela frente – o choro foi dando lugar à indignação. O discurso enveredou para as ações da Igreja Católica na Índia, que salvam meninas que seriam mortas pelos seus próprios pais porque, segundo o padre, a segunda filha mulher deve ser afogada e enterrada no jardim da casa. Isso para os hindus, claro – os indianos católicos são pessoas do bem, alertou o sacerdote.

Levantei e fui embora. Com cara de brava, olhar inchado e a certeza de que minha melhor homenagem ao meu pai é no dia a dia, honrando a honestidade que ele sempre me ensinou a ter.



ps. a foto acima deve ter sido a última do meu pai. Foi tirada em 2009 pelo Schubert, vizinho do predinho, e enviada pra mim há uns dois meses.


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