quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Por que não falar em paixão?



“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem contra o outro.
É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos,
ou dedos na ponta das palavras.
Minha linguagem treme de desejo.”
Roland Barthes

Sonhei que estava apaixonada e acordei como se estivesse. Deixada em uma cama, ah, e com a vontade de ficar pra sempre. Não senti frio nem calor; não vi sol nem lua. Nem o rosto de quem amei eu consigo recordar.

E não é assim o “state of bliss” que invade quem se apaixona? Tempo e espaço adquirem um outro ritmo. Vive-se uma sintonia paralela do mundo real que estimula o animal em todos nós. Na base do instinto, pensa-se pouco e sente-se tudo.
Exatamente como nos sonhos.

Acordei lembrando de poucas imagens da minha noite, mas com uma emoção de quem havia vivido uma paixão das mais gostosas: a sensação das mãos se roçando, dos pêlos masculinos na minha pele, da aproximação para o beijo na boca - aqueles segundos emocionantes e que parecem tão deliciosamente longos...

As pessoas ficam totalmente intensas quando apaixonadas. Eu fico encantada. O apego com o cotidiano se esvai porque o prazer de estar vivo é sentido plenamente. O organismo todo fica todo feliz; o corpo até muda – cria movimentos e desejos próprios. Há muito pouco o que se controlar.

Tem paixão que vem e que fica por um tempo; outras, já começam com prazo de validade e algumas podem durar bem pouco apesar da alta intensidade. Existe, até, a possibilidade de se re-apaixonar por alguém que havia caído na rotina. Não importa muito o tempo ou a forma com que concretize (sim, porque paixão platônica é uma contradição de termos), se apaixonar é resultado de um encontro raro, de um momento de iluminação ou de uma brincadeira de um “chato dum Querubim”.

Recorro a quem foi extremamente criticado por abordar o tema: Roland Barthes, em “Fragmentos do Discurso Amoroso”, de 1977. Reproduzo um de seus verbetes, também chamados de “figuras”, deste sentimento/estado/paixão:


“CONTATO: a figura se refere a todo discurso interior suscitado por um contato furtivo com o corpo (mais precisamente a pele) do ser desejado.

1. Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia abstrair do sentido desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato, e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista (...)
Gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido".

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