quinta-feira, 7 de abril de 2011

A dita, 47 anos depois

Foi difícil ficar ausente da discussão dos últimos dias sobre a ditadura civil-miliar que veio com o golpe de 1º. de abril de 64. Se foi dia 31 de março ou até antes, prefiro registrar a ironia da data, já que o fato foi auto-conclamado de “revolução”. Mentira – e das bravas.

Para mim, o tema aparece recorrentemente – queira eu ou não. Na verdade, sempre quero, apesar da taquicardia que me invade quando a questão aparece na minha frente. Mistura a inveja de uma geração tão intensa e unida com o inconformismo de tamanha(s) violência(s). Para quem também se interessa, uma lista recente do tema:

- Carta Capital desta semana sobre o tema. Ainda não comprei então me abstenho de comentários detalhados – é sugestão de Fabrício. Mas confio neles. Mino Carta, o editor da revista, viveu na pele a censura quando estava na iniciante Veja. Chegou a desligar os telefones da redação em uma sexta-feira para poder fazer circular a famosa reportagem de capa sobre tortura. A revista foi apreendida no dia seguinte, claro.

- Ficção-ambientada? Há uns bons meses, li que um filme estava sendo feito sobre o assunto. Seria sobre o final dos anos 70, em meio ao Dancin' Days, e na ressaca de alguns torturados. Se não me engano, o nome é A novela das oito. Como o assunto fica sempre restrito ao gênero documentário, acho que vale a pena ver como um diretor insere uma estória na história.
A segunda ficção-ambientada foi, para mim, chocante. Cheguei da aula noturna da UEL na terça-feira com minha mãe me ligando para eu ver a novela do SBT. What? Norma não é fã do canal do Sílvio Santos e, somente graças ao controle remoto, caiu no assunto. Assim que liguei a tv, percebi que era sobre a ditadura. Fui para a internet pesquisar e, de fato, é uma novela sobre o período que antecede o golpe até a guerrilha do Araguaia (previsão inicial do autor Tiago Santiago). Talvez, vá até a morte de Vlado. Chama-se Amor e Revolução”. É a história totalmente fictícia de um casal apaixonado meio Romeu e Julieta – ele, filho (inconformado) de militares; ela, de família comunista – mas marcada pelos fatos daquela época. Todas as notícias e declarações “oficiais” feitas na novela são verdadeiras – extraídas dos arquivos existentes e abertos. Outro detalhe: ao final de todos os capítulos, pessoas que se envolveram com a ditadura dão seus depoimentos. Vamos ver no que dá.

- Os documentários que recentemente assisti e que mais me marcaram.
1º. Hércules 56 (de Silvio Dá-Rin; 2006), fornecido pelo querido Beto, e que discute o sequestro do embaixador americano com riqueza historiográfica. A questão da memória está ali, se mostrando em toda sua força e fragilidade. Já vi mais de três vezes.
2º. Cidadão Boilesen (de Chaim Litewski), recente, de 2009. Toca em um ponto inexplorado e sensível da ditadura: o envolvimento das empresas na “caça aos comunas”. É até fácil botar a culpa nos militares, apenas. Mas a rede de relações que foram traçadas ali são bem mais complexas. E o documentário consegue mostrar isso com uma trilha alucinante e uma boa recuperação de imagens documentais e de cenas do cinema brasileiro.
3º. Dzi Croquettes (de Tatiana Issa e Raphael Alvarez) é só indicar. Acho que todos podem gostar dos 13 bailarinos que montaram um show/teatro/circo absolutamente irreverente. Pan-mega-global-sexuais, os artistas fugiram do Brasil no que eu chamo de auto-exílio. Foi lançado ano passado.

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