segunda-feira, 21 de março de 2011

Ainda sobre Itacaré – a Shú


O que fazer com uma cachorra que, quando afastada de seu protetor, para de comer, se arranha toda, esfrega o rosto no seu tapete até tirar sangue? Pois é, a minha é assim. Detalhe: antes de viajar em janeiro, deixei todo um schedule de pessoas que visitariam, cuidariam e dormiriam na minha casa com a cã. Mesmo assim, ela surtou.

Para a viagem de Itacaré, saí de Bauru no sábado e voltei na noite do domingo seguinte. Uma semaninha apenas, mas já na segunda-feira Shú parou de comer. Soninha, minha half-sister, chegou ao meu apartamento no final da tarde com pão francês que a canina ama e toda a disposição para assistir tv, brincar e dormir ali. Shú cheirou a iguaria e voltou para sua cama, triste e dramática – como a Sô definiu.

Durante a semana, os relatos sobre minha cachorra só pioravam. Roberto, o porteiro-amigo, dizia que ela se esfregava no meu carro e estava se machucando... A vizinha contou que Shú latiu uma noite in-tei-ri-nha (detalhe: shar-peis simplesmente não latem). E o que fazer quando se tem o mar, vários quilômetros e uma semana apenas pela frente? Impotência total. Aceitei.

Mas, na sexta-feira, veio a bomba: Roberto a encontrou, logo cedo, toda sangrando, toda arranhada, e com pelotas vermelhas por toda a fuça. Minha mãe, mais que rápido, chamou a veterinária-vizinha do prédio. Eu na praia da Concha, tomando vinho com Paola e o mineiro-carioca Márcio... e Shú lá, toda desconcertada no antiinflamatório.

Quando voltei pra Bauru e entrei em casa, vi uma cachorra que parecia ser moradora de rua. E o pote do comida lá, cheio. Mas foi só eu perguntar pra ela se ela não queria comer para Shú voltar ao seu apetite natural. Sarou em um minuto; comeu o pote todo! E eu, vendo aquela alegria toda de quem talvez nem sobreviva se passar algumas semanas sem mim, perdi minha fome.

Não sei o que fazer com esse amor maravilhoso que os cachorros desenvolvem por quem cuida deles – mas que é, em alguns casos, dependente demais. Ela não sabia que eu ia voltar, não podia falar comigo nem receber torpedos... E Shú, como já disse aqui, é minha caricatura. Ansiosa ao extremo, ama poucas pessoas – mas quando ama, é de verdade. No caso dela, é em demasia. Sofre, claro, e a única solução é tomar florais, já que ela, diferentemente de mim, não tem o hábito relaxante de encontrar os amigos, ler um bom livro, assistir a bons filmes, almoçar com a sobrinha e família, curtir um vinho, viajar pra Itacaré...

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