sábado, 6 de junho de 2009

Objetos Voadores Não-Controlados


Na estrada, pouco ou quase nenhum controle existe para o motorista. Também não há muita liberdade, não. Todas as regras estão dadas pelos traços, placas e pelo caminho que você precisa seguir. Nem fazer xixi a qualquer vontade você pode: precisa chegar até o posto mais próximo, ou saber que não tem posto por ali e encarar o matinho mesmo...

Esta falta de liberdade envolve, necessariamente, não sair da sua pista. E ela, a pista, é fina, determinada, esburacada, com ou sem acostamento, às vezes fechada, às vezes aberta, duplicada ou simples, simplesmente. Logo você aprende a manter-se naquele espaço porque, ao sair dele, para ultrapassar o caminhão ou desviar de um buraco, todo perigo pode acontecer.

Mas e quando você antevê um problemão na sua frente, mas não pode fugir dele, justamente pela limitação que existe nas trajetórias intermunicipais?

Aconteceu comigo na estrada, na última ida para Bauru, e três vezes.

Objetos que vieram de encontro a mim, até o meu carro, porque não tinha como eu desviar. Minha liberdade na estrada foi reduzida a administrar minha velocidade e alertar os colegas viajantes dos outros carros de possíveis perigos.
Cena de filme(s).

Foi surreal.

Primeiro: a neblina no norte do Paraná. Na quinta-feira bem cedo, bem fria, peguei dois trechos completamente esfumaçados e nunca me senti tão fisicamente suscetível na vida. Qualquer carro poderia vir pra cima de mim de frente, por trás, de lado e até por cima que eu nem ia perceber. Entrei em uma nuvem e não saía mais. Parar no acostamento não é nada indicado, nem possível, mas continuar a andar sem ver nadica parecia suicídio. Nem tempestade tira tanto a visão do motorista do que a neblina. Em pista simples, então, é desesperador. Mas é bonito.
Cena de filme canadense.

Segundo: caminhão na minha frente com uma lona semi-solta. Senti o perigo. Recuei. Andamos uns bons 20 km assim, mas, quando eu nem esperava, aquele troço alaranjado veio de encontro ao meu carro. Bateu no meu vidro, eu pisei no acelerador, abaixei minha cabeça (puro reflexo), meti a mão na buzina para alertar o carro de trás, que, infelizmente, teve a lona grudada no vidro, levando o motorista e pegar o acostamento. Eu assistindo tudo, coração acelerado, ainda assustada.
Cena de filme com Johnny Depp.

Terceiro, e pior de todos objetos voadores não-controlados: quatro urubus comiam algum cachorro morto bem na faixa que dividia as duas pistas simples. O carro que estava na minha frente assustou os carnívoros, e eles voaram. Um deles, porém, mais guloso, ficou para trás, e voou atrasado. A cada segundo rodado do meu pneu, eu o via se aproximando, vindo de encontro a mim. Reduzi a mínima velocidade o máximo que podia, mas ele... POW!, bateu no meu vidro da frente. Foi como se tivesse me atingido também. Olhei desesperadamente no retrovisor para ver se o urubu havia morrido e se o carro de trás estava acompanhamento a carnificina toda... Não. O bicho saiu voando normalmente e nem incomodou o outro motorista. Logo fui olhar para o meu vidro, temendo uma rachadura pela pancada. Também não. Intacto. Mas o desgraçado deixou uma marca nojenta (ainda mais para uma vegetariana) bem à minha direita: um pedaço de carne do cachorro que ele estava comendo ali, no meu vidro.
Cena de filme do David Lynch.

Um comentário:

F_ARO disse...

INCRÍVEL.
O FILME DO URUBU PODERIA SER PRODUZIDO PELO DAVID CRONENBERG E DIRIGIDO PELO DAVID LYNCH.
BEIJOS
F