segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pós-aula

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“Filmes deveriam ser um meio como qualquer outro,
talvez mais valioso que qualquer outro, de escrever história.”
Roberto Rossellini (*)
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Foi sábado a minha primeira aula para um curso de pós-graduação. A idéia de entrar em uma sala que pudesse ter sociólogos, historiadores, designers, jornalistas, letristas, advogados, publicitários e até dentistas me assustava. Pior: em uma área que não faz parte da minha formação acadêmica principal, muito menos da formação profissional. A área era Cinema e Documentário. E, se por acaso dirigi algum filme na minha vida, foi no chá-bar da Paola, e fui rapidamente e amplamente desclassificada como a amiga que fica com a câmera na mão. Duvidaram até do meu diploma de jornalista na época.

Mas, com o que estudei aqui e acolá, além da ajuda inquestionável do Fabrício, montei a aula. Dei o título “A representação da censura militar no cinema nacional”, o que facilitou metade do caminho. Era importante caminhar por onde eu conhecia. Ao longo das duas últimas semanas, fui editando, editando, mas foi na sexta-feira que bateu a preocupação. Respirei fundo, quase varei a noite revendo o roteiro da aula, lendo textos alternados, tentando achar uma frase que conseguisse abrir a aula (*), e, é claro, me irritando por não ter meus livros todos em Londrina.

Acordei tarde no sábado, subi para o Pátio São Miguel, tomei um expressão, depois mais um, li a Gazeta do Povo para respirar notícia, imprimi o material de aula, xeroquei um texto da BRAVO! na JK, e voltei para casa rever os pontos principais já bem acordada.

Havia marcado com o coordenador do curso uma conversa prévia parar 13h30. O medo de não achar o caminho para a faculdade me fez sair de casa exatamente 12h45. E não é que cheguei lá de primeira, feito uma londrinense cruzando o Igapó?

Pisei na faculdade e fui avistando os vários potes de álcool em gel. Um climão estranho, corredores vazios... O professor chegou e nos demos bem de cara. Sociólogo, gente boníssima – minha irmã bem havia me avisado. A turma era pequena mas bastante variada e, neste sábado de alerta da gripe suína, estava menor ainda. E não é que foi melhor? Pude interagir com cada um ali. O que senti de diferente é que, na pós, a maior parte das pessoas realmente está lá por opção – uma constatação que nunca tive quando aluna. E, cá entre nós, quando a gente faz alguma coisa porque quer, escolha mesmo, tudo fica melhor.

A sala era moderníssima, com carteiras adaptadas para lap-top e todas as mídias instaladas – eu usei lousa, como sempre. Abrimos a janela para ventilar porque o ar condicionado não é politicamente correto hoje em dia. Como o calor voltou também em Londrina, deixei a porta aberta. Não é que, antes do intervalo da tarde, algumas mulheres começaram a instalar mesas enfileiradas, com toalhas brancas e várias bebidas e quitutes diferenciados? Perguntei aos meus alunos (professor tem uma mania de usar o pronome possessivo...) e eles me confirmaram que o banquete era para nós.

Os dois períodos da aula fluíram bem, e passaram mais rapidamente do que eu imaginava. Finalizei quando já não tinha ninguém na faculdade, e a mesa ainda quase cheia continuava lá. Na saída, alguns alunos ainda beliscaram, eu dei um gole numa coca, e fomos. Achei conveniente falar para o porteiro ir lanchar. E, para dar uma pincelada de tristeza no meu quadro londrinese cheio de coisas boas, ele me contou: “Eles falaram que era para a gente guardar o que sobrasse na geladeira”. Falei, como quem não pode apitar nada, com uns gestos e palavras soltas, que era para ele desencanar e mandar ver.

Fica sempre a questão de como a aula foi recebida. Insegurança de professor e necessidade de aceitação, com certeza. Porque, se você tem uma turma, sente o retorno dos alunos ali, no dia-a-dia, convive tanto que vai balizando e banalizando a auto-crítica. Em um encontro efêmero como este, de apenas um módulo da minha primeira pós, só mesmo passando um formulário de satisfação com sugestões, críticas, pontos fortes, fracos, notas para cada quesito: enredo, alegoria, evolução, harmonia e mestre sala!

Um comentário:

Fischer disse...

Só não gostei do gole na coca. Sei lá, muito radical. hahahaha. BJ