sábado, 15 de agosto de 2009

Meus cigarros

Meu médico adotou a linha do Serra: mandou eu parar de fumar. Pela primeira vez, o pesquisador do Hospital das Clínicas nem se deu ao trabalho de me explicar os motivos, e logo determinou uma sentença que eu sempre questiono e vou questionar por alguns motivos bem meus.

Primeiro de tudo: cigarro é prazer. Para os outros, é um vício imundo que polui o mundo e a saúde, mas, para quem gosta, é compartilhar, é companhia, ajuda na reflexão, alivia uma ou outra tensão. Faz mal para a saúde? Pois é, mas até o remédio que se toma para uma coisa acaba prejudicando outra. Aliás, viver faz mal à saúde.

Segundo: cigarro cria elos sociais. Bom, em redação de jornal, isso fica claro. Pessoas se aproximam por esta ligação. Geralmente, tem a categoria dos não-fumantes irritantes, dos que nem se incomodam, dos que sempre filam um trago e dos fumantes assumidos, sempre unidos.

No Bom Dia, a cumplicidade era no olhar: um se virava para o outro, mostrava o cigarro, o isqueiro, ou apontava para a porta, e, em dois minutinhos, a tchurma se agrupava no cantinho da calçada, sob chuva ou sol. Não precisava nem levar isqueiro.
Discutíamos tudo: pautas, vida, concorrência e até cigarro. Irmandade total. Eu e Sergião, editor de esportes do BD, costumávamos revisar as páginas fumando na lavanderia, dentro do jornal mesmo, depois das dez, onze da noite, quando já não tinha quase ninguém. Eu aproveitava as aulas de português dele, um verdadeiro mestre, e dividíamos o café e as preocupações.

Mas foi na redação do Jornal da Cidade que comecei a fumar, ainda que de forma tímida. Geralmente, era com a Lú, pauteira, quem eu via praticamente como uma editora, e que muito ensinou à “foca” aqui. Comecei pedindo um trago em alguma pauta nervosa, e terminei pegando um cigarro inteiro.
Também tenho outras histórias de aproximação motivadas pelo cigarro. 1998, eu em Nova York, comecei a comprar meus primeiros maços. Era uma segunda-feira, minha irmã havia ido me visitar, e eu a levei conhecer um bar de jazz no Village. Um holandês muito bonito e com sotaque gostoso chegou perto de mim e, no lugar de pedir “fogo”, queria apenas compartilhar o cinzeiro (“Can I share your ashtray?”). Alwin e eu namoramos o tempo que ficamos lá, e sempre lembramos do approach com muito carinho e humor. Aliás, nos tempos do Serra, soube que a cantada “você tem fogo?” está sendo trocada por “vamos fumar um cigarrinho lá fora?”.

A lei antifumo me limita, eu admito, mas isso já estou fazendo naturalmente. Introduzi o Free One na minha vida (eita cigarro besta), e tento não fumar mais tanto perto de quem não vai compartilhar o fogo comigo. Um amigo meu fez o contrário: passou do Marlboro Light para o Vermelhão, só de raiva.
Fiquei pensando nas situações de bar que viverei com alguns dos meus amigos - Fabrício (fumante), Paola (não-fumante) e Laura (não-fumante, mas simpatizante):
- eu, Pá e Fá. Se Fá e eu vamos fumar, Paola ficará sozinha na mesa. Se escolhermos uma das poucas opções de bar onde ainda se pode esfumaçar, Pazinha, coitada, será a única a não-fumar em um ambiente totalmente separado dos outros.

- se for eu, Fá e Laura, minha amiga austríaca vai se sentir compilada a virar fumante por uma noite, ou, muito provavelmente, repetirá a situação anteriormente descrita: sozinha ou esfumaçada

- se sair só com a Pá e com a Laura, sou eu quem vai fumar alone lá fora. Ouvi dizer que está rolando uma confraternização absurda entre fumantes no estado de São Paulo, que se reúnem, criticam a lei, viram amigos e até paqueram justamente na hora do cigarrinho.

- se for só eu e o Fá, aí que piora tudo. Será que perderemos a mesa quando formos dividir a brisa bauruense na calçada? Os bares fornecerão pulseirinhas para as pessoas poderem retornar ao ambiente público e límpido?

Se o cigarro faz parte da minha vida, só eu mesma que vou conseguir determinar quando parar. Nem doutor Paulo muito menos, mas muito menos mesmo, o tucano José.

3 comentários:

Thelma Yeda disse...

Essa nova lei é um saco.

Unknown disse...

vamos lá fora fumar um cigarrinho?

Guilherme Santana disse...

uahuehuh...
ainda bem que no CECA ngm enxe o saco
se nem a propaganda que deixou de existir baixou a venda de cigarros
quissá leis...
a propaganda tá no fumante mesmo, e o ato de fumar fica cada vez mais proibido, mais gostoso, prazeroso...
"o cigarro uuune as pessoas"
ahuehuahue