segunda-feira, 20 de julho de 2009

Minha caricatura?


Não é apenas senso comum, não, esta ideia de que o cachorro fica parecido com o dono. Qualidades e defeitos ficam maximizados nos animais que vivem para e com a gente.

Com Shú, mais ainda, já que ela veio morar comigo há mais de dois anos, quando o doutorado estava entrando na reta final e eu passava quase todas as madrugadas em branco, trabalhando. Ela acostumou comigo, perto de mim, no frio e no calor, na copa, sala ou quarto, e assim continua até hoje, viajando toda semana ao meu lado para Londrina. Uma grande companheira de estrada e o xodó da galera do pedágio, que se amontoa no meu carro para vê-la.

Ansiosa à beça, é Shú quem me leva para passear. Aliás, é só eu pegar o tênis para caminharmos e ela começa a chorar de alegria. Vai correndo para a lavanderia me mostrar onde está a coleira, e me puxa pelas ruas, curiosa feito eu, querendo ver tudo e todos. Se ela tivesse uma profissão, acho que também seria jornaleira.

Shú não pega nada que não seja dela, nem é muito espaçosa. Também é estranhamente higiênica para uma cachorra.

Não dá para dizer se Shú é bonita. Eu a acho linda, sei que chama a atenção, mas tem gente que não compreende a beleza exótica da minha cã, e só a considera “diferente”.

Outro aviso: não adianta chegar perto dela e ir tentando pegá-la, carregá-la, agradá-la forçosamente. Ainda mais quem ela não conhece. Demora um pouco para ela amar de verdade alguém, mas quando acontece, ela se entrega 100%. Faz aquela festa, mostra que a pessoa é muito especial, fica olhando apaixonadamente, segura o sono para continuar ali, pertinho...

Diferentemente dos outros cachorros, minha cã me respeita muito. Ela não faz nada para me desagradar deliberadamente, como alguns poodles ciumentos que eu conheci na vida. E, se me vê brava com ela, prontamente abaixa as orelhas, abana seu rabinho virado para o lado do corpo, e tenta me dar uma lambidinha para pedir perdão. Será que sou tão passiva quanto ela?

Vejo minha chinesinha como um ser bem rígido com ela mesma. E eu tenho esta mesma tendência.

Shú é absolutamente apaixonada por duas pessoas: minha mãe (também, quem não é?) e o Fabrício (nada difícil também, cãzinha...). Quando os pressente, ela se emociona. Chega a sair lágrimas dos olhos pequenos e enrugadíssimos da minha shar-pei.

Mas ela literalmente não dá muita bola para o meu pai ou para qualquer um que não seja fã de animais. Shú não fica insistindo muito em quem não gosta dela, não. Valoriza o amor bem dado, gratuito, esfuziante, sem muitos poréns... Nisso, também estou com ela. O verbo certo para o amor é acontecer.

Shú respeita minha irmãzinha Milena. Não pula, não exagera, não desespera. Faz de tudo para se controlar e não assustar a minha Mi. Também respeita a casa dos meus pais e os lugares públicos.

E, o melhor de tudo, Shú é pacífica. Ela nunca mordeu ninguém; nem eu. Quer dizer, quase ninguém. Não ela, eu.

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