quinta-feira, 9 de julho de 2009

Abraçar ou não, eis a questão


O abraço é das melhores expressões da alma. É quando se sente o coração do outro, quando se tateia as costas, o ombro, braço, corpo. Com uma mínima inclinação, encaixam-se ao longo do comprimento da pele, tocando o rosto, sentindo o cheiro.
Tem gente que abraça frouxo, um abraço sem sentimento. Inclinam o corpo para frente, mantendo para trás pernas e pélvis, e dão tapinhas nas costas no maior sinal de frieza. É um típico abraço sem alma.
As pessoas que trazem alegria e amor na nossa vida abraçam holisticamente: encosta-se o corpo todo no outro, fala-se palavras bonitas e beija-se o rosto, pescoço, orelha, ombro...
Abraço também depende da altura das duas pessoas. Alguém muito alto deve sentir falta dos abraços de corpo inteiro, já que precisam abaixar para alcançarem a estatura mediana. Neste sentido, abraçar alguém deitado pode ser a saída. Já os mais baixos, por vezes, precisam abraçar na pontinha dos pés.
No abraço, você sente a vibração da alma – muito mais do que no beijo na boca, que depende de outros fatores. São os corpos colados que podem revelar amores, amizade verdadeira, mentiras, ressentimento, euforia, paixões... Aliás, quando se reencontra alguém de quem se gosta, a primeira coisa a se fazer é abraçar forte até porque, quando se abraça, pode-se falar alguma coisa para a pessoa, beijar, cheirar ao mesmo tempo.
Quando morei fora do Brasil, senti uma diferença enorme. Abraços eram raridade. Até beijos no rosto eram limitadíssimos. Apertava-se a mão muito, o que me fez estranhar a manifestação de carinho esfuziante quando voltei de Londres. E eu sendo brasileira (o povo caloroso) e libanesa (os homens da minha família se abraçam e se beijam naturalmente e constantemente).
E sou bastante abraçenta: adoro abraçar as pessoas, o travesseiro, a minha cachorra. Também abraço livros. E já abracei umas várias árvores desde que meu professor de filosofia da Unesp mandou minha turma fazer isso logo no primeiro dia de aula.
Quando me magoo, entretanto, desaprendo a abraçar. Não consigo. Seguro a pessoa pelo ombro e afasto meu corpo o máximo que posso. É meu não-abraço, e precisa me bater muito para levar um desses.
Tenho uma história de abraços importantes que dei ao longo da vida, dos quais me alimento de tempos em tempos. Tenho saudade de muitos deles, e busco na minha mente aquela alegria física que nos traz o ser abraçado. Que bom que eu abraço de verdade, porque isso me garante imagens e sensações fortes na minha memória. Vivas e quentes.
Abraços significam carinho, intimidade, aceitação, identidade, amor, coloquialidade, proximidade... Tem abraço que vira dança, abraço que vira declaração de amor, abraço que traz lágrima, que causa taquicardia, abraço de urso, abraços históricos, abraço por trás, abraço de reconciliação, e aquele abraço que dá tesão e emenda no sexo...
Parece que os bons abraços sempre suprem a tristeza da falta deles.

5 comentários:

F_ARO disse...

TENHO SORTE NA VIDA.
EU SEMPRE ABRAÇO A MÁRCIA.

Unknown disse...

EU TAMBEM!!!!!!!
Ai amiga...lembrei tanto do abraço de tapinha do falecido... rsrs
Amei o texto!!!
Amo vc!!!!

Anônimo disse...

Oi!!!! Adorei o texto!!! Ainda bem que sabemos abraçar de verdade!!!
Bjs, Biba.

Diego disse...

Me dá um abraço?

J Silveira disse...

Bonito isso! Lembro-me agora de abraços significativos: a) o abraço que vi entre atores na última peça que vi, ficaram horas, olhando atentamente um para o outro; b) o caminhar abraçado no fim de tempos modernos; c) o "abracinho" maroto e recente entre Lula e Collor; d) o abraço entre Bebeto e Romário no jogo contra os EUA na copa de 1994; o abraço de reencontro com minha mãe (magra e preocupada) depois de uma fase dureza que passei em sampa; o abraço do Vovó Mafalda (todo mundo tinha medo), o abraço das tartarugas ninja (com batidas nos cascos) e o abraço caliente entre eu a a Sharon ... Stone ... que ainda há de acontecer!