terça-feira, 16 de dezembro de 2008

poder e violência

Ontem, cheguei da alegria do amigo-secreto na casa da Paola (que foi pura diversão) e entrei na escuridão do documentário "Vlado - 30 Anos Depois".

Chorei.
Sempre choro quando esse assunto vem de uma forma tão forte...

Eu pesquiso a censura já faz um tempo, mas sempre me choca quando o assunto é a tortura.
Deve ser por isso que escolhi o Pasquim, que pouco sofreu diretamente a violência dos militares.

Não me lembro bem quando a Vanessa me deu o livro do "Vlado", organizado pelo Paulo Markun, mas foi há muito tempo. Acredito que estava na faculdade, em meados dos anos 90.
Os depoimentos me chocaram na época, e foram me acompanhando. Minha mãe até enviou o livro para Londres, porque Vlado fez parte da dissertação que eu escrevia para o mestrado.

O "Vlado" continuou sempre por perto. É um daqueles livros que eu não empresto para ninguém. Mas ver, agora, o livro em imagem de documentário, choca de um jeito diferente.

O que mais me impressionou foi a forma com que os militares envolveram aquela turma da TV Cultura e da revista Visão.
Na primeira "leva", prenderam o Markun e a sua esposa, que tinham uma filha de apenas cinco meses!
Markun não agüentou ouvir sua esposa sofrendo torturas (socos, tapas e choque elétrico)... Imagine uma mulher, provavelmente amamentando, longe da sua cria, sendo torturada?
Crueldade.
Foi aí que o jornalista confirmou o nome de Vlado e de outros jornalistas para os milicos maldosos.
E Vladimir Herzog foi preso e morto em poucas horas... Não aceitou assinar nada, confirmar nada... "Choraram Marias e Clarisses..."

Na dissertação de mestrado, eu analisei como a morte dele, censurada nos meios de comunicação, foi para as ruas, rompeu com o silêncio social e moveu o regime para outro caminho.

Mas agora vejo que Vlado não representou apenas a mudança do que ele tanto almejava: a redemocratização.
O final trágico do jornalista judeu foi resultado não só da violência, mas do poder dos militares de envolver todos em uma rede de interdepência fundamentado na dor da tortura e na compaixão do amor.
Muitos seguraram a própria dor, mas não suportaram ouvir os gritos de quem amavam.

Quem agüentaria?

Um comentário:

Karen disse...

Sabe que eu sou bem covarde pra ler e assistir qualquer coisa relacionada à ditadura?

Outro dia estava com uma amiga jornalista que também é leitora do seu blog, e comentamos sobre sua coragem...