terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A saga do bolo perdido

Não sou muito boa em organizar eventos. É uma limitação recorrente da minha vida. Se alguém me der uma tarefa com prazo, eu cumpro, mas montar uma festa nunca foi meu forte. E o mais engraçado é que, depois de uma certa idade, a mulher começa a ter essa conseqüência da vida adulta: organizar o chá-de-bebê da irmã, o chá-bar dos amigos, o chá-de-cozinha da prima, a festa do chefe, da amiga, do marido, dos filhos...
Eu me acomodei na situação de não-organizadora-de-nada porque a Paola sempre assumiu, com distinção, as festas desses últimos 20 anos. Ela pensa em tudo e ainda lembra de tirar as fotos que vai nos felicitar depois. Mas sexta-feira foi o dia dela, do aniversário dela, que há tempos na comemorávamos properly.
Pazinha programou uma parte: reservou o melhor espaço em uma casa noturna que ia receber uma boa banda, chamou todos os queridos e levou docinhos artesanais para nos deliciar. Mas Laura, Karina e eu resolvemos assumir o papel da aniversariante e comprovar a tese dela: não há aniversário sem bexiga e bolo. A semana toda foi de troca de telefonemas entre las tres amigas... Mas a saga começou mesmo na sexta.
16h30 fui comprar as bexigas. Optei pelas brancas com bolinhas pretas. Achei tão elegante quanto a aniversariante de 35 anos. Na seqüência, desci para buscar o bolo e já deixá-lo na geladeira da casa noturna, conversando ao celular com a Karina, que tinha um lugar para encher os balões para a gente. Eu não levo nenhum jeito para a coisa...
Fui ao bifê da tia da Ká e saí de lá com o carro lotado de bexigas rumo ao local da festa. Eram apenas cinco quadras, mas aquele pequeno trajeto foi uma doideira. Primeiro porque não dá para ver muita coisa com um monte de bolas brancas comprimidas nos vidros. Depois, um balão estourou e eu quase bati o carro de susto! Aí, vi um carro igualzinho ao da Paola e queria morrer... Sentimento de quem está fazendo uma coisa escondido...
Ufa! Cheguei ao local e protagonizei uma cena de filme francês: desci do carro com um cordão cheio de bexigas amarradas voando nos céus de Bauru. Atravessei a rua saltitante!
Tive sorte: a banda estava “passando o som”... Fiquei lá, dançando U2, a Ká chegou e me ajudou a prender as bexigas. Mas, entre uma regulagem e outra do amplificador, algumas estouraram. Voltei para casa com medo de que, mais tarde, não tivesse nenhuma sobrevivente. Pior: ter apenas duas, como se fosse final de festa!
Felizmente, deu tudo mais do que certo. A Pá, quando chegou, não acreditou que era para ela. Ficou super feliz e nem ligou que os balões petit-pois se tornaram, quando cheios, bexigas com estampa de “dálmata”. Foi o comentário da noite, já que nossa amiga não é fã de cachorros.
Aí começou a saga do bolo. Como sei da minha limitação e falta de experiência no assunto, avisei Dani Guedes, Giuliano e Giovana para me lembrarem de pedir o bolo na hora certa que, obviamente, eu não saberia qual era.
Mas o momento chegou quando Biba e Pará, queridíssimos, precisaram ir embora. Pronto: baixou a party planner em mim e saí para buscar o bolo. Não havia garçom à vista e a casa estava lotada... Entre muitas lutas corporais, alguns pisões no pé, avistei o bar. Assim que consegui milagrosamente chegar ao balcão, percebi que estava no meio de uma briga entre dois boyzinhos! Nossa, se tem uma coisa que eu odeio é briga. Sorte que logo um moço me puxou e tirou da muvuca. Um desconhecido anjinho no meio de um lugar hostil.
Decidi voltar para perto do camarote. Eles que teriam de levar o pacote até a nossa mesa anyway. No caminho, pedi para um segurança levar o bolo da Paola, para a chapeleira levar o bolo da Paola, para o meu primo achar o bolo da Paola e, finalmente, encontrei a moça que nos atendia e supliquei pelo bolo da Paola. “E não se esqueça das velinhas”, recomendei.
Cheguei ao nosso cantinho sã, salva e com o mesmo copo de uísque nas mãos. Havia virado água gelada com essência de scotch. Quando eu vejo, a garçonete vinha com uma caixa. Lembrei vagamente que eu trouxe um pacote embrulhado. Quando ela abriu, tinha um chocolate branco que não era nem de longe a cobertura de brigadeiro que eu havia levado. A tchurma toda tentando desesperadamente esconder da Paola o que ocorria ao lado dela.
Um dos garçons inclusive perguntou para a aniversariante se era ali que estavam esperando um bolo! Puxei ele e quase gritei: “O bolo é surpresa!”.
Esperamos, dançamos, esperamos, mais uma dose, e nada...
Não agüentei e saí, novamente, à procura do bolo. Parecia uma selva que eu tinha de atravessar, com gente se amarrotando, se cumprimentando, querendo conversar... Sim, porque as pessoas estão curtindo a noite, não em uma missão!
Pisei firme no meu propósito e fui procurar outro garçom para saber o motivo da demora. Temi que eles tivessem dado o bolo a outro aniversariante... Achei que minha carreira de organizadora acabaria ali. Quando dei de cara com o dono do bar, pedi, em tom de desespero, para que ele resolvesse o problema. Incrível: em 10 minutos o garçom apareceu com o bolo do jeitinho que eu lembrava! Aflita, perguntei das velinhas. “Estão no bolso, fica fria”, tentou me acalmar o moço. Pazinha nem percebeu, curtindo sua mocidade como ela merece. Quando ela se virou, os 35 anos dela estavam ali, acesos, mais reluzes que a iluminação do lugar.
Agradar quem se ama é isso: o prazer do brilho no olhar da pessoa, o abraço sincero, o obrigado do fuuuuundo do coração, o “não acreditooooo!!!”... Melhor ainda é contar todas as peripécias que ela nem imaginou que estavam acontecendo. E a Pá curte.

Mas, dá próxima vez, sinceramente, levo o bolo em um isopor e deixo embaixo da mesa!

2 comentários:

Anônimo disse...

Querida!!!!Adorei!!!! Bom como todo mundo sabe, o meu coração de pedra, me emocionei no final!!! Qdo li eu não acreditooooo, parece que estava vendo e escutando a Paola falar!!!! Bjs, Biba.

Anônimo disse...

Amiga linda,
Ler esse texto me emocionou muito!!! Vc nem imagina o quanto!!!...
Obrigada... por vc existir, por ser essa pessoa tão sensível, por ser essa jornalista e escritora sensacional, por conseguir colocar em palavras o que muitos não conseguem nem sentir, and at last, but not least, obrigada por ser minha melhor amiga há 20 anos!!!!
Te amo!!!!
beijos

A aniversariante mais sortuda e mais feliz!!!!!!