quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dedico minha tese...

Abro, procuro, acho, leio, releio e analiso teses dos outros na tentativa de terminar a minha.
Ajuda um pouco...
Tenho um exemplo incrível, que é da Mariza Bianconcini, dona de uma tese sobre o Antigo Testamento que é revolucionária no seu formato. Com pouquíssimas notas de rodapé, o texto da letrista corre, flui e inebria o leitor, que fica chocado com o domínio que ela tem do que fala.
As outras teses são mais comuns. Anunciam, logo no primeiro parágrafo, a que vieram – como se fosse uma matéria de jornal. Seguem com sua linguagem formal, suas construções rebuscadas e com a distância que criam com o possível leitor.
Eu, como não consigo negar em nenhum momento meu texto coloquial, evidencio meu “eu jornalista” sem medo. Fica menos difícil. Ou, pelo menos, mais justificável no meio dos historiadores.

Uma parte da tese é complicada: a dedicatória, que sempre envolve uma ou até duas páginas da tese...
Quem tem tanto amigo?
E quanta ajuda!...

Agradece-se até o primo da secretária da biblioteca de alguma universidade que nunca terá acesso ao texto. Agradece-se ao marido, esposa, noiva(o), namorada(o) pela “compreensão”... Fico imaginando as brigas homéricas dos relacionamentos que envolvem uma vida acadêmica paralela: “Ou ela (a tese) ou eu!”.

Mas quem consegue, de bem pertinho, compreender e/ou respeitar uma situação tão neurótica quanto a feitura de uma tese de doutorado?

Em Londres, no meu mestrado, só pude agradecer a quem colaborou academicamente com a pesquisa. Regra das universidades de lá. Família, amigos e cônjuges eram totalmente vetados. Achei interessante e, com certeza, mais fácil.

Até acredito que algumas pessoas merecem uma dedicatória. Bons orientadores, instituições que bancaram a pesquisa e até amigos e pessoas que acabaram se envolvendo de verdade no processo.

Se pudesse ter feito a dedicatória da minha dissertação de mestrado, por exemplo, dedicaria ao Má, meu marido na época e companheiro das neuroses todas da produção acadêmica. Melhor: neurosis! Tudo em inglês! E ele lá, firme e forte questionando minha visão sobre o Gramsci.

Mas agora, no final desses 4 anos de doutorado, questiono quem agradecer.
É tanto tempo... Tantas situações aconteceram e mudaram...
Me mudaram.

Devo agradecer à CAPES, pela bolsa no finalzinho desse longo processo?
À família, que tenta entender, tenta respeitar algo tão distante deles?
Aos médicos, que demoraram looongos meses para descobrirem porque eu tinha febre todo santo dia?
Ao fato de precisar trabalhar e não poder me decicar só à tese?

Aos amores, que mais atrapalharam do que ajudaram?

Uma colega escreveu, na abertura da dissertação do mestrado, que dedicava o trabalho para aqueles que duvidaram dela, porque eles foram um alimento para ela.

Muito ácido.
Não sei se sou tão amarga assim.

Talvez eu agradeça aos doidos que começaram o PASQUIM, por terem comprovado os motivos pelos quais escolhi jornalismo aos 17 anos de juventude.

E continuo escolhendo...

Um comentário:

Iara Krica disse...

Márcia querida, será que eu chego lá?

Te "amodoro"...