quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Eu, historiadora

Fui para Assis ontem e mal posso explicar a emoção que tive...

Primeiro: AMO estrada. AMO dirigir na estrada. Acalma tanto...
É herança da minha mãe, que, ainda mocinha, ia para São Paulo com minha tia Sônia. Meu avô sempre foi “prá frentex” quando o assunto era carro. E minha mãe age do mesmo jeito com as filhas: começou a me ensinar a dirigir quando eu fiz 15 anos, e, mesmo falando 29.358 vezes para eu ter sempre cuidado, nunca limitou a minha liberdade de viajar de carro.
É meu luxo.
Detesto viajar de ônibus.

O caminho para Assis já faz parte da minha rota desde que minha irmã se mudou para Londrina. Foi só em 2002, com a Lú Linda, que curti a estrada semanalmente: dei aulas na Fema um ano, em idas e vindas de muito aprendizado com a fotógrafa de olhar instigante e amizade orgânica.

Foi neste ano que conheci o campus da UNESP, construído pelo Niemeyer, onde Antônio Cândido ministrou aulas que se transformaram em livros...
Paixão à primeira ida.
Era lá que eu faria doutorado.

E fiz.
Ainda não acredito, mas fiz.
Entreguei a minha última matrícula como doutoranda ontem. E recebi um elogio da minha orientadora que me fez delirar... Um elogio da Zélia é quase um atestado oficial de competência.

Quatro anos!
Quatro anos!!
Quatro anos!!!
Quatro anos passaram, foram, voaram, entre o longo processo seletivo, as disciplinas que exigiam leituras absurdamente pesadas toda semana, a liberação da bolsa da CAPES, minha qualificação e, agora, a finalização...

O doutorado é engraçado... No começo, você pira. Se teimar em ler o livro do Umberto Eco, “Como se faz uma Tese”, quase desiste. Todas as exigências, toda a inovação, toda a pesquisa... Tudo com mil discussões e teorias que guiam e cercam o objeto de pesquisa como se ele pudesse nos escapar...
E eu sei que ele escapa.
Fiquei com medo.

Hoje entendo o que significa tornar-se doutor. É quando você começa a escrever automaticamente com fundamentação. É quando as opções, metodologias e teorias brotam, a partir do objeto de pesquisa, na sua cabeça - e fazem sentido. Vão nascendo, como se fossem caminhos naturais, como se você tivesse de fato incorporado aqueles valores.

A minha orientadora, que já é uma livre-docente, exige de todos a mesma dedicação que ela tem na pesquisa.
Eu admiro.
E temo.

Olhar para a Zélia já é, por si só, uma cobrança! Nas aulas, ela é uma professora das melhores: grandes aulas e altas discussões. Zélia não tem problema em falar, para um aluno que esteja fazendo comentários impertinentes, que aquilo não é pertinente!

Não me lembro bem os motivos de ter escolhido a Zélia. Sabia que ela era das mais exigentes de lá... Pensei até no Sergio, um anarquista que é quase lenda na UNESP, e que depois faria parte da minha banca da qualificação. Mas algo me puxou para a Zélia – e olha que o foco da pesquisa dela nem é a censura.

Zélia me aceitou como orientanda, “apesar” de eu ser jornalista!
Ela quase desistiu de mim quando fui trabalhar no Bom Dia. Dizia: “o jornal vai te engolir”. E eu, sempre ingênua, acreditava que era possível casar doutorado e jornalismo diário, pautas e Bourdieus, Zélia e Márcio ABC...

Impossível, e Zélia deu seu ultimato: “ou eu ou o jornal”!
Nem precisei pensar direito, apesar de saber o sofrimento que enfrentaria em deixar um jornal que era “meu”.

Zélia também não desistiu de mim quando fiquei doente. Por mais que já havia perdido muito tempo da pesquisa, a orientadora virou mãezona.

Mas foi quando a CAPES liberou minha bolsa, e com isso me deu um prazo de dois meses para a qualificação, que eu vi o que a Zélia falava.
Precisa casar-se com o objeto de pesquisa para que, dele, nasçam frutos vitaminados.

Acho que foi aí que comecei a virar historiadora.

Fechando o ciclo, percebo que aprendi mais do que sei. Aprendi mais do que imaginava, porque o que se ganha neste processo não é só um título ou uma tese bem argumentada.
Ganha-se segurança e um olhar de historiadora.

E me tornei uma pessoa ainda mais feliz.

2 comentários:

Karen disse...

Linda!

Ter avô e tias pra frentex é tudo nessa vida, não é mesmo?

Estou morrendo de saudades!

Será que entre essas viagens não sobra um tempinho em São Paulo, não?

Mesmo se for pelo doutorado, juro que brinco junto!

Beijos mil da prima/ fã/ leitora/ assídua ;)

Unknown disse...

Viu...falei que você conseguiria....