domingo, 11 de outubro de 2009

Ideias de elevador



Dos seis apartamentos onde morei, apenas dois tinham elevadores, e eles não faziam muito parte da minha vida. Foi pouco tempo de convivência com o sobe e desce até eu me mudar para Londrina. E para o oitavo andar.

Acontece que o elevador daqui é peculiar. Primeiro: tem câmera, fato que, inicialmente e burramente, eu não sabia. Aprendi a duras cenas. Segundo porque rola um tempo ocioso naquela cápsula, o que faz você conhecer alguns vizinhos.

Eu raramente consigo ficar em silêncio. Acho estranho aquele climão de duas pessoas apertadas em um minúsculo espaço sem ter o que fazer. Aqueles dez segundos viram uma eternidade e, se a pessoa se mantiver calada, eu espontaneamente vou soltar uma função fática. O espelho, aliás, deve servir para ampliar o quadrado e para proporcionar uma atividade para os silenciosos moradores - quase todos se olham no espelho.

Na Inglaterra, o problema não é tão evidente, visto que os elevadores lá praticamente falam. Ficam avisando o tempo todo as suas ações: doors opening; first floor; doors closing; second floor... Sempre achei a característica simpática e, claro, democrática com o colega deficiente visual.

No Chamonix de Londrina, são vários apartamentos, muitos moradores e uma população flutuante igualmente significativa. Alguns são freqüentadores natos do meio de transporte vertical, com horários parecidos com os meus; outros, acho que nunca mais verei porque estavam apenas de passagem. E tem gente com cachorro, como eu, e já rola uma empatia mútua instantânea. Curiosidade dessa amizade: conheço os donos, conversamos, mas só sei mesmo o nome de Rebeca, uma fox minúscula e gente boa, e Nina, uma lhasa cabeludinha e dentuçinha. E eles só cumprimentam nominalmente a Shú, claro, que prefere os humanos do que os caninos. Minha cachorra me deixa até sem graça, de tanto que despreza as tentativas de amizade dos outros peludos.

Os elevadores são cheirosos pela manhã, em uma mistura de vários perfumes, sabonetes e cremes de barbear. Pode-se até sentir um aroma morno de pão, vez ou outra, visto que tem uma padoca na esquina de casa. Mas já tive o desprazer de ver uma bituca de cigarro ali, no chão, assustadoramente no mesmo espaço que eu. Também fiquei presa, em um final de tarde, com um pernilongo, o que não foi nada agradável nem bonito de se assistir pela câmera.

O que poderia rolar é um som ambiente. Sei lá, deixar ligado na UEL FM. Dá até um bom slogan: “a rádio que te transporta... verticalmente”. Ou, melhor ainda: lançar um JE, Jornal do Elevador, mural, com notícias elaboradas para quem mora na cobertura, e notinhas rápidas para os habitantes dos primeiros andares. Ninguém nunca pensou nisso, não?

4 comentários:

F_ARO disse...

TEXTO NOTA 10.
ENTROU PARA O TOP FIVE DO BLOG.

Guilherme Santana disse...

auheuhauheu
muito bom!
Sabe que ano passado,
eu tive a idéia de fazer
um jornal pra por na bandeja do RU
a sala curtiu
e nós fizemos o "Bandeja"
com direito a tudo, até gente a pagar pau pro jornal até
aqueles que desprezaram e jogaram fora!
mas foi uma experiência e tanta pra nós!
De elevador não seria má idéia!

Anônimo disse...

Vamos lançar um jornalzinho para cada condomínio de Londrina, Márcia. Ficaremos ricos!

Fischer

Thelma Yeda disse...

Não pode colocar nenhuma distração no elevador, não!!! É um lugar para você fingir que está entediado enquanto presta atenção na conversa dos outros ahauhauahua