segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A gripe X


Ruim demais é passar mal de saúde, quando o corpo reclama em diversos pontos, sem aviso prévio nem prescrição médica. A sorte é que foi em Bauru. É aqui que sei de cor e salteado o telefone da farmácia, tenho meu plano de saúde, chego em qualquer hospital sem mapa, conheço minimamente os médicos... Fora os meus pais, a poucas quadras de mim, e meus três grandes amigos, que valem por uma metrópole.

Era para ser aquele final de semana em Bauru, com irmã e sobrinha e, pela primeira vez, eu e Shú viemos de carona. Chegando, fui ao Templo comemorar aniversário da cada-ano-mais-bela Laura - com Paola, Fabrício, vinhos, aperitivos, brindes, talha T, risoto de funghi e rocambrócolis (é uma peça de filé enrolada com brócolis, alcaparras, molho branco, tostado no forno, coisa de louco...). Até eu comi umas lasquinhas de carne, deixando os amigos perplexos. Voltei no tempo, no Templo de quando eu era bem nova, quando comia carne, quando descobri aquele restaurantezinho de personalidade, manias e um charme sem precedente na cidade.

O sábado de família terminou em uma noite de chuva e febre, que já veio alta, 38,8 caindo para 38,2 graus depois do antitermal, parando no 37 e pouco e oscilando o dia todo. Transpirei horrores, náuseas e acabei indo ao hospital mais perto daqui. Conhecia o cardiologista pai do plantonista que lá estava, mas que mal olhou para minha cara. O infeliz parece que queria almoçar, e, ao olhar minha ficha, falou: “é fumante, né?”, como se isso explicasse tudo. Ouviu, literalmente, duas vezes meu pulmão, mandou eu tomar uma injeção doloriiiida e procurar um infectologista. “Pode ser pneumonia também”. Revoltante. E, em todas as paredes do hospital, os cartazes da gripe H1N1 do Serra explicando e assustando os impacientes.

Passei um domingo detestável. Frio, calor, náusea e uma dor no corpo que parecia que eu havia feito várias aulas seguidas de body-pump. Dor de cabeça, enxaqueca, e a Mirelle e Laila tiveram de ir. Fiquei aqui, com a cachorra, sem carona para Londrina. A coitada terá de ficar sozinha quando eu for de busão. Liguei para o colega da UEL responsável por estes assuntos. Na sexta, eu havia ficado no estúdio de rádio com vários alunos, ar condicionado ligado e porta fechada a manhã toda. Preocupei com a turma.

Segunda cedo, fui a médico que parecia ser de verdade. Já me botaram uma máscara, fizeram o exame e, em menos de uma hora, saiu o resultado. Negativo para a gripe A. Ufa! Eu já vinha engasgada com essa gripe há tempos. Mudou minha vida, o calendário, da UEL, bagunçou o semestre, cancelou férias, assustou colegas e pessoas de Bauru, inclusive uma amiga querida grávida... Recentemente, fiquei mais enfurecida ainda porque minha mãe, com suspeita, precisou tomar Tamiflu. E eu em Londrina, também preocupada.

Vivi o fantasma da gripe A desde que ela apareceu. E ele consegue ser um serzinho que desperta um sentimento tão solitário quanto coletivo. É fantasma mesmo: fica atazanando a cabeça da gente. No delírio termal do meu corpo, oscilei entre me preocupar com os efeitos (comigo e com os outros) ou fazer vistas grossas para as consequências e voltar para minha casinha paranaense. Mas quem é jornalista, e pesquisadora, sempre pensa nas relações que se envolvem em torno de um fato.
Pessoalmente, virei pauta própria. Faço parte da turma que teve gripe X.

2 comentários:

Guilherme Santana disse...

Fiquei sabendo ontem,
fiquei precupado, liguei pro seu celular, dava caixa postal, mandei mensagem! Que bom que lendo aqui soube que não era a tal da gripe A. É o que eu digo pra todo mundo, quem fuma não tem gripe A, o vírus morre asfixiado ou intoxicado! ahuehuhauheuhau
beijos, aguardo notícias!

Fischer disse...

Chamaria de Gripe T - Gripe da Turca.