segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pelo jornalismo quente


Sei que sou só elogios a Londrina, essa cidade que conheço há uns 20 anos e que me conquistou só agora. Passei e me matriculei na UEL, mas fiquei na Unesp. Depois, relutava sempre quando minha irmã rasgava elogios. Mas foi só ficar poucos dias para engressar na turma “Prozac” que adora o norte do Paraná.

Tanto amor não esconde seus defeitos. Preciso admitir que um problema me incomoda muito por lá: os jornais. Sempre achei que eram fortes, históricos, importantes. E eram. Mas estão passando por uma fase muito ruim, ficando quase parecidos com revistas em uma época que até o Jornal Nacional amplia as matérias ao vivo, quentes, para dar fervura à mensagem jornalística e ao casal, é claro.

Os dois principais diários londrinenses são os que mais me intrigam. O JL, por exemplo, é ótimo por ser formato berliner, gratuito e estar em qualquer lugar. Todos tem acesso ao jornal que faz parte do grupo RPC. A Folha de Londrina é mais antiga, mais tradicional, tem toda uma história de respeito no meio jornalístico. Mas as capas são frias, as pautas são geladas, as fotos não tem expressão e algumas matérias vem completamente incompletas, com uma única fonte... Aliás, tem mais Classificados do que textos.

Parecem dois gigantes, mas são de gelo. Semana passada mesmo, com aquela chuva absurda, o Jornal Hoje entrando ao vivo de Londrina, e os impressos daqui não fizeram a “ronda” dos prejuízos nos bairros, não mostraram em fotos da chuva e um deles nem mencionou que a UEL ficou sem energia elétrica. O texto era genérico, sobre a região Sul do país, São Paulo e as explicações para o mau tempo. Dia de chuva forte é difícil em qualquer redação. Desmarcam-se compromissos importantes para cobrir os torós tropicais.

A explicação para tal linha editorial vem do processo produtivo. Aparentemente, os jornais de Londrina fecham cedo mesmo. Plantão no sábado pode ir só até às 16h. Notícia de última hora é recurso apenas para o rádio, tevê e internet – meios bem sevidos na cidade.

Tento, tento, e não entendo como um impresso pode se dar ao luxo de ser concluído tão cedo, se considerarmos que é o meio de comunicação de massa mais velho (em todos os sentidos). Em Bauru, a concorrência acirra o esticamento do deadline, que é condicionado apenas pelas negociações com a gráfica e seus horários. Qualquer pauta agendada ou inusitada faz repórteres e editores pescoçarem no jornal (termo usado para esticar a noite na redação).

Um exemplo clássico da “cidade sem limites” é a morte da princesa Daiana, que fez o Jornal da Cidade parar tudo e ser o único impresso em Bauru (quicá do interior inteiro) a sair com a notícia, mesmo atrasando a entrega. Até a Folha de S.Paulo que vem para as cidades menores não publicou o assunto que dominou o dia inteiro no mundo todo.

Eu mesma já me segurei na redação por diversos fatos jornalísticos, ainda mais quando fazia a capa: Libertadores da América, vários outros campeonatos, sessão da Câmara Municipal, acidentes, assassinatos, prisões importantes, chuva torrencial e até show do U2. É natural no jornalismo. A notícia deve ser apresentada ao leitor de forma completa até o último momento possível.

Defendo, aliás, que todos os jornais exponham o horário de fechamento em cada edição. É mais honesto para quem faz e para quem consome os impressos. Mas quero ver qual tem coragem, porque não deve ser fácil convencer alguém a comprar, ao meio-dia, um jornal que fechou às 16h12 do dia anterior.

3 comentários:

Fischer disse...

Até as 16h de sábado? Que bom se fosse assim. Folha e JL, turquinha, fecham as edições de domingo na sexta, deixando o sábado para fechar a capa e olhe lá, no início da manhã. Às quatro, a Folha já está sendo vendidas nos principais cruzamentos da cidade, sob a alegação de que a venda avulsa é turbinada pelo classificadão de domingo. O processo industrial sem incômodos engoliu os impressos locais. Uma pena.

Guilherme Santana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Guilherme Santana disse...

Nossa, você leu a minha mente...
As capas dos jornais locais, ainda mais a Folha de Londrina são extramente frias, nem frias, mortas, são geralmente matérias ou produções de gaveta.
Quanto ao JL não me recordo, mas a Folha tem o horário de fechamento estampado no jornal. Fora o detalhe de fecharem o jornal de domingo na sexta-feira, para quem sabe fazer alguns ajustes.
Mas o que mais me irrita na Folha é ela querer ser um jornal paranaense, muitas vezes esquece do local, deixando muitos acontecimentos, mesmo que pequenos, fora das páginas.
Inumeras vezes, quando comprávamos jornal avulso, no sábado anoite já se vendia nas ruas. O jornalismo impresso local deixa muito a desejar!