sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Quando a realidade é ainda mais bonita




Trancoso não é na Bahia. Até peguei o avião para Porto Seguro e a passagem garante que fica em território baiano. Que nada. Desde quando eu e Paola encontramos Andrea, o italiano da pousada Capim Santo que nos levaria até Trancoso, percebi que estava em outro lugar. Minha intenção de me tornar mais brasileira penetrando nas imagens dos nossos cartões postais não deu certo. Porto Seguro é Bahia, Arraial – pelo que soube – é Bahia, mas Trancoso é outra história.
Tudo começa no Quadrado (foto) - mais precisamente, na Igreja de São João Batista, devidamente tombada como Patrimônio Histórico do Brasil. Na frente dela, um campo de grama balizado por várias casinhas, pousadas, restaurantes, bares, cafés e suas árvores enormes e maravilhosas. No Quadrado, não existe poste. Sua iluminação vem de cada imóvel, e cada um é pintado de uma cor e iluminado de uma forma. São lâmpadas e velas por todos os lugares, e as mesinhas semi-escuras dos bares dão um charme que ainda não havia visto.
Chegamos na pousada antes das 20h da quinta-feira, dia 21, e já percebemos o estilo de onde ficaríamos. É difícil descrever nosso quarto porque ele não era nem apenas rústico, nem totalmente moderno. Era perfeito. O banheiro era aberto no teto, com um jardim lindo que se iluminava quando estava escuro. Foi uma semana tomando banho tranquilamente olhando para o céu - prazer que eu ainda não conhecia.
Como este, foram outros....
- as praias. Dos Coqueiros, dos Nativos (foto), do Espelho. Ah... Mar azul azul, calmo, temperatura deliciosa... Começamos na praia dos Nativos, na barrada Tostex, mas logo descobrimos a dos Coqueiros, o verdadeiro Paradise, cheia das plantas que trazem o melhor coco. Na praia do Espelho, não tivemos sorte. Fomos visitar quando a maré estava alta e não pudemos desfrutar como dizem ser possível. Também fiquei triste lá porque os trabalhadores do Bar do Baiano relataram o que eu temia encontrar: exploração e desigualdade. Foi um dos poucos momentos baianos de Trancoso.
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- as barracas das praias. Que guarda-sol com cadeira amarela da Skol que nada. Também não precisa ficar se ajeitando na canga quente estirada na areia. Algumas barracas são verdadeiros bares. Primeiro de tudo: tem DJ. E toca música eletrônica que, para minha surpresa, combina muuuuito com praia. Segundo: sentávamos e deitávamos em cama ou chess long ou cadeira de madeira (todas com colchões e almofadas abundantes) para tomar sol, se secar, beber, comer... Os atendentes, na maioria argentinos(as), são bonitos(as), simpáticos(as) e felizes. Ficam amigos facilmente em uma tarde apenas. Outro diferencial dos bares de praia: toma-se vinho, tinto ou branco. Com um belo balde, boas taças, o vinho vem depois das 15h. E combina maravilhosamente bem. Trancoso é sol forte, mas tem uma brisa que não para. E, na Paradise, os coqueiros ajudam a fazer uma sombra ambulante, que dança conforme o vento. Foi o tempo mais ideal que já vi. Meu corpo adorou.
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- as caminhadas: me deram uma força que eu nem sabia. Eu e Paola caminhávamos mais de 2km para ir à praia dos Coqueiros e nos estirar nas camas da Paradise. E ainda tinha a volta. Descida íngreme, subida montanhosa, mas que ninguém pensava em parar. O calcanhar chegava a arder, e a gente só conseguia mesmo rir e repetir: "Trancoso não é para os fracos". Em uma das belas tardes que tivemos, esperamos terminar o belo por-do-sol e recebemos a lua que estava se fechando, e que lá fica cercada de vários anéis brancos. Voltamos andando com o mineiro Serginho na areia vendo e ouvindo o belo mar cantar. A subida foi quase impossível e milagrosa. Todos de chinelo em um ambiente de buracos, troncos e pedras no chão, mas não batemos sequer um dedinho. Ah, mas quando chega a noite trancoense, nos bares e restaurantes, é tudo perto. Em uma pernada fácil, dá para ver um pouco de tudo e escolher o seu. Cada um no seu Quadrado.
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- o ambiente da pousada: além da beleza física do quarto, lentamente a gente descobre que o Capim Santo é mesmo especial. Todos são naturalmente carinhosos – super do bem. Os quartos ficam no meio de uma mata linda de coqueiros e seus companheiros... Os caminhos ficam charmosamente iluminados nas noites. Penduram-se muitos spots de luz que sombreiam as árvores. A piscina tem azulejo azul marinho e alvenarias com almofadas. Algumas mesas para jantar iluminadas com velas, claro, e o cheiro de comida absurdamente bem temperada e impressionantemente criativa. O bolinho de risoto recheado com mussarela de búfalo, manjericão e capim santo enlouqueceu meu paladar.
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- a comida: tudo é saboroso. Tivemos apenas um dissabor no meio de peixes, bolinhos, sanduíches (de berinjela na chapa – dos melhores que já comi, do Lá no Don), tapiocas, saladas, massas e o destaque especial para a farofa de banana do Cantinho Doce. O mais engraçado é que o pessoal lá geralmente traz o pedido pouquíssimo tempo depois de você pedir. Ah, e o café da manhã da pousada, que era riquíssimo em sabor. Quantos bolos, pães, tortas, sucos (de novo, o de capim santo era incrível), panqueca, geléias e o melhor açúcar mascavo que já provei...
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- os cachorros: é a cidade deles. Estão em todos os lugares e podem ser seu por um dia, uma semana ou uma temporada. Bem cuidados, os perros nadam no mar, vão aos bares e te acompanham até a pousada. Aliás, na pousada mesmo tinha uns quatro. Todos gostam, acariciam e curtem os diversos focinhos que vem nos pedir carinho em todos os cantos. Até a Pá aceitou bem, de tão natural que parecia. Foi demais ver um lugar democrático até com os cachorros.
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- as pessoas: ah, um capítulo à parte que será desenvolvido com mais detalhes em outro post. Mas o denominador comum era que todos são do bem. To-dos. Mineiro era mato lá, além dos vários argentinos, italianos, ingleses... A maioria tinha acima dos 30´s, chegando tranquilamente até os 70´s em todos os lugares que frequentei. Muitos homens, e muitos deles sozinhos com filhos. Gente diferente. Tatuagens de todos os tipos, com uma criatividade e beleza que eu amei. Nos nativos, aquela beleza de índio puro, ou com negro, ou com branco, que fez uma gente que parece viver em paz com o ambiente.

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Trancoso vai além da Bahia e do Brasil. É da humanidade.

Continuarei...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ACEITO, MAS NÃO ENTENDO ou NÃO ENTENDO, MAS ACEITO


A ideia tem regido o começo de 2010 em vários setores da minha vida. É aquela certeza de que tem coisas inexplicáveis com as quais precisamos conviver, suportar ou lidar. São regras, relações, reações, datas, sentimentos que vão além do entendimento emotivo, que batem e voltam sem nenhuma ressonância com o que a nossa compreensão entende.

Primeiro estopim foi a volta das aulas na UEL. Eu estava crente que era logo no dia 4 de janeiro, primeira segundona do ano. Peguei a estrada e, no dia 5, 8h da madrugada, estava lá toda pronta para dar aula. Esperei, esperei e estranhei o vazio do câmpus. Perguntei para o seu Manoel, vigia do CECA, e ele me avisou que as aulas só retornariam na quinta. Quinta? Por que não segunda-feira? Não entendi, mas aceitei.

Voltando para Bauru, um piripaque no meu carro. O Megane é possante, todo tecnológico, mas tem 95 mil km rodados e vive comigo na estrada. Foi chegar aqui para ele começar um barulho absurdo que, mesmo sem entender, eu percebi que era grave. Liguei para o Bolacha, meu mecânico. Pelo telefone, ele disse que o carro precisaria de um guincho para levá-lo. Tudo bem. Esperei um bocado e, quando liguei dizendo se ninguém iria buscar no meu pretinho, ele avisou que era melhor acionar o seguro, que faz este serviço de graça. Eu não sabia. Depois, Bolacha me ligou para dar o diagnóstico e o orçamento do problema. A ligação estava ruim e eu entendi que a “folia” havia quebrado. Depois de repetir isso para duas ou três pessoas, corrigiram minha gafe. É a “polia”, não “folia” motriz. Pior ainda: a tal peça quebrou e foi detonando algumas outras partes do carro. O mecânico tentou explicar, mas eu sou ignorante em assunto de carro. Depois da bomba do preço, e sem ter opções, mandei consertar. Aceito, mas não entendo.

Mais difícil ainda foi aceitar os quatro (4!) pedágios inaugurados simultaneamente na Marechal Rondon entre Bauru e Assis. Para quem quiser ver, é só pegar a estrada para Piratininga e esperar uns 12Km. Logo aparece o primeiro pedágio, lindo, todo iluminado, em uma rodovia de pista simples e sem acostamento. Falei para os atendentes: das quatro cobranças, a de Piratininga é a mais absurda; impossível de ser compreendida. Mas pago para poder passar.

Também não entendo algumas pessoas que são mal humoradas, agressivas, superficiais, maldosas... E as regras institucionais, sociais e veladas dos ambientes de trabalho, então? Outra notícia que recebi esta semana e que está difícil de engolir: minha madrinha, a tia mais agitada e modernosa, está com Alzheimer. Sem possibilidade de compreensão.

Mas, felizmente, tem os fatos da vida que a gente aceita deliciosamente. O melhor exemplo do ano: a viagem para Trancoso com a Paola devidamente agendada para o dia 21 de janeiro, quinta. São cinco anos sem férias, muitas viagens imaginárias que planejei e que não aconteceram. Mas, com a Pá, é diferente. Ela abraça a causa, programou vôos, transfers, e eu apenas ajudei a escolher a bela pousada Capim Santo. Não entendo como ela é tão organizada e centrada assim, e como deu tudo tão certo para este passeio, mas eu deliciosamente aceito e vou aproveitar cada minuto da Bahia com minha amiga-irmã. Estou emocionada de pisar em um lugar tão histórico, belo e energético. Escrevo de lá.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Celebration


- Final/início de ano foi cheio de passeios com Fabrício, Paola, Laura, minha mãe, Mileninha, a Laila e os encontros com meus conhecidos na mesma avenida. Destaque especial à Renata querida, leitora do meu blog da distante Brasília, mas que, quando senta para conversar, ri com a gente como se estivéssemos nos visto na semana anterior. E também o Célio, bauruense totalmente paulistano que me achou na casa da minha mãe como uma surpresa gostosa. Resumo das quase duas semanas que passei lá: muito almoço com família, várias tardes com o Fá, barzinho com a tchurma, jantar-amigo-secreto delicioso na Dani e Beto, reunião happy-hour na escola da Pá, coreografias sem fim com a minha sobrinha linda, réveillon animadíssimo nos de Angelis, café no Pepper, pizza da Bambina... Aliás, existe pizza mais perfeita do que da Bambina? Enfim, queria ter ligado para algumas pessoas, passado em alguns lugares e resolvido mais pendências desta minha vida de duas casas. Mas não deu. Quis aproveitar uma parte do meu recesso passando um tempo mais calmo e qualitativo com algumas poucas pessoas. É pecado de final de ano?

- Aniversário da Paola dia 16 de janeiro. Festa só para mulheres na casa dela. Minha amiga tem histórico de grandes comemorações. E foi justamente o aniversário dela de 15 anos que celebrou o início da nossa amizade. Pois bem, na comemoração dos 36 anos dela, 21 da nossa convivência, fiquei receosa. Sei lá, eu gosto de ambiente que tenha homem. Pode ser até meus amigos, os maridos/namorados das minhas amigas, mas precisa ter aquele “quê” masculino que movimenta a conversa. Mas não teve problema; pelo contrário. Que energia existe naquela casa e com aquela família!... Todas as amigas da Pá, que são colegas em diferentes níveis, estavam lá, atualizando as conversas, matando a saudade, bebendo champanhe, dançando músicas que fizeram parte da nossa história, rindo muito e, claro, falando de homens - porque ninguém é só estrógeno...

- Está oficialmente aberta a fase de aniversários que só termina no meu renascimento. Daqui a pouco começam os aquarianos: Beto, Fabrício, Dani Guedes... Depois, vem os poucos piscianos, com destaque para o Alexandre, querido colega da Fema, para começar a fase Áries do ano zodíaco. Desta vez, não estou com medo do meu aniversário e do caminho para os 36 anos. Estou feliz e em paz comigo. O desafio para este ano cronológico e astrológico, ano do meu signo chinês Tigre, é lidar com as pessoas do mundo que insistem em ocasionar problemas. Como disse Sartre: o inferno são os outros.