domingo, 21 de fevereiro de 2010

POINT OF NO RETURN


Tem gente que sofre muito quando se depara com os avisos de uma encruzilhada. No final das contas, sempre penso: não é ótimo ter dois caminhos a seguir do que nenhum? Sei que não é fácil a adnegação, mas a possibilidade de escolha, pelo menos para mim, é sempre um momento abençoado. E, felizmente, nego qualquer tendência a ficar olhando para o outro caminho que não segui.

Minha dificuldade é quando se está caminhando tranquilamente, talvez até arriscando uns galopes de criança, quando outra plaquinha, grande e amarela, aparece na sua frente: POINT OF NO RETURN. Angústia de voltar, de andar para trás no sentido mais involutivo da palavra... Sentimento de fracasso, como se um esforço carinhoso tenha se mostrado incapaz, insuficiente e inconstante... Momento de parar e voltar. Pra onde?

Dar ré não é o caso, porque o passado só é concreto na nossa memória. De resto, vira uma nuvem virtual. Além do que, se tentar retornar quando avistar esta placa, colocará sua vida em jogo. Não existe escolha no passado. Existe agora. Então, vamos pra frente. Mas a frente não existe. É POINT OF NO RETURN, querida. Te vira.

Pode-se optar por cavar um buraco e enfiar a cabeça na raiz da terra para não ver nem sua sombra. É uma opção – talvez das mais utilizadas. Uma vez fiz isso e, sinceramente, não funciona. Primeiro porque falta ar para oxigenar as decisões e você fica impotente; segundo, porque sua bunda fica exposta. Para levar um chute, é um minuto.

Outra opção é dar uma Dorothy e, ao avistar a temida placa, tentar sair voando para Oz. Boiar, planar para ver aonde o vento vai te levar. Aceitar o POINT OF NO RETURN a ponto de não pensar nele. Sublimar e entrar em outro mundo.

Eu nem vou falar que já tentei ou tentaria esta última opção. Minha formação jornalística tem dificuldade em aceitar a abstração fantasiosa quando se trata de um problema. Também não chego ao extremo de, em um ato de fúria, arrancar o aviso que me barra. Já aceitei; a vida é assim. É cheia de placas.

O POINT OF NO RETURN que estou vivendo me trouxe uma outra metodologia para abordar o bloqueio. No lugar de cavar buracos autocentrados, viajar para um mundo de aceitação ou fúria em relação ao aviso, vou tirar um cochilo, fazer um retiro ali mesmo. Porque podem ser placas provisórias, derrubadas naturalmente. Mas, como não sou besta, se tiver uma oportunidade, até dou uma braçada para ajudar na queda. E o que me espera depois do pause é sempre melhor do que o estado anterior. Como se o mundo se abrisse; talvez uma recompensa. Ou será que a fórmula é ter calma sem apatia? Os estrategistas devem ter teorias sobre isso, não sei, mas acho que, muitas vezes, ficar parado é caminhar longe.

É de se tentar.

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