quinta-feira, 30 de junho de 2011

Simonei



Estou há pouco mais de dois anos morando em Londrina e aprendi que, assim que o frio chega, o festival de festivais começa por aqui. Teatro, Teatro do Oprimido, Música, Dança, Balé, Literatura, Cinema, Curtas... Tudo é motivo pra festival. Um dos principais é o Filo que, nos seus de 43 anos de teatro, traz também o Cabaré, com shows que já fizeram história na terra vermelha.

Pura falta de sorte minha foi que, nas últimas duas edições, por falta de grana ou sei lá o quê, não ocorria o Cabaré. Eu até achava que se grafava Cabaret, tamanha ignorância. Mas este ano eu debutei, em grande estilo, na parte musical do Filo.

Infelizmente, eu não estaria aqui em boa parte dos shows - veio Erasmo Carlos, Arnaldo Antunes, Nando Reis e Eduardo Dusek. Não pestanejei: comprei ingresso para os dois que poderia - o Baile do Simonal e o Martinho da Vila. Este último, claro, foi a maior alegria pra minha mãe, que veio de Bauru para ver o samba do seu grande amor. O show foi no sábado, e muita gente não gostou. De duas em duas, três em três músicas, Martinho saia do palco e deixava seus filhos cantando. Nada contra, mas frustrou. Norma foi taxativa: adorou vê-lo, mas o prefere em DVD!

Já os filhos do Simonal foram escolhidos pela simples afinidade com algumas músicas e pela história da época da ditadura. Nada (de) mais. E fui com o jornalista Rogério Fischer que, além de boa gente, é divertido ao extremo, conhece muitas pessoas e tem sempre boas histórias pra contar. Até por estes motivos, a noite estava garantida e não criei expectativa alguma sobre o show em si.

Mas eis que o galpão do IBC (antigo Instituto Brasileiro do Café), que abrigou o Cabaré, era espaçoso, belíssimo, decorado, perfeito, histórico. Pessoas diferentes conversando, rindo, dançando... Antes dos Simonais entrarem no palco, música de boa qualidade rolando, vários tipos de bebida, comidinhas, bancos pra gente sentar. Mas foi impossível chegar perto de um deles porque, quando o show começou, ninguém ficou parado.

Com uma energia incrível, Max de Castro e Simoninha levantaram uma turma já animada e cantaram as melhores do pai. Em um determinado momento, acho que na música Nem Vem Que Não Tem, percebi que não tinha um ser vivo quieto por ali... Eu dancei do início ao fim. E me emocionei com Sá Marina, tão linda na voz dos meninos. De presente, encontrei um aluno da UEL, o Roger, que do alto de seus 20 e poucos anos, conhecia todas as letras... Percebi que Simonal é atemporal.

Quem quiser saber mais, vale a pena assistir o documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei, integralmente disponível no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=VQWEjWE0LcY). Para além das polêmicas dele com o Pasquim, fica claro que Simonal foi um fenômeno de massa na época em que os meios de comunicação adentravam os meandros da indústria cultural.



E é que foi justamente este efeito que os Simonais tiveram sobre mim? Depois do show, comprei um CD e um DVD, movimentando a tal indústria. Felizmente, ando aprendendo (principalmente com meus alunos) a usar melhor a internet e, pelo menos o documentário, veio de forma democrática via rede.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O primeiro aniversário



Minha Milena completou 39 aninhos hoje. Teve sorte, a pestinha: foi o dia da festa junina da Apae e, se bem conheço minha irmã, ela deve ter achado que o arraiá todo era pra ela. Pelo que soube à distância, o dia foi delicioso, com direito a visitas queridas e presentinhos que ela adora. Qualquer embrulho a agrada.
Foi o primeiro aniversário dela longe do pai e, depois de quase um ano, ainda não sei como minha bonequinha lida com a morte. Há umas três semanas, ela chamou todo mundo na casa dizendo que o Said estava no quarto. Depois, foi para a porta de entrada e ficou olhando pelo vidro, dizendo: “Entra, pai”.
Ele era extremamente presente da vida da Mica. Quando fui do hospital para a casa da minha mãe buscar a roupa que vestiria meu pai em seu velório, ela veio sedenta para cima de mim porque percebia o clima estranho dos últimos dias. Minha tristeza era tamanha que não consegui lidar com a dor da minha irmã, tão confusa. E a confusão continuou; a tadica ficou meses sem dormir direito e chamando o pai pra jantar. Depois da morte, Mica ficou um pouco mais mimada, um pouco mais birrenta e um tanto mais mandona.
Para mim, Milena se tornou ainda mais importante. Para ela, a vida se tornou mais triste, tenho certeza.



Ps. a foto é dos poucos registros dos dois sozinhos. Foi tirada pelo Mário, meu ex-marido, há exatos 10 anos, quando eu ainda estava em Londres. Detalhe é o cigarrinho de palha do Said. Como herdei a "latinha" dele, vou fazer um, em homenagem à saúde da minha irmã.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Diversificando



Começo, amanhã, aulas para terminar o semestre da disciplina Extensão Rural para o pessoal de Agronomia da UEL. A afinidade com o tema já vem de tempos: fui responsável por fazer a página Rural do JC de Bauru por quase dois anos, fiz uma monografia sobre o MST no mestrado e dei aula de Comunicação Rural na Unesp de Bauru, para as turmas de Jornalismo, RP e Rádio e Tv.

Lidar com os futuros agrônomos (no masculino porque, pelo que sei, a maioria é homem) deveria gerar medos. Talvez seja o salto mais alto que já dei em termos de “interdisciplinaridade”. Já trabalhei com turmas de Relações Internacionais e em todas as áreas da Comunicação. A única que me trouxe problemas foi Publicidade e Propaganda, na Unip de Bauru, acho que em 2008. Mas o calo não era a turma ou o curso – era uma aluna afetada.

Agrônomos, pelo que sei, tem uma área de atuação bem ampla e diversificada – mas em algumas universidades predomina o clássico filho de fazendeiro. E eu jornaleira, vegetariana, pró-reforma agrária, contra rodeios... Paulo Freire vai como meu mentor espiritual e intelectual na jornada.

De uma coisa, eu sei: só de andar por outros ares daquele grande campus já valerá a pena. Na UEL, cada departamento/centro fica confinado em seu próprio microcosmos. Vou para as agrárias sem receio algum.