sábado, 30 de outubro de 2010

De político, jornalista e/ou mentiroso, todo mundo tem um pouco

Não há nada mais interessante para quem gosta de observar o jornalismo do que em épocas de comoção social – Copa do Mundo, catástrofes, guerras, plebiscitos e, claro, eleições. Para presidente, melhor ainda. Com segundo turno, então, haja coração. Eu não aguentaria nem mais uma semaninha.

Tento acompanhar quase tudo com dois focos: os meios de comunicação que formam o quadrilátero do PSDB (Globo, Veja, Folha e Estadão) e os meios de comunicação que propiciam uma outra visão (Carta Capital, IstoÉ, alguns telejornais da Record e do SBT, além dos blogs maravilhosos de jornalistas conceituados - como Azenha e Rodrigo Vianna). E ainda tem os horários eleitorais gratuitos... Fico exausta. Sorte que tem a internet, que me permite acessar qualquer coisa a qualquer hora. E mais sorte ainda é que está para terminar – e com vitória.

Em período de eleições, ainda mais entre turnos, viro rata de banca de jornal. Domingo, então, é mais do que sagrado. E as pessoas se dividem entre Veja, IstoÉ, Carta Capital, Folha e Estadão. A Época fica no meio termo: consegue repercussão dependendo da sua capa. Eu ainda não a entendo.

Debate, eu também não perco. Compro até vinho bacana para acompanhar e troco mensagens com as pessoas que pensam como eu. Pensamos e discutimos as estratégias e caminhos da campanha. É como se a candidata virasse, de verdade, parte de uma meta coletiva da qual, felizmente, faz parte Chico Buarque, Ariano Suassuna, Leonardo Boff, Gilberto Gil, Beth Carvalho, Frei Betto, Fernando Moraes, Aldir Blanc, Alcione, Djavan, Niemeyer, Erasmo Carlos, Lázaro Ramos, Jorge Benjor, Veríssimo e, claro, a alegria baiana de Ivete Sangalo.

Cheguei ao estágio de absolutamente não querer mais discutir nada com os tucanos que gritam – mesmo que por email. Eles me cansam. Estão sempre argumentando do alto do salto alto, sem perceber que deixam suas carecas à deriva. Já ouvi de um amigo serrista que eu, como jornalista, deveria ponderar que a Dilma vai censurar os meios de comunicação. E que ela foi uma guerrilheira- as duas argumentações que mais me irritam.

Não merecem nem considerações. A única coisa que eu realmente conheço é a relação entre censura e imprensa. Título da minha dissertação de mestrado: “As novas formas de censura: três diferentes coberturas da revista semanal Veja”. Título da tese de doutorado: “A Censura no Pasquim (1969-1975): vozes não-silenciadas de uma geração”. Não dá para engolir o discurso criado sem fundamentação alguma e recheado de preconceitos e conservadorismo sobre esses tópicos.

Se você pegar os arquivos do Geisel, digitalizados pelo CPDOC da FGV do RJ, verá que os termos usados na campanha para diminuir Dilma, como “guerrilheiro, subversivo”, são os mesmos usados pelos militares. É aquela coisa: de que lado você está? Com quem você se identifica? Qual é sua turma? Qual linguagem usa?

Devo admitir que esta campanha tem uma particularidade importante: os meios de comunicação do quadrilátero do PSDB não são mais tão hegemônicos nem tem um discurso hegemônico. Por vezes, percebemos sinal de pluralidade, questionamento, uma charge diferente, um artigo, uma capa da Veja bem pensada (como aquela branca, no dia do 1º.turno)... Fora a pauta que vem do público virtual – e é esta que mais me interessa.

Não há mais como inventar tanta história... O período de dominação discursiva dos meios de comunicação de massa, tradicionais e estritamente comerciais, acabou. Eles continuam aí, fortes e firmes, mas acabou a blindagem e a hegemonia do discurso.

Eles agora são pautados, também, pela internet – que não os deixa mentir sozinhos. Não adianta dramatizar uma bolinha de papel ou uma fita crepe atirada na cabeça: alguém vai ter filmado o que realmente aconteceu. Subverter a história de uma candidata que foi torturada é impossível....

Nunca, mas nunca mesmo, a mentira política teve tamanha perna curta.

sábado, 9 de outubro de 2010

Maldades virtuais e eleitorais


Peço para que me enviem os emails contra o candidato José Serra e o PSDB porque cansei de receber os factóides maldosos contra Dilma e o PT. Sinceramente? Tudo tem limite. São textos mal escritos, cheios de erros de todas as naturezas e preconceitos dos mais ferrenhos que já vi. Não chegam a ser inéditos porque as campanhas anteriores foram iguais – chuva de emails ofensivos de tucanos anônimos.
Recentemente, falaram mal até da netinha da petista, que acabou de nascer. Ela seria “feia como a avó”. E tem a matéria da Veja desta semana sobre o figurino candidata, sob o título Vestida para mandar. Fora a discussão sobre aborto que levou a CNBB negar a existência de uma carta recomendando que os “fiéis” não votem na petista. Foi “apenas” a recomendação de um bispo de Guarulhos. A entidade criticou a “orientação”, mas o estrago já estava feito porque os tucanos militantes se informam apenas por um ou dois meios de comunicação – e, desinformados, continuam enviando essas mensagens apelativas.
Falando em apelação, no Manhattan Connection de domingo, o ódio de Madureira (do Casseta e Planeta) xingando Lula de picareta e vagabundo foi tão forte, tão absurdo, que o GNT “cortou” esta parte no vídeo do site oficial. Mas dá para assistir no YouTube, claro. Os emails maldosos agora atingiram até o vice, Michel Temer. Ele seria um dos “líderes do satanismo no Brasil”. Fora aquelas supostas camisetas que usam o nome de Dilma para algumas camisetas com slogans, no mínimo, de muita grosseria, mau gosto mesmo. O pior deles foi “Corruptos filhos DILMA _ _ _ _!”.
Quanto desperdício...
Quanta maldade...
Quanta falta do que fazer...
Por que a gente não espalha logo – via internet, claro – que foi o PT o mandante dos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York? Ou que Dilma é amiga íntima de Ahmadinejad e filha bastarda de Fidel Castro? Melhor ainda: vamos espalhar que Dilma é amante de Lula! E que Marisa, a primeira dama, sabe! Bom, deixa eu parar porque alguns tucanos destrambelhados podem transformar estas ironias em “fatos” virtuais.

Pelo menos, criar factóides anônimos, maldosos e covardes contra o PSDB, definitivamente, não é qualidade dos petistas e simpatizantes.


* Caricatura de Pedro Ewbank, exposta no Salão de Humor de Piracicaba. Mr. Burns total.