sábado, 15 de maio de 2010

A Morte


Bauru teve um sábado atípico hoje. No lugar da agitação dos botecos e da preparação para as baladinhas noturnas, toda uma geração passou pelo velório do meu primo, Marquinho Giosa, Neme por parte da mãe, minha tia Nilce. Querido por todos, solteiro convicto e animado por natureza, ele misturava o jeito árabe com a herança italiana do pai Antônio. Onde quer que ele me encontrasse, de longe ou de perto, gritava, em tom quase cantado: Primaaa... Teve um infarto fulminante na rua, logo depois do almoço. Tenho certeza que ele tinha um convite da W ou do Santa Madalena no bolso pra noite. Marquinho foi cedo, com 54 anos, e parecia que tinha uns 46, no máximo. Mais uma vez, sinto à distância a dor da minha família.

Queria poder me despedir dele. Deixo a poesia, porque não há o que falar nem fazer.


A morte chega cedo
(Fernando Pessoa)

A morte chega cedo
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.


O amor foi começado
O ideal não acabou
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.


E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

O CECA, o Filo e meu pé vermeio


Todos precisam conhecer aqueles bancos de concreto que circulam árvores nos prédios em “u” do Centro de Educação, Comunicação e Artes, nosso CECA, da UEL. Lugar mágico - qualquer um faz o que quiser. E melhor ainda: sempre com uma boa trilha dos alunos de música, ou um divertido ensaio do pessoal de Cênicas. Tem gente que tira um cochilo, namora, estuda, orienta alunos (eu), fuma seu cigarro (eu, again), discute relação, faz reunião, tudo tudo tudo nos bancos do CECA. Um espaço mágico pra mim. Foi meu primeiro contato com a universidade. Quando me inscrevi para o concurso de professor substituto, em março do ano passado, minha irmã sorteou o tema para mim, montei a aula em Bauru, vim cedo para Londrina. Irmã e sobrinha me levarem até lá. Ficamos sentadas nos ventilados bancos até dar 14h, e eu falei que já havia amado aquele lugar. No dia, tocava Tom Jobim. Eram as águas de março abrindo um outro outono, o meu primeiro outono na cidade. Agora, chego ao meu segundo inverno londrino. E o melhor sinal disso nem vem do meio da neblina que bateu na quarta-feira. É o Filo, que divulgou esta semana a programação 2010 em todos os meios de comunicação da cidade – menos no site oficial do festival de teatro. Indico a reportagem do JL: http://portal.rpc.com.br/jl/online/conteudo.phtml?tl=1&id=1002759&tit=Filo-2010-tera-50-espetaculos. Apesar do tropeço inicial na divulgação, e da indecisão em relação ao Cabaret (shows pelos bares da cidade – em linhas diretas: a “balada” do Filo), estou achando que esta edição vai ser de esquentar qualquer pé. Desde que seja vermeio.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nobody said it was easy


A pior consequência do envelhecimento não está nas alterações físicas. Ruim mesmo é ver nossas pessoas morrerem. Depois dos 30, pais, tios, avós, primos, amigos, ex-colegas de trabalho, ex-vizinhos e afins ficam, de alguma forma, mais próximos do fim. Mas a gente nunca se prepara para isso. Somos mortais com panca de imortais.

Um sentimento ainda mais difícil me abateu no domingo. Depois de já ter presenciado a perda do pai de duas grandes amigas-irmãs nos últimos anos, e que não foi fácil mas eu estava ao lado delas, passei mais de 30 horas angustiantes entre a notícia da morte do pai do meu amigo (amigo, não, irmão) e seu enterro em Bauru. E eu aqui, em Londrina. E eu aqui, querendo estar lá. Presa no meu belo apartamento novo que perdeu a graça frente a um acontecimento tão súbito quanto angustiante, triste, revoltante. Seu Henrique estava em pleno Pantanal, pescando com os amigos.

Meu coração ficou apertado, dolorido por não estar lá. Sei que todos os outros que o amam o confortaram, mas a impotência de não poder abraçar a dona Arlete, segurar na mão do Fá, buscar o quê ou quem preciso fosse... A dor da perda se misturou à dor da distância. E eu passei a segunda-feira chorando entre as ligações para a Net, as idas aos bancos, o transporte de mais alguns livros do apartamento antigo...

Em um determinado momento, no semáforo, começou a tocar Cold Play, e eu instantaneamente me lembrei do Fá, já cheia de lágrimas. Um motoqueiro simpático disse: “Oh, moça, não chora, não. As coisas vão melhorar”. Sorri, agradeci, mas não falei o que realmente pensava. Na verdade, o motivo do choro só tende a piorar, motoqueiro. Quanto mais gente amamos, mais sofreremos ao envelhecer e perdê-las – ou ver nossos queridos encarando um momento desses. Ou, pior ainda, não poder estar junto.

Para nós, mortais por enquanto, fica a única saída de brindar a vida. Com cerveja e compotas de doce, como seu Henrique tanto gostava.