segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Meu eterno sofá


Trouxe para Londrina a minha bicama. Deve ter perto de uns 30 anos. Foi comprada pela minha mãe, mas eu não lembro onde ela ficava na casa antiga dos Neme-Buzalaf. Na residência atual, para onde nos mudamos quando eu tinha uns 11, 12 anos, serviu de sofá enquanto os almofadados da alvenaria não ficavam prontos. Só que a bicama era mais larga do que o gesso, e fazia com que as três filhotas ficassem com as perninhas abanando no ar enquanto assistiam tevê sem controle remoto. E dá-lhe jó-quem-pô para decidir quem ia mudar o canal.

Assim que as almofadas modernas chegaram, a bicama com estampa de floresta tropical ficou armazenada no quartinho de despejos da casa. Muitos anos e emoções depois, fui morar sozinha, e minha mãe me deu a bicama que, com uma manta, virou sofá. Puxa vida, foi meu primeiro sofá, o lugar onde recebia as pessoas, onde descansava depois das longas jornadas no Jornal da Cidade, meu cantinho para ler os prospectus do mestrado que queria fazer, preparar a papelada toda... Lá, ficou vivo até eu ir para Londres. Foi quando os dois colchões voltaram juntos para o quarto de despejos da família. Encostados, sem uso, mas sempre limpos pela Vicentina.

Voltei de Londres, fui morar com o Má em um belo apê, mas que não tinha espaço para o quase-sofá de cores gritantes. Continuou na casa dos meus pais. Sempre o olhava saudosa quando ia buscar um azeite, ou um refri na dispensa da Norma. Poucos anos depois, me separei e levei apenas o que já era meu: a geladeira, o fogão, a velha estante de livros e a mesa do computador (continuo com os mesmos). Aluguei o pequeno apartamento perto do shopping e peguei de volta a bicama, que foi um belo sofá no meu primeiro ano e meio de separada. Lá, eu me preparei para o doutorado, recebi amigos, conheci gente e montei muita aula para a Unesp e USC.

Quando mudei para o predinho, onde ainda moro em Bauru, levei a bicama mas logo comprei um sofá branco, que combinou com todo o resto. Ela voltou a ficar sem uso, armazenada no salão de festas do prédio, que funciona de depósito para nós, moradores. Nunca achei que deveria doá-la, já que seus dois colchões são firmes e fortes como nenhuma novinha seria. Roberto sempre me mantinha informada: “Coloquei sua bicama para tomar sol hoje”.

Eis que fui percebendo que estava faltando um sofá aqui em Londrina. Levar o meu branco, com três assentões, impossível. Comprar, também, não seria o caso – não foi por isso que aluguei um apertamento(sic) mobiliado? Lembrei da bicama, mas antevi problemas. Primeiro: não achei que ela dobraria a ponto de caber no meu carro (que tem a bunda encolhida). Mas coube certinho no banco de trás. Segundo: vim pensando que a dita poderia tumultuar ainda uma sala tão micro. Pelo contrário.

Eu tenho, agora, um sofá na minha sala que, incrivelmente, parece maior. Sentada perto do chão, a tarde está mais fresca, a Shú mais perto e tranquila, os livros aqui do lado e a caneca e o cinzeiro também. Fiquei melhor confortada aqui com minha bicama-amiga, e até mais feliz por dar vida a ela de novo.
Parece que esses dois colchões vão me acompanhar até, no mínimo, a aposentadoria.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dúvida jornalística


Notícia de ontem:

INTERNADOS COM GRIPE A CAEM 50%
Bauru registra diminuição de gravidade clínica da nova gripe; Secretaria de Saúde confirma mais nove casos da doença


Mas não seria mais ou menos assim?

BAURU REGISTRA NOVE CASOS DA GRIPE A
EM APENAS UM DIA
Apesar da diminuição de 50% dos internados, Secretaria de Saúde confirma diagnósticos e soma 73 pessoas com o vírus na cidade

Tucanaram os fatos ou eu que estou sensacionalista demais?

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Conjugando

Eu falho.
Tu falhas.
Ele falha.

Nós falhamos.
Vós falhais.
Eles falam.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Fator-Neme


Este é o nome dado às características comuns aos membros da família da minha mãe. O termo foi cunhado pela minha prima Karen, uma Neme legítima, filha da amada tia Sônia, caçulinha dos nove filhos (cinco mulheres e quatro homens) dos imigrantes libaneses Alfredo e Sálua, meus avós, além de escritora da biografia deles.

Os Nemes são detectados de longe. Primeiro de tudo, tendem a ter um humor gostoso que acalenta mesmo os momentos mais difíceis. Exemplo recente: uma querida tia teve uma leve amnésia após uma longa cirurgia. Com a ajuda de suas filhas palhaças, pregou peça no meu tio, o chamando pelo nome do primeiro namorado dela. Tio Neto quase foi internado também, coitado. Nemes são sensíveis e ciumentos.

Na gastronomia, Nemes são tarados por ovo frito e por arroz branco, puro mesmo. Também caem em tentação quando veem uma manteiga em temperatura ambiente, principalmente se tiver um pão fresquinho para acompanhar. Adoram café, e fazem belos bules com pó assentado. Quando passávamos juntos as ceias, fim dos anos 70, início dos anos 80, era uma coisa de louco. Acho que nunca vou apagar da minha memória aquelas mesas apetitosas. Imagine que cada família levava uns dois pratos e você pode ter uma idéia da fartura dos lombos, carneiros, ráchuas, charutos, tahines...

Amam música, livro, poesia, filmes e televisão. Talvez seja por isso que Nemes são notívagos. Cantam as canções que gostam, e cantam alto, sozinhos ou para quem amam. Isso vem desde quando minha mãe morava com os pais e todos os irmãos. Todos cantores, claro.

Livro também faz parte da casa de quase todo Neme. Diferentemente de muitos imigrantes libaneses (como a família do meu pai), meus avós maternos conseguiram formar os filhos, que também formaram seus descendentes, e assim por diante e adiante.

Também são poucos os Nemes que você pode conhecer na vida que recusariam um convite para o cinema. Adoram o fascínio da telona e da telinha. Meu avô, inclusive, foi o primeiro a ter uma tevê a cores em Bauru, “causando” geral por aqui.

Outra característica dos Nemes que tenho detectado ultimamente: cachorros. Quase todos tem ou tiveram belos cães. A terceira geração, minha e dos meus primos, é quase toda canina. Mas um, em especial, teve importância singular na nossa história. Era Lord, um meio pastor, meio collie, dos meus avós e um pouco de todo mundo. Fisicamente, parecia a Lassie, só que todo negro. Ficava no fundo da grande casa da Cussy Júnior, e, quando se soltava, corria para os pés do meu avô, já na cadeira de rodas. Certa vez, Lord fugiu e ficou desaparecido por quase uma semana. A família toda se preocupou. Em um dia de aula de inglês, quando minha mãe me levava (eu devia ter uns 10 anos), vimos o Lord a poucas quadras de casa. Lembro do orgulho de subir a rampa da casa da minha avó com ele, e a carinha dela de felicidade pela volta do companheiro
.
Nem dá para falar que o fator-Neme está determinado pela lógica simplista do DNA, já que a terceira turma da nossa família, felizmente, tem filhos próprios e adotados (talvez outra característica genuína). E todos bem Nemes. Um dos meus primos mais velhos é o caso mais incrível: há vários anos, ele gerou duas meninas e um menino. Quando as crianças cresceram, adotou um menino. Gostou. Adotou, aí, uma menina. Depois, mais uma garotinha, e o casal finalizou a saga recebendo um sétimo filho.

Aliás, se fosse para reunir todos da segunda, terceira, quarta e quinta geração dos meus avós (juro que eu acho que já tem tudo isso de gente na nossa árvore), teria de fechar um clube. E seria o BTC, onde três levas de Nemes pularam muito carnaval. Neme, aliás, sempre gostou de uma folia.

Tem um tio Neme que eu não conheci, o gêmeo.
Tem Neme que eu ainda não conheço, mas já gosto. Tem Neme briguento, apesar de que todos somos um pouco passionais. Tem até uma rua em Londrina com nome de Neme... e uma Neme gente boníssima. Tem Neme no Paraná, em Bauru, no resto do interior, na capital e até na Califórnia. Tem uns Nemes que já se reuniram na Europa (Dani é a rainha: eu, ela e tia Evelyn nos encontramos em Londres quando morei lá, e ela sempre viaja com a Ká para Paris). Tem Neme famoso - um dos melhores médicos que São Paulo já teve. E tem Neme chato também, mas todo mundo sabe quem eles são. Tem Neme moreno, loiro, magrelo, gordinho, alto, baixo. Tem vários Nemes de olhos claros - e eu adoro fazer parte dos descendentes que puxaram para meu avô. Tem Neme misturado com italiano, espanhol e até japonês. Tem muitos Nemes que choram fácil - eu, inclusive. Tem poucos Nemes carrancudos - geralmente, sorriem bastante. Tem os Nemes que se foram nos últimos anos - os dois tios e a tia deixaram uma saudade cortante, mas a certeza de que nós éramos amados por eles. Neme tem dessas: quer ser carinhoso até de longe.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Watch out what you wish for


Ela queria alguém de Áries. Traumatizou com os diversos capricornianos que haviam aparecido na sua vida; todos cartesianos demais. Pensou: se caminhar com um carneirinho feito ela, vai saber lidar melhor. Pronto. Em uma noite de verão, encontrou um ariano que virou sua cabeça. Viveram uma intensa história de amor e paixão, mas tudo que vibra muito, também dói no mesmo tanto. Aprendeu a olhar no espelho e ver seus próprios defeitos no outro bem-querer. Ficou triste, confusa, mas cresceu, e continua admirando arianos até hoje.
***
Ela queria uma história de filme romântico. Não rolou. Até casou com todas as pompas possíveis, mas apenas por insistência dela, que cantava, vivia e amava um homem que não era, nem de perto, o príncipe sonhado. E não é que o cara ainda virou sapo e pediu a separação? Ela caiu, levantou e continuou na busca do encontro perfeito. Infelizmente, só topou com canalhas da pior estirpe. Um, dois, três, quase quatro anos depois, havia desistido. Foi para a Itália curtir a vida solitária que já havia incorporado forçosamente. Encontrou um “princi” italiano, e vive uma Love Story à distância - mais romântico, impossível.
***
Ele só queria terminar aquele relacionamento... Tentava sempre, e sem sucesso, porque ela era doce e atenciosa. Também brigavam bastante, porque a energia já não estava mais lá. Mesmo assim, tinham muita paixão, e as discussões viravam sexo que apagava qualquer necessidade de terminar o caso verbalmente. Morriam juntos no orgasmo a dois. Ainda mais quando ela o recebia de minissaia. Em uma noite solitária, ele cedeu aos talentos de uma outra moça, sem imaginar que a mulher saberia de tudo. Mas soube. E terminou. E magoou. Mas terminou.
***
Ela queria se sentir amada. Havia saído de um relacionamento desgastante com um homem que deixou sua auto-estima lá embaixo. Chorou horrores, levantou, mudou o visual e partiu para a vida, a noite, conheceu homens e se entregou. Teve azar: cruzou com os mais neuróticos, que grudam feito chiclete e acreditam ter encontrado o amor da vida deles. Cansou e casou, sim, com sua criação de gatos.
***
Ele queria uma namorada japonesa... Sonho de infância, sem nenhuma explicação. Ficava fascinado pelos olhos e todos os atributos físicos e imaginários de uma gueixa. Conheceu a nissei da sua vida, e com ela viveu um relacionamento exagerado em todos os sentidos. Ela tinha altas psicoses, problemas profundos não-tratados e chegou a esfaqueá-lo durante uma briga. Agora, ele só gosta de loiras.
***

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Minhas crianças


Ganhei dois meninos assim, de cara. E eles vieram depois de várias garotas.
Começou com a Laila, minha sobrinha, que agraciou nosso mundo há pouco mais de cinco anos. Aquela menininha linda, neném, toda cheia de enfeites das tias corujas que ela foi agregando ao longo dos seus passinhos, palavras, frases...

Depois, vieram as duas filhotas das minhas duas Dani´s. Gabi, no Canadá, e a Clara, minha querida, com quem convivo bastante, e que tanto adoro. Depois, veio ainda mais uma, a Giuliana, a segunda Gorlinha com cara de canadense.

Tudo muito lindo no reino das mulheres, e, considerando que sou a terceira de três meninas, lido bem com a coisa feminina. Mas eu sentia falta de um pintudinho. Um sobrinho para brincar de bola, levar xixi na cara... Deve ser porque fui muito moleque quando criança, ou porque gosto de um bom futebol, ou porque sempre pensei em ter um machinho.

Van e Fer trouxeram os dois meninos que eu já amava de longe, desde quando eles nasceram em Buenos Aires, há um ano. Fui acompanhando Caio e Nuno por fotos, vídeos e muita imaginação de como seria minha grande amiga mãe. E quem seriam estes dois seres que nasceram de uma junção tão bonita e desejada?

Ontem, eu os conheci.

Nuno ficou ali, pertinho de mim, com o olhar do tio Cássio, pai da Van, e um sorriso-meio-gargalhada de derreter qualquer metal resistente. Que menino charmoso, fofo, tagarela, aconchegante...
Caio, ah, que mistura mais rica da mãe e do pai. Anda feito um homenzinho forte, com seus braços abertos e sua cabeça erguida. Olha firme nos olhos da gente, o cabeludinho.

Dois leoninos na casa da Capitão Gomes Duarte, onde eu também cresci. O mais interessante é saber que, do mesmo jeito que vi a Van fazer 15, 18, 21, 35 anos, entrar e sair da faculdade, também vou acompanhar os passos dos gêmeos para o resto de nossas vidas. O mais emocionante? Ah, acho que foi sentir a forte ligação que se forma ali, naquele quadrilátero de amor.

A origem de Caio e Nuno também os enriquece. Fernando é de uma doçura e de uma calma quase mineira. É um pai e um companheiro que a gente sonha para viver com uma grande amiga feito a Van... Ah, e ela merece. Uma mãe tão menina, tão amiga, tão brilhante. Tem humor, inteligência e carinho de sobra. É das pessoas mais importantes nos rumos que minha vida tomou.

Agora, estou danada: além de sempre agradecê-la pela amizade e carinho comigo, terei de pagar pau porque Vanessa e Fernando me deram meus primeiros meninos.
E são iluminados, os quatro.

sábado, 15 de agosto de 2009

Meus cigarros

Meu médico adotou a linha do Serra: mandou eu parar de fumar. Pela primeira vez, o pesquisador do Hospital das Clínicas nem se deu ao trabalho de me explicar os motivos, e logo determinou uma sentença que eu sempre questiono e vou questionar por alguns motivos bem meus.

Primeiro de tudo: cigarro é prazer. Para os outros, é um vício imundo que polui o mundo e a saúde, mas, para quem gosta, é compartilhar, é companhia, ajuda na reflexão, alivia uma ou outra tensão. Faz mal para a saúde? Pois é, mas até o remédio que se toma para uma coisa acaba prejudicando outra. Aliás, viver faz mal à saúde.

Segundo: cigarro cria elos sociais. Bom, em redação de jornal, isso fica claro. Pessoas se aproximam por esta ligação. Geralmente, tem a categoria dos não-fumantes irritantes, dos que nem se incomodam, dos que sempre filam um trago e dos fumantes assumidos, sempre unidos.

No Bom Dia, a cumplicidade era no olhar: um se virava para o outro, mostrava o cigarro, o isqueiro, ou apontava para a porta, e, em dois minutinhos, a tchurma se agrupava no cantinho da calçada, sob chuva ou sol. Não precisava nem levar isqueiro.
Discutíamos tudo: pautas, vida, concorrência e até cigarro. Irmandade total. Eu e Sergião, editor de esportes do BD, costumávamos revisar as páginas fumando na lavanderia, dentro do jornal mesmo, depois das dez, onze da noite, quando já não tinha quase ninguém. Eu aproveitava as aulas de português dele, um verdadeiro mestre, e dividíamos o café e as preocupações.

Mas foi na redação do Jornal da Cidade que comecei a fumar, ainda que de forma tímida. Geralmente, era com a Lú, pauteira, quem eu via praticamente como uma editora, e que muito ensinou à “foca” aqui. Comecei pedindo um trago em alguma pauta nervosa, e terminei pegando um cigarro inteiro.
Também tenho outras histórias de aproximação motivadas pelo cigarro. 1998, eu em Nova York, comecei a comprar meus primeiros maços. Era uma segunda-feira, minha irmã havia ido me visitar, e eu a levei conhecer um bar de jazz no Village. Um holandês muito bonito e com sotaque gostoso chegou perto de mim e, no lugar de pedir “fogo”, queria apenas compartilhar o cinzeiro (“Can I share your ashtray?”). Alwin e eu namoramos o tempo que ficamos lá, e sempre lembramos do approach com muito carinho e humor. Aliás, nos tempos do Serra, soube que a cantada “você tem fogo?” está sendo trocada por “vamos fumar um cigarrinho lá fora?”.

A lei antifumo me limita, eu admito, mas isso já estou fazendo naturalmente. Introduzi o Free One na minha vida (eita cigarro besta), e tento não fumar mais tanto perto de quem não vai compartilhar o fogo comigo. Um amigo meu fez o contrário: passou do Marlboro Light para o Vermelhão, só de raiva.
Fiquei pensando nas situações de bar que viverei com alguns dos meus amigos - Fabrício (fumante), Paola (não-fumante) e Laura (não-fumante, mas simpatizante):
- eu, Pá e Fá. Se Fá e eu vamos fumar, Paola ficará sozinha na mesa. Se escolhermos uma das poucas opções de bar onde ainda se pode esfumaçar, Pazinha, coitada, será a única a não-fumar em um ambiente totalmente separado dos outros.

- se for eu, Fá e Laura, minha amiga austríaca vai se sentir compilada a virar fumante por uma noite, ou, muito provavelmente, repetirá a situação anteriormente descrita: sozinha ou esfumaçada

- se sair só com a Pá e com a Laura, sou eu quem vai fumar alone lá fora. Ouvi dizer que está rolando uma confraternização absurda entre fumantes no estado de São Paulo, que se reúnem, criticam a lei, viram amigos e até paqueram justamente na hora do cigarrinho.

- se for só eu e o Fá, aí que piora tudo. Será que perderemos a mesa quando formos dividir a brisa bauruense na calçada? Os bares fornecerão pulseirinhas para as pessoas poderem retornar ao ambiente público e límpido?

Se o cigarro faz parte da minha vida, só eu mesma que vou conseguir determinar quando parar. Nem doutor Paulo muito menos, mas muito menos mesmo, o tucano José.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sim, estou ficando velha


Quero rotina, horário, tudo funcionando.
Quero geladeira cheia, frutas no ponto e algumas para madurar semana que vem.
Quero agendar minhas viagens; curto, médio e longo prazo.
Quero fazer um esporte fixo, com metas e programação.
Quero programar mais encontros familiares – sou uma ameba nesta área.
Quero poder querer a longo prazo.
Quero contas no débito automático, TV a cabo funcionando, assinatura de um jornal e de uma ou mais revistas. Talvez até a prestação da casa própria.
Quero a tranqüilidade de saber onde estarei semana, mês, ano que vem.
Quero esquema de check-up anual.
Quero programar um aniversário de 40 anos de união dos meus pais, que casaram na sugestiva data de 6.9.69.
Quero salário fixo, programação de férias, aposentadoria... Sou tão caótica com minhas contas quanto meu salário, que não passa um semestre estabilizado.
Quero agendar meus sábados de cerveja/caipirinha, nos botecos, com as amigas, uma musiquinha, encontrando quem chegar. Rituais precisam de periodicidade.
Quero o frio de volta. Se não vier, quero montar uma estrutura para suportar o verão, que me maltrata fisicamente.
Quero assistir meus programas regularmente, ler meus jornais em papel, trabalhar em um horário minimamente fixo.
Quero regras para poder ser livre porque ando refém da minha liberdade.

Texto feito em momento revoltoso, depois de descobrir que a UEL suspendeu as aulas até dia 31 de agosto por conta da gripe suína. Não é raiva da universidade nem dos porcos; é da suspensão que a medida causa na minha vida. Ou seja: não garanto nem uma mísera ideia interessante para os próximos posts.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Holístico

Às vezes, somos só cabeça. Pensamos e executamos na base da racionalidade e da necessidade. Não existimos; apenas passamos.
...
Às vezes, somos só coração. E aí a vida para, fica estagnada em apenas uma estação. A alegria e a tristeza se concentram no fluxo de uma só veia. Não existimos; rodopiamos.
...
Às vezes, somos só alma. Concentramos nossa vivência no desapego de todo e qualquer vínculo emocional ou material. Não existimos; levitamos.
...
Mas, às vezes, e só às vezes, somos tudo e queremos mais. Acordamos e dormimos intensamente, como se todos os deuses estivessem iluminando o caminho. Não existimos; vivemos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Pós-aula

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“Filmes deveriam ser um meio como qualquer outro,
talvez mais valioso que qualquer outro, de escrever história.”
Roberto Rossellini (*)
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Foi sábado a minha primeira aula para um curso de pós-graduação. A idéia de entrar em uma sala que pudesse ter sociólogos, historiadores, designers, jornalistas, letristas, advogados, publicitários e até dentistas me assustava. Pior: em uma área que não faz parte da minha formação acadêmica principal, muito menos da formação profissional. A área era Cinema e Documentário. E, se por acaso dirigi algum filme na minha vida, foi no chá-bar da Paola, e fui rapidamente e amplamente desclassificada como a amiga que fica com a câmera na mão. Duvidaram até do meu diploma de jornalista na época.

Mas, com o que estudei aqui e acolá, além da ajuda inquestionável do Fabrício, montei a aula. Dei o título “A representação da censura militar no cinema nacional”, o que facilitou metade do caminho. Era importante caminhar por onde eu conhecia. Ao longo das duas últimas semanas, fui editando, editando, mas foi na sexta-feira que bateu a preocupação. Respirei fundo, quase varei a noite revendo o roteiro da aula, lendo textos alternados, tentando achar uma frase que conseguisse abrir a aula (*), e, é claro, me irritando por não ter meus livros todos em Londrina.

Acordei tarde no sábado, subi para o Pátio São Miguel, tomei um expressão, depois mais um, li a Gazeta do Povo para respirar notícia, imprimi o material de aula, xeroquei um texto da BRAVO! na JK, e voltei para casa rever os pontos principais já bem acordada.

Havia marcado com o coordenador do curso uma conversa prévia parar 13h30. O medo de não achar o caminho para a faculdade me fez sair de casa exatamente 12h45. E não é que cheguei lá de primeira, feito uma londrinense cruzando o Igapó?

Pisei na faculdade e fui avistando os vários potes de álcool em gel. Um climão estranho, corredores vazios... O professor chegou e nos demos bem de cara. Sociólogo, gente boníssima – minha irmã bem havia me avisado. A turma era pequena mas bastante variada e, neste sábado de alerta da gripe suína, estava menor ainda. E não é que foi melhor? Pude interagir com cada um ali. O que senti de diferente é que, na pós, a maior parte das pessoas realmente está lá por opção – uma constatação que nunca tive quando aluna. E, cá entre nós, quando a gente faz alguma coisa porque quer, escolha mesmo, tudo fica melhor.

A sala era moderníssima, com carteiras adaptadas para lap-top e todas as mídias instaladas – eu usei lousa, como sempre. Abrimos a janela para ventilar porque o ar condicionado não é politicamente correto hoje em dia. Como o calor voltou também em Londrina, deixei a porta aberta. Não é que, antes do intervalo da tarde, algumas mulheres começaram a instalar mesas enfileiradas, com toalhas brancas e várias bebidas e quitutes diferenciados? Perguntei aos meus alunos (professor tem uma mania de usar o pronome possessivo...) e eles me confirmaram que o banquete era para nós.

Os dois períodos da aula fluíram bem, e passaram mais rapidamente do que eu imaginava. Finalizei quando já não tinha ninguém na faculdade, e a mesa ainda quase cheia continuava lá. Na saída, alguns alunos ainda beliscaram, eu dei um gole numa coca, e fomos. Achei conveniente falar para o porteiro ir lanchar. E, para dar uma pincelada de tristeza no meu quadro londrinese cheio de coisas boas, ele me contou: “Eles falaram que era para a gente guardar o que sobrasse na geladeira”. Falei, como quem não pode apitar nada, com uns gestos e palavras soltas, que era para ele desencanar e mandar ver.

Fica sempre a questão de como a aula foi recebida. Insegurança de professor e necessidade de aceitação, com certeza. Porque, se você tem uma turma, sente o retorno dos alunos ali, no dia-a-dia, convive tanto que vai balizando e banalizando a auto-crítica. Em um encontro efêmero como este, de apenas um módulo da minha primeira pós, só mesmo passando um formulário de satisfação com sugestões, críticas, pontos fortes, fracos, notas para cada quesito: enredo, alegoria, evolução, harmonia e mestre sala!

sábado, 8 de agosto de 2009

no Senado

Não dá para apagar os raios de ódio no olhar do Collor, nem a dissimulação da fala do Sarney (estes ex-presidentes...). Em uma semana tosca, de dar nojo mesmo, cinco minutinhos de música e de emoção na sexta-feira dos pais.

Só poderia ser ele. E com "a" música.
Tem como não gostar do cara?

http://www.youtube.com/watch?v=At-k9JDfOk8

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ex-petacular


Relacionamentos que terminam sempre deixam um rastro que diz muito sobre as pessoas. Alguns, chegam ao final da história na hora certa. Outros, não. Trazem sentimentos de impotência, mágoa, vai-e-vem, frustrações variadas, ciúme e uma posse que gruda feito cola. Tem gente que lida mal; gente que lida muito bem... Uma grande amiga minha sempre é muito próxima dos ex-namorados, de dar inveja. Uma outra, que eu também amo, não quer nem saber: descarta os anteriores, risca da lista, passa um liquid paper e pronto.

Eu não concebo guardar ódio de uma relação duradoura, principalmente depois que ela acaba. É uma compreensão que vai além de mim: como pode passar um bom tempo com alguém e, depois, só guardar o pó do café? Será que nem um saborzinho ficou? Nem um tanto do cheirinho bom do que se bebeu junto?

Há poucas semanas, passei por uma situação interessantíssima. Meu ex-marido me pediu para assinar a venda de um apartamento que ele comprou quando estávamos juntos. Belê. Marcamos no cartório e passamos a tarde toda lá, em uma sala, ele com sua atual mulher, os compradores, vendedores, corretores, cartorários e eu. Incômodos à parte (até todo mundo entender que eu era a ex-esposa que só foi assinar, e que a mulher dela era a outra moça, e que eu não queria nenhuma parte da grana, um constrangimento só), fomos amplamente elogiados por sermos tão amigos.
Colocamos o papo em dia, rimos muito, lembramos das pessoas que tínhamos em comum, gente que casou, viajou, separou, teve filhos e até os tios que já se foram... Amplos e vários laços que sempre me uniram ao italiano de alma limpa, que eu conheci quando ainda não tinha nem carteira de motorista. Muito bom conversar com o Má.

O cara é um amor de pessoa (quem conhece, sabe), um homem de uma integridade inquestionável, carinhoso, que me respeitou até o último minuto. Largou tudo, e com muito orgulho, para acompanhar meu mestrado em Londres. Um anjo na minha vida e por quem sempre terei carinho e respeito. Foi meu primeiro amor.

Lamento muito por quem não pode ter este tipo de relacionamento, porque um ex sempre traz muito de nós mesmos, do nosso passado, de quem somos, das repetições e, principalmente, da memória de uma época. Eu tento, e bem consigo, ter um ótimo tete-a-tete com os que foram importantes na minha vida. Mas sei que a amizade com um ex é meio que assim: se um não quer, os dois brigam.

É a pessoa que te viu crescer, sair da casa dos pais, entrar na faculdade, arrumar um emprego, trocar de emprego, de cidade, cortar o cabelo, deixar tudo crescer, ficar doente, viajar, ganhar quilinhos, perder o juízo... Sua importância não pode ser mascarada por um ou outro fato isolado - principalmente se este fato for negativo. Porque, de boa, o corpo não comporta muito mágoa, não. E no curto e bom inglês, shit happens, em qualquer relacionamento, família, emprego, amizade, vizinhança... Imagina armazenar todas as raivinhas acumuladas na vida?

O ex é o espelho da memória.
É o livro com as notas de rodapé de uma época da sua vida.
É o passado ambulante, andante e falante.
É passado e é eterno porque é um pouco você.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Gripadíssima


Eu sou aquela pessoa que absolutamente não fica gripada. Todos passam com vírus ao meu lado, e eu permaneço imune. Posso beijar, conviver, fazer tudo que as Secretarias de Saúde estão praticamente proibindo. Mesmo quando é com a Mileninha e com a Laila, minhas duas pequenas, que grudam no meu pescoço, eu no máximo dou uns espirrinhos. Aí, faço uma boa limonada, tomo a aspirina C e durmo. Se sentir que a garganta também está "pegando", faço a minha sopa antigripal (alho, cebola, cenoura ralada, tomate e macarrãozinho) e acordo nova.
Chego até a ser chata com meus amigos que espirram sempre e me preocupo com a reincidência e da fraqueza que abate os gripados. Fico dando minhas receitinhas como se elas fossem milagrosas para todos. Já li em vários lugares que os vegetarianos tem uma imunidade maior, já que não gastam muita energia na digestão da carne. Eu realmente acho que é verdade, porque já tem mais de dois anos que eu não caio de cama por este motivo.
Mesmo assim, a H1N1 está alterando minha vida. Primeiro foi a UEL, que, no final de junho, teve uma visitante “gripada” e suspendeu as aulas por dez dias. Volto eu para Bauru. Depois, retornei para terminar o semestre, tive duas semanas de férias e programei a volta para 3 de agosto, como todas as universidades brasileiras. No final da semana passada, um turbilhão de notícias e pronunciamentos que só a internet conseguiu acompanhar. Era uma faculdade atrás da outra anunciando o adiamento das aulas.
Em Londrina, mantivemos as reuniões. Fui e voltei para Bauru, claro, para recepcionar a Paola, voltando da Itália. Cheguei aqui e a pauta também é a gripe suína. Pior: Dani não pôde ir porque a sogra está com suspeita, e mandou a família toda ficar em casa. Todo mundo já conhece alguém que está ali, doente ou grupo de risco. Agora pouco, soube que também não irei para a facul hoje à noite, conforme previsto: a Unip também deixou para o dia 10.
Não pego gripe, mas me sinto bem gripada.

domingo, 2 de agosto de 2009

Mim, pé vermeio


Tive momentos absolutamente londrinenses no final de semana. Começou na sexta, finalzinho da tarde, com o Rogério e as histórias desta cidade. O combinado era um jantar e um tour pela cidade. Ficamos no aperitivo e fomos para a cidade bonita com um Bonara. Ele me mostrou tudo: o Zerão, a antiga rodoviária projetada pelo Artigas, o centro, a parte pública do Igapó. Contou do desenvolvimento das áreas, mostrou vistas lindas, estacionamos, andamos, fiquei com a bota toda pintada de terra vermelha e até fiz xixi atrás de uma árvore, e de frente para o lago. Guia turístico jornalista é a melhor pedida. Terminamos a noite no tradicional bar da Keiko, um reduto de tudo quanto é tipo de gente, que me pareceu inteiro hilário.
No sábado, fomos rodar a cidade atrás de uma casa para Rogério. Puxa vida, conheci tantos bairros daqui... Meu acesso era (bem) limitado ao centro de Londrina (que é diferente dos “centros” de outra cidade, porque é comercial, residencial, serviços, tudo junto). Mas fui para as outras regiões com seus nomes, histórias e ruas.
Tem a avenida Europa e as ruas Finlândia, Irlanda, Áustria, além da região das ruas Jordânia, Israel, logo ali... Do mesmo jeito que eu moro na Espírito Santo, perto da Goiás, Pará, Sergipe, Mato Grosso – que são cortadas pelas ruas com nomes de portos: Santos e Paranaguá. Tudo com uma lógica meio funcionalista que funciona.
Vi bairros construídos nos antigos cafezais – detonados depois de duas geadas fortes nas décadas de 50 e 70 – e um outro perto do parque Arthur Thomas, cheio de macaquinhos. A cada dúzia de quadras, avistava uma praçinha, com gente e cachorros passeando.
A jornada terminou em um bar na Borba Gato, com moradores daqui e esta bauruense maravilhada com o clima londrinense que eu começo a entender – apesar de admirar de longe desde o primeiro dia que cheguei para morar aqui. A cidade tem uma energia muito boa, das melhores que eu já senti em uma concentração média de habitantes.
Constatei que estou efetivamente morando em Londrina. A mudança foi tão rápida que eu ainda dizia por aí que estava (apenas) dando aulas no Paraná. Claro, até porque minha casa ainda está em Bauru. Preciso de tesoura aqui, não tenho. Assadeira, esqueci de trazer. Meu celular ainda é 14.
No próximo semestre, muda minha rotina. A aula na UNIP, em Bauru, ficou para segunda-feira, e na terça começo minha jornada aqui na minha cidade. Preciso me estruturar melhor, comer adequadamente, transferir a net para cá, telefone, descolar um sofazinho para a sala e assentar.
Estou em casa.
Gostar de Londrina é mera consequência de estar aqui, nos lugares certos e com as melhores pessoas.
Mim tem sorte.