sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

(im)pureza acadêmica

Ontem, topei com o que chamo de “acadêmico de plantão”.
São aquelas pessoas sempre dispostas a versar sobre as próprias míseras conclusões de suas pesquisas, sobre os artigos que leram, já relacionando e criticando todos os autores, é claro... Costumam falar sem ouvir, sendo enfáticos em absolutamente tudo. Eles não têm hipóteses: traçam conclusões no primeiro ano do mestrado de forma mais contundente que um PhD. Sabem tudo da Capes, das políticas, dos editais, dos trâmites e pessoas importantes. Above all, são os que respeitam o tal currículo “puro” - assunto que merece um parágrafo à parte.

A “pureza” que o meio acadêmico brasileiro prega reza a seguinte cartilha: o graduado em jornalismo deve fazer mestrado em jornalismo ou comunicação, e doutorado também. O de direito, então, coitado, fica mais limitado ainda. Não devem sair de sua área nunca, sob pena de não entrar em um concurso público ou ser acusado de falta de consistência (?).
A busca de um acadêmico “puro”, assim como a busca de qualquer tipo de “pureza” absoluta, é forçada. Parece eugenia. Para mim, é uma criação de quem precisa de um modelo para o sucesso.
Sou ariana apenas no zodíaco.

A reflexão vem no momento em que escrevo meu Memorial Descritivo, requisitado em alguns concursos. O texto deve abordar as suas caminhadas, suas escolhas, sua vida. Um exercício interessante e angustiante, principalmente para quem estudou as peculiaridades da “memória de si”.
Também acompanha minha certeza de que minha banca de defesa, composta por historiadores da PUC-SP, UEL e Unesp´s, na semana que vem, vai questionar minhas escolhas “jornalísticas” ao analisar o Pasquim.

Mas, no final, fico feliz de carregar, para sempre, meu mestrado de um país tão evoluído em universidades como a Inglaterra, tão democrático, onde professores têm uma formação e uma atuação tão variadas quanto complementativas; e de ter meu doutorado da Unesp de Assis, que me acolheu e até se interessou pelo meu currículo torto, miscigenado, impuro!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Eu, chef: Barquinhas de Abobrinhas

Receitinha fácil, gostosa, saudável, divertida e econômica. Foi minha saída, porque aquela abobrinha árabe recheada, que todos tanto amam e que minha mãe faz com maestria, é impossível. Ou você nasce com o dom de retirar o miolo sem furar a casca, ou vai acabar fazendo um “virado” de abobrinha.

Vamos lá.

Ao entrar na cozinha, aqueça o forno. Corte quantas abobrinhas você quiser no sentido do comprimento dela, e retire o miolo da leguminosa com uma colher pequena, mas não tire muito - só a polpa mesmo. A abobrinha ficará parecida com barquinhos de Veneza.
Coloque as “embarcações” viradas com o casco para cima em uma assadeira, e ponha no forno para que cozinhe um pouco e perca a água abundante.

Abra seu vinho. Eu gosto de tinto, porque acompanha tudo. O Pinot Noir, do Caminho Del Sur, é maravilhoso e acessível.

Pique uma parte do miolo da abobrinha bem pequenininho, e misture com alguns dentes de alho amassados, azeite, um pouco de sal e pimenta (eu uso a branca, moída na hora).
Com uns 15 minutos de forno, a abobrinha já está quase ótima. Tire do forno, vire as barquinhas para cima, use um fio de azeite na assadeira para não grudar, passe a mistura de alho nas “barquinhas” e devolva ao forno.

Mais um pouco de vinho.

Agora, comece a pensar no recheio das abobrinhas. Abra a geladeira e faça sua combinação.
Algumas sugestões: coração de alcachofra, cream-cheese e tomate cereja; mussarela, milho verde, majericão e molho de tomate; palmito, cenoura ralada, mussarela e requeijão; ervilhas congeladas, gorgonzola e mussarela de búfala; grão-de-bico cozido, tomate picadinho, pimenta síria e queijo; brócolis, alcaparra e cream cheese.

Mas é claro que tem também aquelas coisas que eu não como: bacon, peito de peru, frango, carne moída, atum, presunto magro, gordo, de Parma, de Minas...

Tire novamente as abobrinhas do forno, já com aquele cheiro maravilhoso do alho com azeite, e complete as barquinhas com seu recheio. Eu costumo completar cada uma delas com uma combinação diferente. Salpicar curry por cima do recheio dá um sabor e cheiro deliciosos à abobrinha. Parmesão também fica ótimo – principalmente quando cai na assadeira e fica torradinho.

Volte ao forno suas barquinhas prontas, agora no fogo baixo.
Derreteu o queijo, está pronto.
Quando for receber alguém, também dá para deixar tudo pronto até a parte do recheio. Na hora, é só colocar no forno.
Ou não.

Ps. Para quem gosta de cozinhar, assistam ao programa “Larica Total”, no Canal Brasil, toda sexta, meia-noite e meia, que é um absurdo de engraçado. Solteiro, já fez os seguintes pratos: YakiSOBRA e Sushi de feijoada! Hilário.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Minha enxaqueca

Dias sem escrever, e uma enxaqueca que não me larga nem me define.
Mas me machuca.

Ontem, achei que o lado esquerdo do meu rosto fosse explodir, tamanha dor.
Pelo que li, enxaqueca é um distúrbio químico no cérebro, desencadeado, sempre, por um estímulo. Mas a definição é abstrata para quem não é médico.

Ontem, o estopim foi meu pai, um serzinho complicado que dedica boa parte da vida dele para questionar a minha vida. Ainda não entendo o motivo. Nem nunca vou entender. As definições também parecem abstratas para mim.

Ele é minha eterna dor de cabeça.
Mas, enxaqueca, eu não quero mais.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Bueno...

Conheci Jurandyr pessoalmente em 1999, quando escrevi matérias sobre o novo Hospital da Unimed, criação apaixonada dele que tinha inspiração nos hospitais alemães. Lembro muito bem ele dizer que a arquitetura poderia ajudar a melhorar o clima horrível de hospital, que geralmente parece um amontoado de leitos.

O arquiteto preferiu construir o hospital particular da cidade de forma horizontal, cheio de jardins que acompanham os corredores e os quartos dos doentes. Em uma das entrevistas, quando visitamos as construções da obra, ele me disse que os quadros na recepção seriam todos pintados por médicos. Na segunda entrevista, em sua bela casa na Vila Universitária, ele me mostrou todo o processo de criação do hospital de uma forma tão natural.

Sua permanência em um hospital em São Paulo, onde ele morreu ontem à noite, foi breve. Seu corpo será velado na USC, uma de suas belas obras, mas poderia ser no Vitória Régia, lugar onde seu nome ainda ecoa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MIND THE GAP!

Sou um bicho trabalhador mesmo. Piro com essa paradeira em que estou. Até minha saúde piora. Preciso ter algo que me faça pensar logo cedo, que eu sei que vai brilhar meu dia, e que vai me acompanhar à noite, quando vou para a cama. Detesto não ter motivos para a minha insônia.

Talvez não seja só pelo trabalho, mas pelo desejo que ele me desperta. Então, acho que sou um bicho apaixonado. Tenho esse defeito de não conseguir enxergar como ofício o que, para mim, é paixão. Já tentei. Não dá.
Por isso que escolhi ser jornalista: você acordar lendo os concorrentes e seu próprio texto, e dorme pensando nas pautas pendentes, na reportagem especial de final de semana, naquela fonte que não retorna sua ligação, na possibilidade de tomar um “furo”...
Dar aula também é um trabalho-paixão: a cada semana, um assunto, vários textos, discussões nem sempre programadas, perguntas que elucidam... Você também acorda e dorme pensando nos alunos.
E a pesquisa, então? Tem semana que você praticamente fica executando partes chatas da tese, mas, em outras, as idéias tomam forma, você vê o que não havia enxergado, descobre que a história está em vários lugares...

Neste gap em que me encontro, decidi assistir a uma defesa de doutorado em Assis. O plano era me programar para o meu dia. Mas, até Ourinhos, fui questionando se estava fazendo a coisa certa. Será que não ficaria ainda mais nervosa depois de ver uma colega sendo questionada?

Pelo contrário.
Para variar, eu sempre pinto o apocalipse para mim. Por não ser historiadora, acreditava que minha tese era menor e, meus problemas, maiores.
Ledo engano.
Todos viram alunos ali. E, os professores, viram PhDeuses querendo mostrar a “leitura” que fizeram dos quatro anos de pesquisa materializados em texto e imagens.
Não se diferencia muito de bancas de TCC e de mestrado, a não ser pelo destaque que sempre se dá ao fato de que, ali, está sendo finalizada uma etapa quase missionária da vida acadêmica.

Por isso, elaborei uma lista das 10 coisas para se fazer no gap entre terminar a tese e o dia da defesa:

1. não lê-la em hipótese alguma.
2. de preferência, deixar seu exemplar com algum amigo de confiança (obrigada, Fá, de novo e sempre).
3. evitar conversar com quem nem imagina o que seja um doutorado.
4. tentar manter distância dos acadêmicos de plantão.
5. não ler nada relacionado ao assunto pesquisado.
6. melhorar a alimentação.
7. programar uma viagem.
8. procurar um novo emprego.
9. planejar a vida.
10. e deixar tudo para depois da defesa....

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Modernamente

Algumas amigas conversando em um barzinho quando uma delas conta que, ao sair para nos encontrar, e ao ver o marido ali, estático no sofá, sem forças para sair de casa e tentar melhorar o verão que está lá fora, avisa, sem pudores: “Vou sair, e, aliás, tenho saído muito sozinha. Se for para ficar sozinha, eu fico sozinha de vez”.
Nós aplaudimos, passadas, a sinceridade da amiga com o marido.

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Em um boteco de Bauru, eu e várias amigas em uma mesa deliciosa com cerveja Original e boa comida. Não tem coisa melhor para se fazer em um sábado à tarde no interior. Avistamos um ex-affair de uma delas. Não o víamos há mais de 15 anos!
Na época, o cara era todo sexo, drogas e rock´n roll – um moço que a gente não apresentava para os pais nem como amigo. Mas, de repente, ele estava diferente, com um quê de gay. Trocamos telefone, abraços, os três, e combinamos de fazer alguma coisa. Conjecturamos que, se ele ligasse para ela, poderíamos confirmar que a impressão era só uma impressão after all.
À noite, o mesmíssimo moço manda uma msg para mim (?), dizendo que eu estava linda demais (?).
Eu e minha amiga, às gargalhadas, ficamos na dúvida: será que ele é gay or straight? Mais: está interessado nela ou em mim?

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Uma amiga manda um torpedo para seu affair. Haviam estado juntos há menos de duas semanas, em um clima gostoso que deixou a vontade de repetir a dose que já era uma dose repetida, e devidamente aprovada.
É complicado comunicar-se em poucas palavras. E as mensagens de celular sempre trazem a angústia de escolher o que escrever. Mas, naquela noite, ela estava ins-pirada. Literamente. A famosa dupla “drink and dial” se apossa de minha amiga, que consegue escolher poucas, mas ótimas frases para dizer que queria vê-lo...
Toda orgulhosa, envia.
Em poucos instantes, vem a resposta: “Putz, seria massa. Mas estou namorando. Bjs”.
Eu e minha amiga, angustiadas, ficamos na dúvida: estaria ele namorando no encontro anterior? Ele foi absurdamente confuso ou ridicularmente sincero?